As cidades não se comunicam com
os pedestres.
Foto:
Luiz Augusto Lucas/SMCS
Diante de ruas que só falam aos carros,
campanha pede que autoridades pensem em sinalizações para os não motorizados.
O leitor já deve ter se deparado com a seguinte
situação ao caminhar por ruas e avenidas de qualquer cidade brasileira: você
precisa chegar a algum lugar, um determinado endereço que sabe estar próximo.
Procura uma placa de sinalização, muitas vezes inexistente, mas ao finalmente
encontrá-la, ela aponta um caminho, mas… que caminho?
Você sabe que essa localidade está à sua
esquerda, mas a placa aponta a necessidade de pegar a direita e fazer uma
conversão mais à frente. Se você está a pé, que sentido faz isso? Nenhum,
claro. O que acontece é que essa sinalização não “fala” com o pedestre. Ela se
dirige, exclusivamente, aos seres devidamente motorizados.
Esse não é um caso isolado. Cerca de 90% de toda
a sinalização existente em nossas cidades são dirigidas para motoristas, ou
seja, para um público que, nem ao menos representa a maioria dos deslocamentos
nas cidades.
Uma recente pesquisa divulgada pelo Datafolha em
São Paulo constatou que o ônibus é o principal meio de transporte diário das
pessoas, com 79% das respostas. Em seguida vem o metrô, com 39%, e só em terceiro
lugar aparecem os carros, com 17%, um pouco à frente dos usuários de vans,
lotações e peruas, com 13%. Ainda segundo a pesquisa, 7% dos entrevistados
disseram andar apenas a pé.
Uma campanha do portal Mobilize especializada em
mobilidade urbana e denominada Sinalize
quer contribuir para mudar essa realidade.
Para os organizadores do movimento, o objetivo
não é “encher as cidades de placas” que, obviamente, contribuiriam para uma enorme
poluição visual, mas buscar melhor interação e conforto para pedestres,
ciclistas e usuários de transporte público.
Aliás, outra questão apontada pelo Mobilize é
exatamente a atenção que se dá aos passageiros de ônibus que, em geral, é
nenhuma! Basta estar em algum ponto de ônibus e tentar descobrir quais linhas
passam por ali, os respectivos itinerários e indicação de locais de interesse
como hospitais, serviços públicos diversos e pontos turísticos.
Também de modo geral os ciclistas não são contemplados
com placas específicas para esses usuários, com exceção a locais perigosos nos
quais os riscos de acidentes são enormes.
Os cuidados, então, com a segurança dos
deficientes visuais, como a instalação de sinais sonoros, é praticamente
inexistente. Fato que prejudica demais a mobilidade e a independência colocando
em risco a própria integridade física dessas pessoas.
Várias cidades do mundo, como Londres, Nova York
e Paris, já possuem uma série de sinalizações positivas que contribuem para
melhorar e facilitar a vida das pessoas. São totens estrategicamente
localizados, mapas e indicações de pontos de interesse que ajudam muito os
pedestres a se movimentar com rapidez e segurança nessas metrópoles.
No Brasil temos um longo caminho pela frente e
muitos desafios. São inúmeras as ações necessárias para tornar uma cidade mais
humana, amigável e próxima dos cidadãos. E, sem dúvida, aquelas que levem a
inclusão e o respeito contribuem muito para uma vida mais feliz e equilibrada.
* Reinaldo Canto é
jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e
pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas
principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação
do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo
Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e
parceiro da Envolverde, professor em Gestão Ambiental na FAPPES e palestrante e
consultor na área ambiental.
Fonte: Carta
Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário