Queima de biomassa seria a causa
de 18% das emissões antrópicas.
por
CarbonoBrasil/Universidade de Stanford
Novo estudo sugere que a queima de biomassa tem um
papel muito maior nas mudanças climáticas do que se pensava, e, além disso,
seria responsável por até 10% das mortes relacionadas com a poluição do ar.
Um pesquisador da Universidade de Stanford afirma
ter quantificado pela primeira vez o grau da contribuição da queima de biomassa
– como os incêndios florestais, a abertura de terras agrícolas ou o uso de
matéria vegetal como combustível – para as mudanças climáticas e a saúde
humana.
Marc Z. Jacobson, diretor do Programa de Energia e
Atmosfera e professor de Engenharia Civil e Ambiental de Stanford,detalhou suas
conclusões em um artigo publicado na edição
de 30 de julho do Journal of Geophysical Research: Atmospheres.
Ele baseou o estudo em simulações tridimensionais
computadorizadas dos impactos da queima da biomassa e concluiu que os efeitos
têm um papel muito maior nas mudanças climáticas e na saúde humana do que se
pensava.
“Calculamos que entre 5% e 10% da mortalidade
relacionada à poluição do ar ao redor do mundo se deve à queima da biomassa”,
disse o pesquisador. “Isso significa que causa a morte prematura de cerca de
250 mil pessoas a cada ano.”
Em relação ao aquecimento global, Jacobson afirma
que quase 8,5 bilhões de toneladas de CO2 atmosférico, ou cerca de 18% de todas
as emissões antrópicas, vêm da queima da biomassa. Ele lembra que as emissões
totais de dióxido de carbono (CO2) decorrentes das atividades humanas,
excluindo a queima da biomassa, já alcançam 39 bilhões de toneladas anualmente.
Para piorar, as pesquisas mostram que o problema
não é apenas o CO2. Os carbonos negro e marrom, uma fuligem gerada nos
incêndios, maximiza o impacto térmico, fazendo com que a queima da biomassa
cause muito mais aquecimento por unidade de peso do que qualquer outra fonte
associada às atividades humanas.
Essas partículas intensificam o aquecimento
atmosférico de várias formas: se misturam às gotículas de água que formam as
nuvens, que acabam absorvendo a luz solar, criando calor e acelerando a
evaporação. Isso causa a dissipação da nuvem, e consequentemente do seu efeito
de reflexão, permitindo que mais luz solar chegue à superfície e ao oceano.
Os carbonos negro e marrom também se misturam à
neve e ao gelo, contribuindo para o aquecimento, já que a cor branca reflete o
calor, mas com a mistura das partículas, a transição para tons mais escuros
absorve a luz solar, causando maior derretimento. Assim, a superfície exposta
do oceano e do solo, mais escuras, também absorvem mais calor.
Jacobson nota que algumas partículas,
especificamente as brancas e cinzas, podem ter um efeito de resfriamento, pois
refletem a luz solar. Isso deve ser contraposto às etapas de aquecimento
descritas anteriormente.
O pesquisador alerta que o impacto de todos os
gases do efeito estufa antrópicos somados ao carbono negro e marrom,
descontando o efeito de resfriamento das partículas claras, é o aumento das
temperaturas globais em cerca de 0,9ºC ao longo do período de 20 anos simulado
no computador. Desse incremento líquido, os cálculos indicam que 0,4°C são de
responsabilidade da queima de biomassa.
Jacobson também considerou o calor diretamente
gerado pela combustão da biomassa, que contribui para a evaporação das nuvens.
“Determinamos que 7% do aquecimento líquido total
causado pela queima da biomassa – ou seja, 7% do ganho líquido de 0,4° C na
temperatura – pode ser atribuído ao calor direto causado pelos incêndios”,
explicou ele.
Energia
A queima de resíduos agrícolas ou da atividade
madeireira para a geração de energia como uma alternativa tida como
‘sustentável’ ao uso de combustíveis fósseis é criticada pelo estudo como
“parcialmente verdade”. O argumento é de que, por um lado, esses resíduos podem
ser cultivados, processados e convertidos ciclicamente, e, por outro, criam
poluição e fluxos térmicos.
“A conclusão é que a queima de biomassa não é limpa
e nem neutra climaticamente”, enfatizou Jacobson.
Fonte: CarbonoBrasil
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