PA: Ribeirinhos recebem
treinamento para produzir tecido emborrachado.
Equipe do Laboratório de
Tecnologia Química da UnB apresenta nova técnica de emborrar tecido aos
artesãos de Jamaraquá, no oeste do Pará
O sol ainda estava
escondido na serra da Floresta Nacional do Tapajós (PA), quando o seringueiro
Donildo Lopes dos Santos, de 52 anos, saiu para colher o látex que seria usado
na primeira apresentação do Tecido Emborrachado da Amazônia – TEA.
Dido, como é
conhecido na comunidade de Jamaraquá, a 70 quilômetros de Santarém, contava as
horas para conhecer a nova técnica de emborrachar tecidos desenvolvida pelo
Laboratório de Tecnologia Química, da Universidade de Brasília (Lateq/UnB).
“Estamos ansiosos e entusiasmados para ver como vai funcionar”, afirmou.
Há dez anos, o
seringueiro participou do primeiro projeto do laboratório na região e,
juntamente com outros artesãos locais, mantém até hoje a fabricação da Folha Semi-Artefato (FSA), uma manta de
látex usada para fazer biojoias, capas de cadernos, entre outros utensílios.
Nesta segunda
experiência, que aconteceu entre os dias 21 e 25 de julho, uma equipe de quatro
pesquisadores do Lateq, coordenada pelo professor Floriano Pastore Júnior,
lançou o novo método de emborrachar tecidos e treinou dezessete comunitários.
A técnica
permitirá maior produtividade e pode reduzir riscos à saúde se comparada a
alguns métodos já utilizados, pois elimina a secagem por defumação. “Primeiro,
no laboratório, tentamos mergulhar o tecido em látex, mas substituímos pela
pulverização, que garante cobertura mais homogênea e menos espessa. Isso torna
mais versátil, pois facilita a costura e o manuseio. A vulcanização acontece
por meio da mistura química e não mais por defumação”, explica pesquisador
Douglas Ochoa.
No processo de
fabricação do TEA, os tecidos são estendidos em uma espécie de moldura e
fixados nas pontas. Esses quadros recebem uma mistura de látex, vulcanizante e
pigmento. São usadas duas estufas: uma para pintura, e outra para secagem. “A
cabine de secagem foi confeccionada de cor escura para facilitar a absorção dos
raios solares e assim elevar a temperatura interna sem precisar de uma fonte de
energia não renovável ou de difícil acesso”, conta Ochoa, ao lembrar que a
produção pode chegar a oito m² de tecido emborrachado por dia.
CRIATIVIDADE
– Além de ensinar a fazer o TEA, os pesquisadores levaram moldes de bolsas,
pastas e porta-tablet. Logo nos primeiros dias de treinamento, os artesãos
também propuseram novas utilidades para o tecido, como porta-passaportes e
nécessaires. “Não temos a pretensão de impor um processo acabado. Trazemos uma
ideia, vocês irão adaptá-la à realidade local”, afirmou o coordenador do
projeto, Floriano Pastore.
“As possibilidades
são infinitas. Na última etapa da pulverização, quando o tecido ainda estiver
com a propriedade adesiva, podemos colocar sementes ou mesmo texturas e
desenhos”, completou o pesquisador João Peres. Também participaram do projeto
as alunas de Química Thaís Lino e Daniele Araújo.
IMPACTO
LOCAL - Ao todo, 28 famílias moram na comunidade Jamaraquá, dentro da
Flona Tapajós. Como a média de integrantes de cada família é de cinco pessoas,
o TEA pode representar uma fonte complementar de renda para mais de 140 ribeirinhos.
“Queremos agregar os jovens ao grupo de artesãos, pois é o futuro deles”,
ressaltou Iranice Rodrigues, líder da associação de moradores de Jamaraquá.
Aos 35 anos e mãe
de sete filhos, Nice ajuda a manter os filhos com o artesanato da borracha e há
dois anos voltou a estudar. “Eu tinha vergonha de ir à escola. Foi muito
difícil, mas quero continuar. Não vou desistir”, afirma.
Para a diretora do
Instituto de Estudos Integrados Cidadão da Amazônia (INEA), Rosenilda
Rodrigues, a nova técnica tem um valor agregado maior do que os outros produtos
fabricados com a manta de látex.
“Espero que eles
dominem e gostem do novo método. Assim, poderemos oferecer no mercado,
respeitando o tempo de apropriação de cada um. O desenvolvimento da Amazônia é
possível, mas a partir do ritmo de vida de cada morador”, registou Rosenilda,
responsável pela assistência técnica e administrativa aos artesãos.
SISTEMA
PRODUTIVO - No dia 17 de julho, com a presença do ministro da
Embaixada da Suíça, Jean-Pierre Reymond, o sistema produtivo, composto por duas
estufas e um pulverizador, foi doado à comunidade. Financiado pela Embaixada da Suíça,
o projeto também contou com o apoio da Universidade Federal do Oeste do Pará
(Ufopa), responsável pelo manejo das seringueiras. Participaram ainda o
Instituto de Estudos Integrados Cidadão da Amazônia (INEA), que fornece
assistência técnica à comunidade, e o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), administrador da Flona Tapajós.
Fonte: UnB Agência
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