Brasil poderia satisfazer toda a
sua demanda de alimento até 2040 sem derrubar mais árvores.
Uma utilização mais eficiente das suas vastas
áreas de pastagens poderia permitir que o Brasil aumentasse drasticamente a
produção agrícola sem a necessidade de destruir um único hectare de floresta
amazônica, de cerrado ou de mata atlântica. É o que defende um novo estudo
publicado pela revista Global Environmental Change.
A reportagem é do sítio SalvaLeFloreste.it,
11-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Criando modelos do potencial produtivo agrícola,
um grupo de pesquisadores do Instituto Internacional para a Sustentabilidade,
agência de pesquisa agrícola do Brasil, Embrapa, e da agência da pesquisa
espacial nacional, INPE, demonstrou que o Brasil poderia converter mais de 30
milhões de hectares de terras atualmente utilizadas para pastagem em culturas
mais produtivas, aumentando a produção agrícola em geral.
“A nossa análise mostra que o Brasil já dispõe de
terras suficientes para absorver a maior expansão da produção agrícola em todo
o mundo nas próximas três décadas, sem que seja necessário derrubar um único
hectare de áreas naturais”, disse o autor do estudo, Bernardo Strassburg,
professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e
diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade.
“A solução é aumentar a produtividade das áreas
dedicadas à pastagem. Hoje, usamos apenas um terço do potencial do nosso pasto,
e se usássemos apenas a metade em 30 anos poderíamos aumentar a produção de
carne em 50% e liberar 32 milhões de hectares de terras para outras culturas,
como a soja e as florestas plantadas.”
“Se formos capazes de chegar a 70% do potencial,
poderemos outros 36 milhões de hectares para restaurar importantes áreas nativas
e para garantir o fornecimento de água e de outros serviços ambientais que são
essenciais para a indústria agroalimentar, para a produção de energia e para a
economia brasileira.”
Essa transformação exigiria uma melhoria do
planejamento, melhores técnicas de gestão, assistência técnica e financiamentos
para os agricultores.
Os pesquisadores estimam que o aumento da
produtividade de 115 milhões de hectares de pastagem do gado existente em cerca
de 50% para cerca da metade da sua capacidade teórica de carga poderia
economizar até 14,3 bilhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono.
Conclui-se que aumentos semelhantes de produtividade podem ser possíveis em
outros países.
“O fato de que o país, prestes a sofrer a maior
expansão da produção agrícola nas próximas décadas, possa fazer isso sem mais
conversões dos habitats naturais levanta a questão de saber se o mesmo pode
acontecer em outros contextos regionais e, em última instância, em escala
global.”
Citação:
Bernardo B.N. Strassburg et al. When enough should be enough:
Improving the use of current agricultural lands could meet production demands
and spare natural habitats in Brazil. Global Environmental Change, n. 28,
2014, p. 84-97. Disponível aqui, em
inglês.
Fonte: IHU On-line
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