Faltam líderes para enfrentar
crise ecológica e ambiental, diz Sérgio Besserman.
Para Besserman, as
populações menos favorecidas são as que mais sofrem os efeitos do desequilíbrio
ambiental e consequências como o aquecimento global e a falta de água. Foto:
Divulgação
Vivemos um período especial da história. Nos
próximos 20 a 30 anos, a humanidade terá de fazer escolhas inéditas sobre o
futuro que desejará ter, quais os valores que serão passados para as próximas
gerações, como produzir e consumir, e como deixará o planeta para a
sobrevivência de seus semelhantes e descendentes.
A atual escassez de lideranças, seja nos níveis
local, regional ou global, deve ser uma preocupação, pois, por meio delas é que
seria possível enfrentar as crises ecológica e ambiental, que já começam a
causar graves consequências sociais (tempestades, inundações, furacões,
estiagens prolongadas, etc) em todo o mundo. Sem falar nas guerras e sérios
conflitos armados entre países, diante dos quais as estruturas das Nações
Unidas se mostram frágeis.
Estas observações foram feitas por Sérgio
Besserman, economista, ambientalista, professor de economia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), ex-diretor do Banco Nacional
de Desenvolvimento Social (BNDES), ex-presidente do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e membro do Conselho Diretor da WWF Brasil, na
palestra proferida na quarta-feira, 30 de julho, no segundo dia do Seminário
Sebrae de Sustentabilidade em Cuiabá.
O tema da palestra foi “Liderança e Gestão
Sustentável”. Cerca de 350 pessoas estiveram presentes no Centro de Eventos do
Pantanal. Desde a Revolução Industrial, os hábitos e o modo de vida da
sociedade humana mudaram totalmente, disse Besserman. Se por um lado se passou
a viver mais, devido ao desenvolvimento científico que gerou antibióticos e
vacinas, por outro a produção industrial e o consumo cresceram velozmente,
especialmente no século 20, sem considerar o ritmo da natureza para repor os
recursos naturais (matérias primas).
A ciência econômica não se preocupava com o
capital natural e o tratava como bem infinito, até que por volta da segunda
metade do século 20 os cientistas começaram a apresentar estudos sobre o ritmo
insustentável do crescimento econômico e da população mundial.
Questão social
Para Besserman, as populações menos favorecidas
são as que mais sofrem os efeitos do desequilíbrio ambiental e consequências
como o aquecimento global e a falta de água. As mudanças climáticas, que devem
provocar o aumento da temperatura na Terra em 2 graus, nos próximos anos, e a
extinção acelerada de espécies são sinais de muitos problemas pela frente.
Para a economia, é certamente uma grande
preocupação, pois as matérias primas serão cada vez mais caras, escassas e os
processos produtivos terão de se tornar muito mais eficientes. Ficará muito
mais difícil ser competitivo e ter um negócio sustentável.
“Os economistas se esqueceram de que não existe
almoço grátis”, disse Besserman, brincando. “Achamos que podíamos usar os
recursos naturais sem se preocupar, que nunca iam faltar. Pensávamos que seria
possível sempre substituir capital natural por capital humano, que a tecnologia
resolveria tudo. Era uma ideia imbecil, fruto da onipotência narcísica do
homem”, disparou.
Perdendo a guerra
O palestrante citou as grandes conferências da
ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável – Estocolmo (1972),
Rio-92 e Rio+20 – como marcos dos debates mundiais sobre o tema. Ele lamenta
que apesar das informações, dos alertas dos cientistas, dos estudos que apontam
os perigos do aquecimento global e da extinção acelerada das espécies, países,
governos e mercado continuam encarando devagar os problemas.
“Estamos longe de ganhar esta guerra”, enfatizou
Besserman. Ele se referiu ao estudo Limites da Terra, da Universidade de
Estocolmo de 2009, segundo o qual doze limites do planeta estão sendo
ultrapassados. Três deles e mais graves são: escassez de nitrogênio no solo,
mudanças climáticas e crise da biodiversidade.
Tempos distintos
Segundo geólogos, os impactos que a humanidade
está promovendo e possíveis consequências equivaleriam a cinco dos maiores
apocalipses da história, citou o economista. “No nosso curtíssimo tempo de
existência, estamos provocando uma severa crise na natureza”, resumiu.
O tempo da natureza e do cosmos é outro e não
significa que o homem vai destruir o planeta, acrescentou. Estamos dificultando
o futuro e a nossa própria sobrevivência. Em termos de oportunidades para os
negócios, Besserman falou que nos próximos dez a vinte anos, haverá uma janela
pequena de escolhas. O momento de tentar recuperar o que foi perdido já se foi.
De agora em diante, resta procurar se adaptar e ser recipiente às mudanças que
vão ocorrer. As principais consequências serão sentidas na agricultura, nas
cidades e na saúde.
As grandes empresas estão estudando as mudanças
climáticas e planejando seus negócios e investimentos de acordo com as
previsões de temperatura e transformações de culturas e processos produtivos.
Os pequenos negócios precisam se preparar também. “Vamos escolher continuar a
fazer negócio como fazemos e deixar a temperatura do planeta subir até 6 graus
ou vamos mudar tudo?”, provocou Besserman.
Taxação dos serviços
Ele finalizou a palestra sugerindo a inserção do
custo do aquecimento global nos produtos e serviços. “Não tem outra saída.
Consumo consciente é bom para resolver o atrito, mas preço é o que resolverá”,
ressaltou.
Para o economista, ao pagar pelo custo do
aquecimento do planeta, consumidores e empreendedores iriam exigir que
lideranças regionais, nacionais e globais surgissem e atuassem contra as
mudanças climáticas e a crise da biodiversidade de maneira concreta. “A crise
ecológica e ambiental causará problemas humanos principalmente para os mais
pobres. Será uma crise social”, profetizou.
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