Hidrelétricas podem alagar parque
nacional na Amazônia.
por
Redação WWF Brasil
Tema de campanha do WWF-Brasil, as possíveis obras
colocam em risco a biodiversidade e as populações indígenas isoladas do bioma.
Decisão será debatida em conselho federal, dia 24 de junho, sem a sociedade
civil.
Brasília (DF) - O Conselho Nacional de Politica Energética
– CNPE se reúne dia 24 de junho em Brasília, quando poderá declarar como de
“utilidade pública” parte do Parque Nacional do Juruena, localizado na divisa
entre o Mato Grosso e o Amazonas. Com quase 2 milhões de hectares, o Juruena é
o quarto maior parque nacional do país. Ele representa 2,5% da área abrangida
por unidades de conservação federais na Amazônia Legal e 5,3% das áreas
protegidas como parques nacionais na região. O parque faz parte do Programa
Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia), que financiou parte das ações para sua
implementação.
A declaração de utilidade pública (DUP) é o
primeiro passo para permitir a redução da área protegida para a construção das
usinas hidrelétricas de São Simão Alto e Salto Augusto Baixo. Elas são parte de
uma série de sete hidrelétricas que o governo planeja cravar na Bacia do
Tapajós, com alto impacto socioambiental.
Para alertar a sociedade sobre essas ameaças ao
Parque Nacional do Juruena e à Bacia do Tapajós, o WWF-Brasil lançou neste mês
a campanha SOS Juruena. A iniciativa pede o apoio da sociedade para
pressionar o governo e não permitir a construção das hidrelétricas dentro do
Parque Nacional do Juruena e assim garantir que esta Unidade de Conservação se
mantenha íntegra.
Se construídos, os reservatórios das duas usinas
inundarão mais de 40 mil hectares no Parque Nacional do Juruena, no Parque
Estadual Igarapés do Juruena e nas terras indígenas Escondido e Apiaká do Pontal,
no Mato Grosso. No Amazonas, poderão ser atingidas porções do Parque Estadual
do Sucunduri, além de terras indígenas.
“Esse mosaico de áreas protegidas é fundamental
para frear o desmatamento, a ocupação desordenada e a grilagem de terras que se
expandia de forma agressiva a partir de Mato Grosso em direção ao Amazonas,
antes das áreas serem criadas”, lembra Marco Lentini, coordenador do Programa
Amazônia do WWF. Segundo ele, a região é de extrema importância biológica para
aves, mamíferos, répteis, anfíbios e espécies da flora ameaçadas de extinção.
“O Brasil tem o compromisso internacional de proteger essas espécies”, diz o
especialista.
Aquáticos - De acordo com os estudiosos, a saúde dos
ecossistemas aquáticos no Rio Juruena – assim como em toda a Amazônia – depende
dos ciclos anuais de inundação e seca, que influenciam a formação de ambientes
adequados para alimentação e reprodução de peixes, tartarugas e botos. O
barramento do Rio Juruena para implantação das usinas de Salto Augusto e São
Simão poderá alterar a vazão dos rios e causar o isolamento ou o
desaparecimento de alguns ambientes, que ficarão permanentemente alagados ou
não terão água suficiente para serem formados.
A área prevista para ser inundada também serve de
abrigo para diversos grupos indígenas, inclusive alguns que vivem em total
isolamento no meio da floresta. No caso dos índios e comunidades tradicionais,
ressalta Lentini, qualquer ação que possa afetá-los deve ser precedida de
Consulta Prévia ou o Consentimento Livre, Prévio e Informado, conforme
determinam a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT,
assinada pelo Brasil desde 2004, e a Declaração dos Direitos dos Povos
Indígenas da ONU de 2006.
Às escuras - Presidido pelo Ministério de Minas e
Energia, o CNPE assessora a Presidência da República na formulação de políticas
e diretrizes de energia para todo o país. Criado em 1997, o Conselho prevê a
participação da sociedade civil e da academia desde 2006. Até hoje, porém,
essas vagas não foram preenchidas.
Em busca de participação nas decisões do CNPE, um
grupo de organizações da sociedade civil enviou no ano passado uma carta ao
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, pedindo esclarecimentos sobre a
falta de representatividade civil no conselho. O documento apontava a falta de
transparência do órgão, cujas pautas não são divulgadas antecipadamente e as
atas são conhecidas somente meses após cada reunião.
“Não houve resposta e as decisões do conselho
continuam a ser tomadas sem o debate com a sociedade”, disse Jean Timmers,
superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.
Para Timmers, é inaceitável que áreas protegidas
criadas mediante exaustivos estudos socioambientais, acordos políticos entre
governos e setores produtivos, indispensáveis à manutenção de serviços
ambientais e ao cumprimento pelo país de compromissos internacionais para a
conservação da biodiversidade, tenham sua integridade ameaçada por decisões
unilaterais de conselhos exclusivamente governamentais. Ele defende a abertura
da discussão sobre a política energética brasileira para toda a sociedade, com
debate qualificado, transparente e democrático.
Para o superintendente, “sustentabilidade pressupõe
transparência e participação social ampla, de forma a garantir equilíbrio entre
fatores econômicos, sociais e ambientais na formulação de políticas públicas,
na tomada de decisões e nas ações que afetem o conjunto ou parte do território
e dos brasileiros”.
Alerta verde - A construção de hidrelétricas sem a
avaliação das alternativas existentes e debate amplo com a
sociedade aumentam desmatamentos, degradação socioambiental, alagamentos e
barramentos desnecessários de rios. Em regiões bastante preservadas da
Amazônia, como a Bacia do Tapajós, esses efeitos são multiplicados. Somente
nesta bacia, o governo pretende implantar pelo menos sete usinas hidrelétricas.
O anúncio já está atraindo atividades altamente impactantes para a região, como
a coleta de madeira e o garimpo ilegais.
Conheça a campanha do WWF-Brasil em wwf.org.br/sosjuruena.
Sobre o WWF-Brasil: É
uma organização não governamental brasileira, dedicada à conservação da
natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da
biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos
cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado
em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior
rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países
e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.
(WWF
Brasil)
Fonte: ENVOLVERDE
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