Brasil: país sem educação, sem
saúde, sem transporte, mas da Copa do Mundo e dos estádios, artigo de Patrícia
Aparecida Pereira Souza de Almeida.
Todo radical em algum momento perde a razão. Não
vamos nos perder em nossa causa. A luta continua em prol de um país mais justo,
mais democrático, menos corrupto e, principalmente, mais solidário.
Mas vamos separar o joio do trigo.
Felipão, Neymar Jr., Júlio César e os demais não
têm culpa que nossos políticos roubam, enganam, desviam verbas públicas e,
depois, na cara dura veem à televisão e dão o seu recado como se a população
toda fosse acéfala.
Muito pelo contrário!
Nós não compactuamos com isso, não fazemos parte
dessa população desinformada e apática facilmente manipulável pelos que detêm o
poder e, por isso mesmo, concordamos e apoiamos todas as vaias públicas ao seu
desserviço ao nosso país.
Contudo, quem nunca ouviu falar que se parou uma
guerra para ver os Jogos Olímpicos?
Um povo em guerra fez-se o cessar fogo para
receber o Pelé?
Então, nada mais isso é o que está acontecendo.
Ninguém está vestindo verde e amarelo, pois está
feliz com os rumos de nosso país. Estamos vestindo verde e amarelo por uma
nação carente que vê em seus ídolos do futebol uma possibilidade de ascensão
real, justa e honesta.
Parênteses: pois infelizmente, neste país, quem
estuda também não ascende socialmente. Não enriquece e, no máximo, faz parte de
uma classe média que duramente consegue pagar suas contas e, para realizar suas
pesquisas, precisa de apoio financeiro internacional.
Fato este facilmente comprovado pelo espaço dado
ao neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, responsável pela investigação
científica do projeto “Andar de novo”, juntamente com mais de 156 pesquisadores
de vários países que integram o consórcio e que não tiveram nem 30 segundos de
espaço para demonstrar um experimento histórico. Mas isto é assunto para outro
‘post’ e sobre a FIFA.
Então, o que esperar…
O povo veste verde e amarelo pela seleção, por
nossos jogadores e pelo espetáculo mundial.
A seleção italiana, holandesa, espanhola não tem
culpa alguma sobre o que os nossos políticos fazem.
Eles estão aqui para realizarem bem o seu
trabalho que é jogar futebol e encantar o mundo.
Não trazer a Copa do Mundo para cá deveria ser
motivo de revolta já na candidatura e não com o estrago feito, com os estádios
prontos e as delegações chegando. Ninguém tem culpa por nossos erros e as
mazelas de nosso país.
Agora, o máximo que podemos fazer é dar uma
trégua (período dos jogos), nos mobilizar em prol de eleições mais justas e do
voto consciente no final do ano. Lutando contra a difícil missão de não deixar
a população carente votar por um par de sapatos, uma cesta básica ou um beijo
no rosto de criança carente. Este sim é nosso papel, pois eles merecem mais do
que isso.
Hoje, com todas as delegações aqui, só podemos
mostrar que, apesar de nossos políticos, não somos um bando de vândalos e nem
nos igualamos a eles nos roubos. Crimes do colarinho branco não deixam de serem
roubo e caso de polícia contra bandido e ladrão.
No mais, só muda um país, quem o ama além de seus
próprios interesses. Quem sabe amar e respeitar ao próximo com a si mesmo. Quem
sabe discernir o joio do trigo. E, principalmente, quem sabe esperar o momento
certo de agir. Nunca ninguém ganhou uma guerra com radicalismo insano.
Fica aí a dica!
Patrícia Aparecida Pereira Souza de Almeida é
Bióloga, Mestre em Hidráulica e Saneamento, Doutora em Ciências da Engenharia
Ambiental e professora-tutora da área de meio ambiente da FGV Online.
Fonte: EcoDebate
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