Monitorar qualidade da água é
questão de saúde pública.
Monitoramento de parâmetros relaciona alterações
nas características físicas, químicas e biológicas da água. Processo é
fundamental para mensurar os índices de qualidade dos recursos hídricos, especialmente
da água direcionada ao abastecimento público.
A água do planeta sofre constantes
transformações, se renova e é reutilizada. Uma das principais transformações
que a água sofreu no último século é a crescente contaminação, problema que
afeta especialmente as grandes áreas urbanas e zonas litorâneas. Em razão do
aumento da importância da água para a segurança de populações e devido ao risco
de contaminação decorrente das atividades humanas surge a necessidade de um
controle mais rígido para o abastecimento público. Neste cenário, destaca-se a
importância do monitoramento da qualidade da água para a gestão dos recursos
hídricos.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA),
o monitoramento é o conjunto de práticas que visam o acompanhamento de determinadas
características de um sistema. No monitoramento da qualidade das águas naturais
são acompanhadas as alterações nas características físicas, químicas e
biológicas da água, decorrentes de atividades antrópicas e de fenômenos
naturais. As práticas relacionadas ao monitoramento incluem a coleta de dados e
de amostras em locais específicos, feita em intervalos regulares de tempo, de
modo a gerar informações que possam ser utilizadas para a definição das
condições presentes de qualidade da água.
Para Mauro Banderali, especialista em
instrumentação hidrometeorológica da Ag Solve, os problemas com a qualidade da
água começam, quase sempre, na captação. “As águas dos rios e barragens ou as
subterrâneas, quando contaminadas, trazem consigo uma carga de substâncias
tóxicas. Tais substâncias podem atingir até 80 mil diferentes organismos ou
moléculas químicas originárias de processos industriais, dos agroquímicos, da
indústria de fármacos, entre outros. Por isso, monitorar a qualidade da água a
ser distribuída é uma questão de saúde pública.”
Monitoramento em São Paulo
Fábio Netto Moreno, gerente do Setor de Águas
Interiores da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) explicou,
durante o workshop “Água e Saúde”, promovido pelo Centro de Vigilância Sanitária
de São Paulo e pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
(USP), que a companhia alimenta dados da Rede Básica de Monitoramento de Águas
Superficiais e Subterrâneas, visando fornecer um diagnóstico geral dos recursos
hídricos no estado. “Atualmente, a Rede conta com 384 pontos de monitoramento,
com uma frequência bimestral e compreende uma análise de aproximadamente 60
variáveis físicas, químicas e biológicas. Essa Rede Básica está sendo
incorporada à Rede Federal de Monitoramento da ANA”, pontua.
A CETESB também é responsável pelo monitoramento
automático para o controle de fontes poluidoras e da qualidade da água
destinada ao abastecimento púbico. O monitoramento automático é realizado a
cada hora e mede parâmetros como Oxigênio Dissolvido (OD), pH, Temperatura,
Condutividade e Turbidez. “Em relação às aguas subterrâneas, a Rede conta com
272 pontos e gera um diagnóstico das águas subterrâneas brutas, visando também
subsidiar ações de prevenção e controle da poluição do solo e da água subterrânea”,
detalha Moreno. O monitoramento das águas subterrâneas é realizado
semestralmente e mede mais de 40 parâmetros físicos, químicos e biológicos.
Índices apontam qualidade da água
O gerente do Setor de Águas Interiores da CETESB,
Fábio Netto Moreno, também falou sobre a importância dos índices de qualidade
da água, que sistematizam um grande número de variáveis. “Os índices são
números utilizados para classificar os corpos hídricos em faixas de qualidade.
Eles possibilitam ao órgão responsável pela gestão da água identificar as áreas
prioritárias, que merecem algum tipo de atividade de controle. Também permitem
uma interface com o público, comunicando sobre a qualidade no corpo hídrico,
além de colaborar na investigação científica. Uma desvantagem da utilização de
índices é que, quando você abrange um grupo de variáveis, fica difícil
individualizar aquela variável que está sendo responsável pela classificação,
ruim ou boa, deste índice”, aponta.
Segundo Moreno, o Índice de Qualidade das Águas
para Fins de Abastecimento Público (IAP) é o índice utilizado pela CETESB para
indicar as condições de qualidade da água bruta captada pela Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) e também por outras
concessionárias. “O IAP permite classificar a água com a finalidade de
abastecimento ao público. Ele vai avaliar a qualidade do manancial e integrar
variáveis que influenciem a qualidade da água para este público. O IAP é
produto de multiplicação do Índice de Qualidade das Águas (IQA) pelo Índice de
Substâncias Tóxicas e Organolépticas (ISTO)”.
“O IQA é importante, pois indica a presença de
esgoto doméstico no corpo hídrico, através de variáveis como Temperatura da
Água, pH, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica do Oxigênio (DBO), Coliformes
Termotolerantes/ E. coli, Nitrogênio Total, Fósforo Total, Sólidos Totais e
Turbidez”, comenta Moreno. “Já o ISTO, compreende as Substâncias Organolépticas
(SO), aquelas que vão conferir gosto ou odor à água e vão impactar o estímulo
sensorial de quem a consome. Dentro dessas variáveis estão: Ferro, Manganês,
Alumínio, Cobre e Zinco. Também dentro do ISTO estão as Substancias Tóxicas
(ST), que são mensuradas pelas seguintes variáveis: Potencial de Formação de
Triahalometanos, Número de Células Cianobactérias e os metais Cádmio, Chumbo,
Cromo, Mercúrio e Níquel. Para o cálculo deste risco se utilizam curvas de
qualidade, onde são atribuídos valores de 0,5 à 1 ao limite inferior e ao
limite superior”, detalha o gerente.
IAP aponta pior índice em três anos
A qualidade da água captada para abastecimento no
estado de São Paulo registrou, em 2013, o pior índice em três anos. De acordo
com relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) divulgado
em maio de 2014, o Índice de Qualidade das Águas para Fins de Abastecimento
Público (IAP) verificado em 72 pontos de captação foi considerado bom em 46%
das amostras, regular em 35% e ruim ou péssimo em 17%. Para efeito de
comparação, em 2012 o total percentual de pontos com qualidade boa foi de 61%.
O relatório da Cetesb aponta pontos de captação
com qualidade considerada ruim durante a média das coletas no ano passado em
trechos dos rios Acaraú, Atibaia, das Conchas, Capivari, Corumbataí, Cubatão,
Jaguari, Jundiaí, Mogi Mirim, Tietê, Sorocaba, Sorocabuçu, Paraíba do Sul, da
Prata, Piaçaguera, Piracicaba, Piraí e São José dos Dourados e Una. Também
foram identificados pontos de qualidade ruim nos reservatórios Billings, de
Barra Bonita, Cachoeira de Cima, Cascata, do Guarapiranga e do Rio Grande.
Ao todo, a Cetesb monitora a qualidade da água
bruta usada para abastecimento público para 23 milhões de habitantes em 69
municípios. Segundo o relatório, o lançamento de esgotos domésticos in natura,
ou coletado e não tratado, consiste ainda numa das principais causas da
poluição das águas no Estado de São Paulo. Atualmente, 40% do esgoto é
despejado em cursos d’água sem tratamento no estado.
Iniciativa importante – O tema “Segurança
Hídrica” foi debatido por especialistas durante o Workshop Água e Saúde,
promovido pelo Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo e pela Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.
Fonte: EcoDebate
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