Para transformar o lixo em
energia.
por Carlos Sanches, para o
Outras Palavras
Tecnologias já existentes permitiriam
converter resíduos orgânicos em biogás — preservando atmosfera, evitando
expansão de aterros e reduzindo extração de combustíveis fósseis.
O lixo que produzimos diariamente, também
chamado, de modo mais técnico, de “resíduos sólidos urbanos – RSU”, tem como
destino final lixões a céu aberto (17,8%), aterros sanitários (58%) e aterros
controlados (24,2%). A quantidade gerada, no Brasil, chega a aproximadamente
200.000 toneladas de lixo por dia, sendo a região Sudeste responsável por quase
metade desse total. Os dados são da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) de 2012, ano da mais recente publicação
sobre o tema.
Diante disso, fica no ar a pergunta: não poderia
ao menos parte desse lixo, esteja ele no lixão ou no aterro, ser utilizado para
gerar energia e, desta forma, reduzir o volume ocupado em seu local de origem?
A resposta é sim.
Antes de mais nada, vamos analisar a sua
composição. O lixo é composto por uma série de materiais que podem ser
separados em dois grupos: orgânicos e recicláveis (várias lixeiras públicas são
rotuladas desse modo). Para simplificar, pense assim: os orgânicos são aqueles
biológicos (“que têm vida”), ou seja, alimentos principalmente, e os
recicláveis são aqueles não biológicos (“que não têm vida”), ou seja,
recipientes em geral (latas, embalagens, sacos, garrafas, etc) e outros.
Os materiais recicláveis geralmente demoram muito
tempo, de meses a anos, para sofrer decomposição e, portanto, liberar algum
tipo de gás ou substância que possa ser aproveitada para gerar energia. Além
disso, a melhor destinação de um material, antes de tornar-se resíduo, seria em
primeiro lugar a sua reutilização, seguida, aí já como resíduo, da sua
reciclagem (incluindo, quando for o caso, a compostagem – tipo de reciclagem do
lixo para posterior utilização como adubo agrícola) – para, só então,
participar do processo de geração de energia.
Já os materiais orgânicos são a parte do lixo que
é decomposta por microorganismos, gerando produtos como gases e substâncias
líquidas tóxicas que, em pouco tempo, podem contaminar o ar, o solo e os
lençóis freáticos. Esses gases é que devem ser objeto de estudo.
A mistura de gases produzida pela parte orgânica
do lixo é conhecida como biogás, cujo principal componente é o gás metano
(CH4), que tem um efeito estufa 20 vezes mais intenso que o gás carbônico. Esse
gás é o principal componente, também, do que chamamos de gás natural, que é
utilizado em alguns veículos e em usinas termelétricas. Ou seja, ele pode ser
queimado para gerar energia a partir de uma determinada fonte que, no caso em
questão, pode ser o lixo que produzimos.
O ideal não é simplesmente queimá-lo para evitar
o seu acúmulo e liberação para a atmosfera e sim utilizá-lo para gerar energia.
Dessa forma, estaríamos contribuindo para gerar eletricidade, de modo
sustentável, para populações que moram próximo aos locais de sua produção, ou
seja, não precisaríamos extraí-lo de alguma reserva fóssil que o contenha e
ainda estaríamos diminuindo o volume de lixo armazenado.
Nesse ponto, é importante colocar uma questão
antiga que existe entre os especialistas da área: a produção de energia a
partir do lixo não vai poluir o meio ambiente, como já fazem outras usinas?
Essa discussão torna-se particularmente relevante se, com a produção de
energia, houver a liberação de gases poluentes na atmosfera. Pode-se dizer que,
hoje, esse problema está bem equacionado, pois esse tipo de usina utiliza
filtros que evitam, ou pelo menos mitigam o lançamento desses gases para o meio
externo.
Portanto, politicas públicas e parcerias
público-privadas deveriam ser implementadas com mais ênfase no país para tornar
esse modo de produção de energia viável, principalmente do ponto de vista
econômico. Países europeus, Estados Unios e Japão estão muito mais avançados
nessa área.
Esse tipo de produção de energia, desde que
viável, com certeza ajudaria tanto em questões energéticas quanto na questão da
destinação final dos resíduos sólidos urbanos, o lixo nosso de cada dia.
Fonte: Outras
Palavras
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