Fatores demográficos e ambientais
favorecem vírus emergentes que ameaçam humanos.
Foto: AFP/BBC Brasil
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), 154 novas doenças virais foram descobertas entre 1940 e 2004, das
quais três quartos são infecções transmitidas do animal para o ser humano.
Vírus como os da Aids, da Sars, do H1N1 e do
Ebola ocupam com frequência as primeiras páginas dos jornais, impulsionados
pela pressão demográfica, pelas mudanças climáticas e por fenômenos
migratórios. Matéria de Elisabeth Zingg, da AFP, no Yahoo Notícias.
“As doenças virais emergentes estão em ascensão,
principalmente por causa da densidade e da mobilidade das populações”, resumiu
Arnaud Fontanet, encarregado da unidade de Epidemiologia das Doenças Emergentes
do Instituto Pasteur, em Paris.
A opinião do especialista é compartilhada por
Jean-François Delfraissy, diretor da Agência Nacional de Pesquisas sobre a
Aids, que destaca que os vírus emergentes “chegam, fundamentalmente, dos países
do sul, ou seja, da Ásia ou da África” e sua propagação para o resto do mundo é
facilitada pelas viagens de avião.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 154
novas doenças virais foram descobertas entre 1940 e 2004, das quais três
quartos são infecções transmitidas do animal para o ser humano (zoonoses). Este
foi o caso do vírus da Aids, transmitido aos homens pelos chimpanzés na África,
provocando uma das epidemias mais mortais dos últimos cinquenta anos, que já
deixou 40 milhões de mortos.
As doenças emergentes também podem ser causadas
por “mutações ou recombinações virais”, observadas particularmente nos vírus da
gripe.
- Reserva animal -
Um vírus pode, finalmente, “emergir” em uma
região onde até então estava ausente porque as doenças e os animais
atravessaram fronteiras e alcançaram populações não imunizadas, tornando-se,
assim, mais virulentas: o melhor exemplo continua sendo o do vírus do Nilo
Ocidental, transmitido pelos mosquitos.
Isolado em 1937 em Uganda e detectado depois no
Oriente Médio nos anos 1950, o vírus chegou em 1999 na América do Norte, onde
se propagou rapidamente, deixando centenas de vítimas, geralmente falecidas por
meningite ou encefalite.
Antes de atacar o ser humano, os vírus podem
permanecer muito tempo confinados em uma reserva animal, geralmente aves
selvagens ou morcegos, destacou Fontanet.
Para ir mais longe, precisam de “hospedeiros
intermediários” mais próximos do homem, como o porco, as aves de criação ou os
mosquitos, além de condições favoráveis.
A gripe aviária H5N1 surgiu no sul da China, em
regiões fortemente povoadas e de forte densidade avícola.
O coronavírus causador da Sars (síndrome
respiratória aguda grave), responsável por uma crise sanitária mundial em 2003,
que deixou 800 mortos, principalmente na Ásia, aparentemente migrou do morcego
para o homem através das ginetas (“Genetta genetta”), pequenos mamíferos
carnívoros servidos nos restaurantes de Cantão.
- Mudanças climáticas -
O desmatamento leva a uma aproximação dos animais
selvagens das zonas habitadas, enquanto as mudanças climáticas favorecem a
multiplicação de mosquitos em regiões onde eram desconhecidos anteriormente.
Este é o caso do vírus da dengue e da
chikungunya, transmitidos por dois mosquitos – “Aedes aegypti” e “Aedes
albopictus” -, muitas vezes circunscrito ao sudeste asiático, mas atualmente
está implantado no continente americano e em parte da Europa, inclusive no sul
da França.
Segundo Fontanet, todas as condições estão
reunidas para que a febre chikungunya, inicialmente surgida na África oriental
e na Índia, e que atualmente afeta o Caribe, se propague em todo o continente
americano.
Quanto ao vírus Ebola, descoberto em 1976 em dois
surtos simultâneos no Sudão e na República Democrática do Congo, não preocupava
os especialistas até a epidemia atual.
“Anteriormente, a infecção estava limitada a
alguns poucos povoados e havia uma mortalidade tal que o vírus se esgotava e a
epidemia se detinha sozinha”, explicou Delfraissy.
Ao alcançar cidades de vários países do oeste da
África, o vírus se tornou uma ameaça para as populações afetadas, confrontadas
com sistemas de saúde muito deficientes, apesar de que só se transmite por
contato direto com pessoas infectadas e não por via respiratória, como foi o
caso do Sars.
Segundo especialistas, por esta razão, o Ebola
tem poucas chances de se espalhar para outras regiões do mundo.
“Se os meios necessários forem dedicados e os doentes,
isolados, a epidemia deve poder ser contida em um prazo de 3 a 6 meses”,
afirmou Fontanet.
Fonte: Yahoo Notícias
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