Ampa e Inpa lançam campanha pela
conservação dos botos da Amazônia.
A campanha, denominada, Alerta Vermelho, pretende
combater as atividades ilegais de caça e pesca, por meio do engajamento e
participação ativa das pessoas, dentro e fora da região Amazônica.
Por Séfora Antela/Ascom Ampa.
A aliança entre as duas organizações, a
Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) e o Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa/MCTI), é antiga, existe há quase 15 anos; mas o problema da caça
aos botos da Amazônia é mais recente e tem preocupado os especialistas. Por
isso, com a união desses esforços surgiu a Campanha Alerta Vermelho, que
pretende apoiar a força tarefa de fiscalização, controle e combate das ameaças
à fauna na Amazônia Brasileira; financiar o desenvolvimento de métodos e iscas
alternativas para comunidades ribeirinhas; apoiar projetos de turismo
sustentável com os Botos, além de fomentar a pesquisa, tudo isso com o apoio de
internautas.
“Estamos organizando uma plataforma digital para
o lançamento da Campanha Alerta Vermelho, por meio do website www.alertavermelho.org.br,
que estará disponível a partir do dia 20 de julho e que poderá ser visitados
por internautas do mundo todo. Os visitantes poderão entender e apoiar a
campanha de diversas formas e receber recompensas por isso.”, disse o
diretor-executivo da Ampa, Jone César Silva.
A campanha, que busca apoio por meio de um
website, pretende engajar a sociedade Global, com foco na Brasileira, sobre a
importância da Amazônia e sua incrível biodiversidade, além de mover as
instituições locais e motivar a sociedade para coibir e monitorar a matança
indiscriminada dos botos da Amazônia.
“A matança de
botos para uso como isca na pesca da piracatinga chegou a limites
insustentáveis. O boto-vermelho é um patrimônio Amazônico. Para aumentar o
conhecimento das espécies envolvidas, apoiar as ações de fiscalização e
promover a conservação desses magníficos animais, o engajamento e a
participação da sociedade como um todo é imprescindível. O Alerta Vermelho
convoca todos os seguimentos da sociedade para não permitir que o boto se torne
apenas uma lenda”, declarou a chefe do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do
Inpa/MCTI, Dra. Vera da Silva.
A Campanha Alerta Vermelho também movimentará uma
petição online para antecipar o inicio da moratória que suspende a pesca da
Piracatinga por cinco anos, na região Amazônica, que, como apresentado, se publicada
no Diário Oficial da União, ainda esse ano, entrará em vigor somente a partir
de janeiro de 2015. Essa antecipação evitara que nos próximos cinco meses
milhares de botos sejam esquartejados para isca.
A campanha, que tem o apoio do Ministério Público
Federal, será lançada oficialmente neste domingo, 20 de julho, quando será
veiculada matéria especial no programa Fantástico da Rede Globo, com vídeos e
fotos sobre a cruel matança dos botos da Amazônia cedidos pela Ampa.
Entenda o Problema
O boto-vermelho (Inia geoffrensis) é utilizado
como isca na pesca de um peixe chamado piracatinga (Calophysus macropterus),
que no Brasil é comercializado com o nome fantasia de “douradinha”. Estima-se
que cerca de 2.500 botos são mortos todo ano, em determinadas regiões da
Amazônia. Em uma única pesca, cerca de 20 botos foram abatidos. Pesquisadores
apontam que se o volume desse pescado no mercado brasileiro continuar
aumentando, e o boto ser a principal isca, esse golfinho poderá desaparecer em
um futuro bem próximo.
Um pouco da história
Estudos apontam que a mortalidade decorrente de
interações com atividades de pesca tem se tornado uma ameaça em toda
distribuição do boto-vermelho e o número de registros de mortes causadas por
emalhe acidental em redes de pesca, bem como por agressão intencional por parte
de alguns pescadores, têm crescido no decorrer dos anos.
Segundo registros do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia – Inpa/MCTI e da Ampa, organização não governamental que
recebe incentivos da Petrobras; desde 2000, o boto-vermelho tem sido
brutalmente morto para servir como isca para a pesca da piracatinga, um peixe
liso ou bagre, conhecido no Amazonas como urubu d’água. A pesquisa apontou a
perda de cerca de 7.5% da população de boto-vermelho, estudada na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, todo ano.
Desde então, os esforços para cessar essa prática
ilegal começaram. Em 2011, foi criado, pela Ampa e Inpa/MCTI, um dossiê
denominado Alerta Vermelho para servir como documento oficial do problema de conservação
dos botos da Amazônia.
Em 2012, o Ministério Público toma conhecimento
do problema, por meio de denúncias. A partir de junho, do mesmo ano,
instaurou-se inquérito civil público para investigar a prática de matança de
botos-vermelhos para servirem como isca por pescadores em algumas regiões da
Amazônia brasileira.
“O inquérito civil, no âmbito do ministério
público, iniciou a partir de uma representação de um cidadão enunciando que os
botos [...] estariam sendo utilizados como isca para a pesca da piracatinga.
Depois disto, diligências foram realizadas no bojo do inquérito, e fizemos uma
audiência pública onde recolhemos várias informações, dados, subsídios, para
que pudéssemos continuar com a nossa apuração. E a partir daí o ministério
publico identificou que existe uma cadeia produtiva que inicia com a caça do
boto ou com a obtenção de outra isca e termina na comercialização, no varejo. E
ocorre que vemos várias irregularidades em cada elo desta cadeia”, explica o
procurador geral da república, Rafael Rocha.
Em 22 de maio desse ano, o ministro Eduardo
Lopes, da Pesca e Aquicultura, assinou, juntamente com a ministra Izabella
Teixeira, do Meio Ambiente, uma série de instruções normativas sobre a pesca no
Brasil. Na ocasião, foi decretada uma intenção de moratória de cinco anos para
a pesca da Piracatinga, na região Amazônica, que entraria em vigor a partir de
janeiro de 2015. No entanto, desde o anúncio dessa decisão, a moratória não foi
publicada no Diário Oficial da União, o que significa dizer que ainda não
produz efeito e não tem eficácia.
“Se a moratória não for assinada agora, com a
proximidade da temporada da pesca da piracatinga em poucas semanas (esse peixe
pode ser pescado o ano todo), alguns milhares de botos serão mortos”, lamenta
da Silva.
Fonte: Inpa
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