Conversão de florestas para
pastagens pode afetar propriedades físico-hídricas, químicas e biológicas do
solo.
Mudança de uso pode afetar propriedades
físico-hídricas, químicas e biológicas do solo, tornando-o mais vulnerável.
No Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição
de Plantas, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP,
em Piracicaba, uma pesquisa analisou a influência da transformação floresta –
pastagem nos atributos do solo em área de agricultura familiar no oeste do Estado
do Pará. De acordo com o estudo da gestora ambiental Selene Cristina de Pierri
Castilho, sabendo que a conservação da fauna edáfica (aquela que se desenvolve
no solo) pode auxiliar na manutenção da produtividade de algumas áreas e das
propriedades físicas e químicas do solo, o trabalho teve como objetivo
determinar os efeitos da mudança de uso sobre as propriedades físico-hídricas,
químicas e biológicas do solo e compreender as relações existentes entre a
fauna e os atributos do solo. As mudanças diminuem a resiliência do solo,
podendo torná-lo mais vulnerável.
A pesquisa foi realizada no Projeto de
Assentamento Agroextrativista (PAE) Praialta Piranheira, no município de Nova
Ipixuna (PA). “A escolha da área onde foram realizadas as coletas foi realizada
com base em estudos prévios realizados no Assentamento pelo Insitut de
Recherche pour le developpement (IRD), localizado na França, e pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). A área amostrada foi considerada
representativa dos solos localizados dentro do assentamento, sendo, portanto, a
extrapolação dos dados obtidos nesta localidade para todo o assentamento
aceitável”, comenta a autora do trabalho, que teve orientação do professor
Miguel Cooper, do Departamento de Ciência do Solo (LSO).
De acordo com a pesquisa, foram realizadas
amostragens químicas, físico-hídricas e da macrofauna do solo. “Mais tarde, no
Laboratório de Solos da Facultad de Ciencias Exactas, Físico-Químicas y
Naturales da Universidad Nacional de Río Cuarto (Argentina), sob supervisão do
professor José Camilo Bedano, as amostras de macrofauna foram separadas,
identificadas, quantificadas e mensuradas. Por meio da análise da macrofauna e
das propriedades físico-hídricas e químicas do solo foi possível identificar
como a mudança de uso do solo afeta seu comportamento”, complementa Selene.
Mudanças
No caso estudado, a implantação das pastagens não provocou alterações significativas nos parâmetros mais comumente utilizados para avaliação da qualidade do solo como densidade e porosidade total. “Entretanto, o maior detalhamento das análises físicas mostraram que a conversão de floresta em pastagem provoca redução da umidade, quantidade de macroporos, área total e conectividade entre os poros e índice S, podendo acarretar problemas à circulação de água, gases e nutrientes do solo”. Além disso, prossegue Selene, “a conversão de floresta em pastagem aumenta o teor de Ca, o pH e o teor de MO na pastagem, provocando redução da quantidade de macrofauna na serrapilheira e redução da diversidade de organismos. Estas modificações reduzem a resiliência do solo tornando-o mais vulnerável aos distúrbios”.
A pesquisa desenvolvida na Esalq é parte
integrante de um projeto mais amplo, que conta com a participação de outros
pesquisadores e professores de universidades nacionais e internacionais, e
busca a compreensão da dinâmica físico-hídrica, química e biológica do solo
após a mudança de uso. “A proposta dessa iniciativa é a criação e simulação de
modelos sustentáveis de uso do solo. Estes modelos ajudarão no direcionamento
das escolhas de locais e de manejo mais apropriados para ser adotado pelos
agricultores, visando assim minimizar o impacto dos assentamentos e suas
atividades sobre a floresta, garantindo sua subsistência de maneira adequada”.
A mudança de uso do solo, com retirada da
vegetação nativa e implantação de pastagens provoca alterações nas propriedades
do solo, alterando a produtividade agrícola, os processos de degradação e
erosão levando à graves impactos ambientais. “Como consequência da escassez de suporte
técnico oferecido aos pequenos agricultores assentados em áreas Amazônicas, o
processo de conversão de florestas em pastagens é cada vez maior, agravando a
situação dos solos na região, prejudicando assim a manutenção dos assentados
nas áreas destinadas à sua sobrevivência”, afirma Selene.
O projeto de Selene Cristina de Pierri Castilho
foi desenvolvido Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da
Esalq. O estudo foi financiado com bolsa-doutorado pela Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superio (Capes) e do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além do financiamento das
viagens de campo pela Fundação Agrisus.
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