Abelhas vigiadas.
por
Dinorah Ereno, da Agência Fapesp
Zangão da espécie Apis mellifera africanizada com
microssensor colado no tórax. Foto: Vale/CSIRO.
Revista Pesquisa Fapesp – A população de abelhas
registra um expressivo declínio em vários países, inclusive no Brasil. Em
agosto do ano passado, a revista Time trazia na capa um alerta para o risco de
desaparecimento das abelhas melíferas, com a chamada “O mundo sem abelhas” e o
alerta: “O preço que pagaremos se não descobrirmos o que está matando as melíferas”.
O desaparecimento das fabricantes de mel preocupa
não só pela ameaça à existência desse produto, mas também porque as abelhas têm
chamado a atenção principalmente pelo importante papel que representam na
produção de alimentos. Não é para menos. Elas são responsáveis por 70% da
polinização dos vegetais consumidos no mundo ao transportar o pólen de uma flor
para outra, que resulta na fecundação das flores.
Algumas culturas, como as amêndoas produzidas e
exportadas para o mundo inteiro pelos Estados Unidos, dependem exclusivamente
desses insetos na polinização e produção de frutos. A maçã, o melão e a
castanha-do-pará, para citar alguns exemplos, também são dependentes de
polinizadores.
Entre as prováveis causas para o desaparecimento
das abelhas estão os componentes químicos presentes nos neonicotinoides, classe
de defensivos agrícolas amplamente utilizados no mundo.
Além de pesticidas, outros fatores, como mudanças
climáticas com maior ocorrência de eventos extremos, infestação por um ácaro
que se alimenta da hemolinfa (correspondente ao sangue de invertebrados) das
abelhas, monoculturas que fornecem pouco pólen como milho e trigo e até
técnicas para aumentar a produção de mel, podem ser responsáveis pelo fenômeno
conhecido como distúrbio de colapso de colônias (CCD, na sigla em inglês), que
provoca a desorientação espacial desses insetos e morte fora das colmeias. O
distúrbio já provocou a morte de 35% das abelhas criadas em cativeiro nos
Estados Unidos.
Na busca por respostas que ajudem a combater o problema,
o Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, no Pará, desenvolveu em
colaboração com a Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e Industrial
(CSIRO), na Austrália, microssensores – pequenos quadrados com 2,5 milímetros
de cada lado e peso de 5,4 miligramas –, que são colados no tórax das abelhas
da espécie Apis mellifera africanizada (abelhas com ferrão resultantes de
variedades europeias e africanas) para avaliação do seu comportamento sob a
influência de pesticidas e de eventos climáticos. Uma parte do experimento está
sendo conduzida na Austrália e a outra no Brasil.
No estado australiano da Tasmânia, ilha ao sul do
continente da Oceania, será feito um estudo comparativo com 10 mil abelhas para
avaliar como elas reagem quando expostas a pesticidas. Para isso, duas colmeias
foram colocadas em contato com pólen contaminado e outras duas não. “Se for
notada qualquer alteração no comportamento dos insetos expostos ao pesticida,
como incapacidade de voltar para a colmeia, desorientação ou mesmo morte
precoce, o produto passará a ser o principal suspeito do distúrbio de colapso
de colônias”, diz o físico Paulo de Souza, coordenador da pesquisa e professor
visitante do ITV.
O projeto foi iniciado em setembro do ano passado e
seu término está previsto para abril de 2015, com a divulgação dos resultados
no segundo semestre. “A principal razão para a escolha da Tasmânia é que se
trata de um ambiente distinto, onde não há poluição e metade do território é
composta por florestas”, diz Souza, que também é professor da Universidade da
Tasmânia.
Como as melíferas australianas pesam em torno de
105 miligramas, o sensor representa cerca de 5% do seu peso. Já as abelhas da
mesma espécie que vivem no Brasil pesam cerca de 70 miligramas – o que levou os
pesquisadores a fazerem testes em túneis de vento para avaliar se o sensor
poderia ter influência sobre a sua capacidade de voo. “Avaliamos a batida das
asas e a inclinação do corpo em abelhas com o sensor e sem ele, e verificamos
que não houve alteração na capacidade de voar”, diz Souza.
A parte do experimento que está sendo feita no
Brasil tem como foco inicial o monitoramento de 400 abelhas durante três meses
para avaliar em que medida as mudanças do clima, principalmente a alteração do
regime de chuvas na Amazônia, afetam os insetos.
“Não sabemos como elas vão se comportar diante das
projeções de aumento da temperatura e de alterações no clima devido ao
aquecimento global”, diz Souza. Os estudos estão sendo feitos em um apiário no
município de Santa Bárbara do Pará, próximo a Belém.
Leia a reportagem completa aqui.
Fonte: Agência Fapesp
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