sábado, 12 de julho de 2014

China e EUA firmam série de acordos ambientais e energéticos.
por Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil
Aproximação dos dois países deve facilitar o estabelecimento de um novo tratado climático internacional; oito novos projetos de cooperação também foram anunciados, sendo quatro para a captura e armazenamento de carbono.

A China e os Estados Unidos, como duas das maiores potências globais, têm uma influência econômica, social e ambiental inegável sobre boa parte do mundo, e suas ações e decisões – positivas e negativas – são essenciais para barrar ou levar a diante qualquer resolução de caráter internacional.

Felizmente, nesta quarta-feira (9), as duas nações parecem ter dado um passo à frente para facilitar as negociações que devem culminar em um acordo climático mundial, assinando uma série de pactos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e possibilitar uma geração energética mais limpa através do carvão.

Na chamada Rodada de Diálogos Estratégicos e Econômicos EUA-China, que está na sua sexta edição, os dois países afirmaram que a partir de agora se centrarão em um “novo modelo de relações bilaterais”, realizando um intercâmbio de “seus pontos de vista em assuntos regionais e internacionais de interesse mútuo para aumentar o entendimento, a confiança e reduzir as diferenças”.

Um dos aspectos que recebeu ênfase na abertura da rodada de negociações, iniciada nesta quarta-feira, foram as questões ambientais e energéticas, sobre as quais as duas nações firmaram diversos acordos.

Em relação às mudanças climáticas, os dois maiores emissores do mundo anunciaram recursos para oito novos projetos: quatro que visam capturar e armazenar carbono, e quatro que estabelecem redes de energia mais eficientes.

Eles também concordaram em adotar padrões mais rígidos para a eficiência de combustíveis veiculares e emissões de gases do efeito estufa (GEEs), conduzir um estudo sobre a eficiência e uso de gás em boilers industriais, e dar passos importantes no lançamento de uma nova iniciativa sobre mudanças climáticas e florestas, acrescentando mais um setor significativo à cooperação EUA-China sobre mudanças climáticas: emissões de GEEs do setor de uso da terra, que somam um quarto das emissões globais.
Por exemplo, em um dos memorandos de entendimento (MOUs) de energia, o Instituto Huaneng de Pesquisa em Energia Limpa, uma subsidiária da companhia estatal de energia China Huaneng e o grupo Summit Power concordaram em compartilhar informações sobre as tecnologias limpas para geração de energia carbonífera.

Huaneng faz parte de um consórcio chinês que opera um piloto de 400 MW integrado a uma usina a gás de ciclo combinado em Tianjin. Sob o acordo, que deve ser firmado nesta quarta-feira em Pequim, Huaneng compartilhará informações com a Summit Power, que em breve deve iniciar um projeto similar no Texas depois de assegurar apoio da empresa Petrochina e da firma chinesa de engenharia Huanqiu Contracting and Engineering.

A Summit, em troca, compartilhará informações e tecnologias para a recuperação de petróleo com o carbono capturado. “Isso acelerará o compartilhamento de informações sobre captura e armazenamento de carbono para energia”, observou Julio Friedmann, secretário adjunto de Carvão Limpo para o Departamento de Energia dos EUA, à Reuters.

Laura Miller, ex-prefeita de Dallas, que agora gerencia o Projeto de Energia Limpa do Texas, comentou que a parceria será benéfica para os dois países. “Estaremos compartilhando anos de experiência em desenvolvimento e tecnologia em ambos os projetos, tudo ao mesmo tempo em que damos passos gigantescos para a frente em relação ao meio ambiente mundial”, declarou Miller em uma entrevista.

Outro projeto cria uma parceria entre a Universidade da Virgínia Ocidental com a Yanchang Petroleum para a demonstração industrializada de uma tecnologia ultra-limpa no norte da província de Shaanxi.

Já a Universidade do Kentucky, que fica em um estado dependente do carvão, fará parceria com o grupo Shanxi Coal International Energy e a companhia Air Products and Chemicals Inc em um estudo de viabilidade de projeto para uma usina de energia a carvão de 350 MW que possa capturar dois milhões de toneladas de CO2 por ano.

Obstáculos

Mas apesar da aliança, os dois países afirmam que ainda há dificuldades a serem superadas em suas relações. Uma das questões é justamente o apoio tecnológico necessário às nações em desenvolvimento para a adaptação e mitigação às mudanças climáticas.

“Países em desenvolvimento estão muito preocupados em obter fundos e apoio tecnológico de países desenvolvidos. Nessa questão, ainda estamos tendo grandes dificuldades e temos que colocar mais esforços”, disse Xie Zhenhua, vice-presidente da NDRC.

Outro ponto de atrito é em relação às responsabilidades que cada país deve ter no combate às mudanças climáticas, já que a China defende que nações desenvolvidas e em desenvolvimento devem ter encargos diferentes.

Todd Stern, principal negociador climático dos EUA, afirmou que os norte-americanos não divergem da China de que deve haver uma diferenciação, mas que usar as antigas definições estabelecidas em 1992 para isso não é o ideal. “Tive conversas longas e detalhadas sobre esse assunto com Xie e os outros. Não discordamos sobre o conceito básico.”

Ainda assim, os dois países enfatizaram a importância dos acordos, inclusive em nível mundial. “Em última análise, a verdadeira medida de nosso sucesso não será apenas se nossos países crescerão, mas como nossos países crescerão. E essa é uma área em que avançamos verdadeiramente, aprofundando nossa relação sobre mudanças climáticas e energia limpa. Em minha última visita à China, vi com meus próprios olhos o que é possível quando trabalhamos juntos. Visitamos a usina de motores limpos Joint Foton-Cummins em Pequim, e vi que não apenas estamos transformando a forma com que usamos e produzimos energia. Também vimos que estamos criando empregos, construindo motores limpos e fortalecendo nossas economias”, disse John Kerry, secretário de Estado dos EUA.

“Passo a passo, estamos mudando nosso foco da dificuldade de compromisso para a realidade de um futuro com energia limpa. A solução para as mudanças climáticas é política energética. E energia é o maior mercado que o mundo já viu. Então compartilhamos uma oportunidade econômica enorme, estamos olhando para a possibilidade de fornecer empregos para nosso povo, ter sociedades mais saudáveis, ar mais limpo e mais segurança energética para um futuro em longo prazo”, continuou.

“O significado de essas duas nações se unirem não pode ser subestimado. Estamos trabalhando duro para achar uma solução juntos que possa ter um impacto no resto do mundo”, concluiu Kerry.

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