Atividade Econômica em Bases
Ecológicas, artigo de Marcus Eduardo de Oliveira.
Se olharmos o sistema econômico retratado pelo
fluxo circular da riqueza, no qual famílias e empresas interagem comprando bens
e serviços (consumo) e fazendo pagamentos a fatores produtivos (rendimentos),
presenciaremos a ausência do meio ambiente, dos recursos naturais, da
existência de poluição (no descarte de produtos), da depleção dos serviços
ecossistêmicos.
O que fica enaltecido diante desse fluxo é a
incidência de uma economia completamente isolada dos fatores ecológicos,
distante da natureza, como se tudo, em termos de produção, ocorresse dentro de
uma caixa fechada, sem introdução de energia e matéria.
Na verdade, o que ocorre é que a economia
convencional não “enxerga” os fatores da natureza. Mesmo diante de toda essa
dificuldade por parte da economia tradicional em reconhecer a dependência dos
fatores ecológicos, uma premissa é absolutamente inquestionável: toda atividade
humana (e econômica, por conseguinte) repousa no ecossistema de duas maneiras.
Essas maneiras são: 1) pela extração de recursos naturais para “alimentar” a
atividade econômico-produtiva; ou 2) no descarte de dejetos (resíduos) sob a
forma de matéria ou energia degradada (dissipada).
Parte desse pressuposto a necessidade premente em
se respeitar limites ambientais, uma vez que o processo econômico opera dentro
de um subsistema maior, aberto, chamado meio ambiente (ecossistema natural
finito). É assim que “funciona” a atividade econômica, numa relação íntima com
a natureza.
Dito de outra forma, essa relação
economia-ecologia está implícita ao se pensar a atividade econômica nos marcos
da produção e consumo, ou seja, transformando recursos brutos em mercadorias e,
depois, descartando, jogando no lixo (poluindo). Esse processo exige energia,
e, como é de conhecimento geral, energia não pode ser reciclada.
Essa premissa aqui mencionada, nos dizeres de
Clóvis Cavalcanti (1), aponta que a realidade da vida mostra que qualquer
atividade humana se assenta em bases ecológicas, representadas por fluxos de
energia e de materiais que alimentam todos os empreendimentos que se queiram
efetuar. É nisso que consiste a compreensão biofísica ou termodinâmica do
processo econômico.
Continua Cavalcanti aduzindo que se trata, pois,
de uma compreensão termodinâmica porque como qualquer atividade significa uma
transformação de energia – é assim que os seres humanos sobrevivem, como se
sabe da biologia ao converter comida, ou seja, energia química, em movimento,
isto é, energia mecânica, cabendo ao capítulo da física (ciência) que estuda o
campo das transformações energéticas explicar as regras sob as quais isso
acontece.
Inexoravelmente então, toda a atividade econômica
“funciona” sob as bases da ecologia. O ato econômico (produção/consumo) carrega
em si uma dimensão ecológica. A mesma palavra grega (“oikos”, eco), – “casa”,
em sua origem etimológica -, que dá origem à Economia, também está na raiz do
termo Ecologia.
É oportuno destacar que a ecologia sempre foi
pensada como uma “economia da natureza”. O economista francês Franck-Dominique
Vivien escreve que nos anos 1930, quando se torna uma disciplina acadêmica, os
primeiros professores se referiam à ecologia como uma extensão da economia para
todo o mundo vivo.
A economia sempre esteve dentro da ecologia,
dentro da biosfera que serve de suporte ao processo econômico. Assim sendo,
nada mais natural (com o perdão do trocadilho) que enxergar a economia como um
subsistema de algo maior: do meio ambiente, com o qual interage. O sistema econômico
sempre esteve (e jamais poderá deixar de estar) inserido no sistema ecológico.
A atividade econômica sempre esteve e sempre estará “funcionando” sob as bases
ecológicas.
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(1) CAVALCANTI, Clóvis. Uma Tentativa de Caracterização da Economia Ecológica – Ambiente e Sociedade – Vol. VII n° jan/jun.2003.
(1) CAVALCANTI, Clóvis. Uma Tentativa de Caracterização da Economia Ecológica – Ambiente e Sociedade – Vol. VII n° jan/jun.2003.
Marcus
Eduardo de Oliveira, Articulista do Portal EcoDebate, é economista e
professor de economia na FAC-FITO e no UNIFIEO, em São Paulo.
prof.marcuseduardo@bol.com.br
prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: EcoDebate
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