Carne bovina tem pegada de
carbono pior do que se pensava.
Novos estudos mostram que carne bovina
contribui mais para emissão de gases do efeito estufa e degradação ambiental do
que produção de outras proteínas de origem animal, como laticínios, aves
domésticas, carne suína e ovos, juntas.
Não é novidade que o consumo excessivo de carne
pode ser muito prejudicial à saúde humana, aumentando a propensão a problemas
como pressão e colesterol altos, excesso de peso, etc. Mas os problemas podem
ir muito além da saúde humana, afetando também o meio ambiente e aumentando as
emissões de gases do efeito estufa (GEEs). É o que mostram novas pesquisas
publicadas recentemente nos periódicos Proceedings of the National Academy of
Sciences (PNAS) e Climatic Change.
O estudo publicado no PNAS sugere que as emissões
da pecuária, que são responsáveis por 14,5% da liberação total de GEEs pelas
atividades humanas, estão aumentando, e que a carne bovina é responsável por
mais GEEs do que a produção de outras proteínas de origem animal, como
laticínios, aves domésticas, carne suína e ovos, juntas.
Embora essa descoberta não seja exatamente nova,
é a proporção da pegada de carbono que assusta: a pesquisa mostra que a carne
bovina exige 28 vezes mais terra para ser produzida, 11 vezes mais água e seis
vezes mais fertilizante nitrogenado do que as outras quatro categorias, e
resulta em cinco vezes mais emissões de GEEs.
Além disso, o estudo comparou a utilização de
recursos da produção pecuária com a do cultivo de vegetais que são fonte de
proteínas, como arroz, batata e trigo e concluiu que todos os tipos de carne
emitem mais GEEs do que as culturas analisadas.
“A produção de batata, trigo e arroz, em média,
exige de duas a seis vezes menos recursos por caloria consumida do que a carne
não bovina. Entender os impactos das diferentes classes de pecuária pode dar
aos consumidores e legisladores poder de mitigarem danos ambientais através da
escolha da dieta e da política agropecuária”, afirma o relatório do PNAS.
Outro estudo semelhante, divulgado no periódico Climatic
Change, indica que, de 1961 a 2010, as emissões de GEEs da pecuária em 237
países aumentaram 51%.
Especificamente, os cientistas descobriram que a
carne e laticínios de bovinos são responsáveis por cerca de 71% das emissões
pecuárias, com 54% vindo da carne e 17%, dos laticínios. Isso é em parte devido
à abundância do animal, mas também por causa dos altos níveis de metano que ele
emite. As ovelhas são responsáveis por 9% das emissões, os búfalos, por 7%, os
porcos, por 5%, e as cabras, 4%.
E muito disso se deve ao aumento da demanda por
carne, especialmente em nações em desenvolvimento. A equipe observou uma diferença
gritante entre as emissões pecuárias dos países em desenvolvimento, que são
mais responsáveis por esse aumento, e as das nações desenvolvidas.
E acredita-se que essa diferença deva aumentar,
já que a demanda por carne, laticínios e ovos deve dobrar até 2050 em países em
desenvolvimento. As nações desenvolvidas já chegaram ao máximo de suas emissões
pecuárias nos anos 1970, e têm diminuído desde então.
“O mundo em desenvolvimento está se tornando
melhor em reduzir as emissões de efeito estufa causadas pelos animais, mas essa
melhoria não está acompanhando a crescente demanda por carne. Como resultado,
as emissões de GEEs da pecuária continuam subindo em boa parte do mundo em
desenvolvimento”, comentou Dario Cario, pesquisador do estudo.
“Esses hambúrgueres saborosos são os verdadeiros
culpados. Seria melhor para o meio ambiente se todos nos tornássemos
vegetarianos, mas uma série de melhorias podem ocorrer da ingestão de carne
suína ou de frango em vez de bovina”, disse Ken Caldeira, que trabalhou com
Cario, mas não é autor do trabalho.
Uma terceira pesquisa confirma a declaração de
Calderia. Segundo o estudo, também apresentado no Climatic Change, as pessoas
que comem carne produzem o dobro da quantidade de emissões de GEEs em relação
aos veganos devido a suas dietas.
O relatório observou tudo, desde a produção,
transporte, armazenamento e cozimento até o descarte de alimentos, que
contribui para as emissões de GEEs. Foram avaliadas as dietas de mais de 50 mil
pessoas no Reino Unido.
O resultado aponta que as pessoas que comem carne
de maneira moderada (50 a 99 gramas de carne por dia), contribuem com 5,63 Kg
de dióxido de carbono equivalente (CO2e) para a atmosfera a cada duas mil
calorias consumidas, enquanto os veganos contribuem com 2,89 Kg de CO2e.
Os veganos têm as menores emissões de gases do
efeito estufa devido à sua dieta, seguidos pelos vegetarianos (3,81 Kg de
CO2e), os que consomem apenas carne de peixe (3,91 kg de CO2e) e os que
consomem menos de 50 gramas de carne por dia (4,67 kg de CO2e). Já os que comem
bastante carne (100 gramas por dia ou mais) geram 7,19 Kg de CO2e.
A pesquisa também menciona que a população do
Reino Unido está comendo mais carne do que nunca, tendo passado de um consumo
anual de 69,2 kg em 1961 para 84,2 kg de carne por ano atualmente.
“Esse trabalho demonstra que reduzir o consumo de
carne e outros produtos de origem animal pode dar uma contribuição valiosa à
mitigação das mudanças climáticas”, informaram os autores.
Por fim, estimativas do Environmental Working
Group mostram que, se toda a população dos EUA adotasse uma dieta vegetariana,
seria o equivalente a retirar 46 milhões de carros das ruas, e que se uma
pessoa comesse apenas um hambúrguer a menos por semana durante um ano, seria o
equivalente a não dirigir seu carro por 514 quilômetros.
De fato, há muito o que uma pessoa pode fazer
para tentar reduzir sua pegada de carbono: andar menos de carro, consumir mais
produtos que evitem a emissão de GEEs em sua produção e transporte, e consumir
mais proteína vegetal e menos animal. Talvez nem todos possam se tornar
vegetarianos ou veganos, mas reduzir o consumo de carne já é um primeiro passo
para diminuir sua contribuição às mudanças climáticas.
Fonte: CarbonoBrasil
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