Edição especial da Science alerta
para 6º Grande Extinção.
por
Fernanda B. Müller, do CarbonoBrasil
Fotos: Fabricio Basilio/ Revista Science
Em uma coletânea de estudos sobre a crise e os
desafios do imenso número de extinções causadas pelos humanos, revista ressalta
as implicações da ‘defaunação’ dos ecossistemas.
A triste conclusão de que as nossas florestas, além
de estarem em um processo contínuo de desmatamento, estão vazias, cada vez mais
depauperadas da vida que as constitui, é o foco de uma série especial da
revista Science.
A publicação chama a atenção para um termo que deve
se tornar cada vez mais conhecido, a ‘defaunação’: a atual biodiversidade
animal, produto de 3,5 bilhões de anos de evolução, apesar da extrema riqueza,
está decaindo em níveis que podem estar alcançando um ponto sem volta.
Segundo cientistas, tal perda parece estar
contribuindo com o que classificam como o início do sexto evento de extinção
biológica em massa – ao contrário dos outros, que tiveram causas naturais, nós
seríamos os culpados, devido às chamadas atividades antrópicas.
“Muito permanece desconhecido sobre a ‘defaunação
do antropoceno’; essas brechas no conhecimento prejudicam a nossa capacidade de
prever e limitar os seus impactos. Porém, claramente, a defaunação é tanto um
componente perverso da sexta extinção em massa do planeta quanto uma grande
causadora da mudança ecológica global”, concluíram pesquisadores no artigo ‘Defaunação no Antropoceno‘.
Na abertura da revista, um dos editores, Sacha
Vignieri, lembra que, há alguns milhares de anos, o planeta servia de lar para
espetaculares animais de grande porte, como mamutes, tartarugas gigantes,
tigres-dente-de-sabre, entre outros.
Porém, evidências apontam o ser humano como o
grande culpado pelo desaparecimento desses animais, afirma o editor.
E infelizmente, a tendência parece longe de mudar,
e com ela, toda uma série de funções dos ecossistemas, das quais depende a
nossa vida, são alteradas de formas dramáticas.
Como mostram os artigos na Science, os impactos da
perda da fauna vão desde o empobrecimento da cobertura vegetal até a redução na
produção agrícola devido à falta de polinizadores, passando pelo aumento de
doenças, a erosão do solo, os impactos na qualidade da água, entre outros. Ou
seja, os efeitos da perda de uma única espécie são sistêmicos.
Números
De acordo com o estudo ‘Defaunação no Antropoceno‘, as populações de
vertebrados declinaram em uma média de mais de um quarto nos últimos quarenta
anos. Isso fica extremamente evidente quando qualquer um de nós caminha nos
remanescentes de Mata Atlântica: é realmente muito difícil encontrar animais de
médio e grande portes.
Pelo menos 322 espécies de vertebrados foram
extintas desde 1500, e esse número só não é maior porque não conhecemos todas
as espécies que já habitaram ou ainda residem em nossas florestas.
Se a situação é complicada para os vertebrados, que
são muito mais conhecidos, é angustiante imaginar o tamanho da crise para os
invertebrados, como os insetos, muito menos estudados.
“Apesar de menos de 1% das 1,4 milhão de espécies
de invertebrados descritas terem sido avaliadas quanto à ameaça pela IUCN, das
analisadas, cerca de 40% são consideradas ameaçadas”, afirma o estudo.
Solução?
Certamente, a resolução dessa crise do Antropoceno
não é simples.
As causas dessas perdas são bem conhecidas – caça,
fragmentação dos habitats, uso de agrotóxicos, poluição, etc. –, e as
tentativas para reverter essas tendências estão aumentando, como a reintrodução
da fauna.
No artigo ‘Revertendo a defaunação: restaurando espécies em um mundo
mutante’, pesquisadores revisam uma série de translocações
conservacionistas, como o reforço, a reintrodução e métodos mais controversos
que buscam restaurar populações fora do seu habitat natural ou substituir
espécies extintas.
Entretanto, os desafios para reverter as extinções
estão se mostrando muito desafiadores, e as pesquisas atuais mostram que, “se
não conseguirmos acabar ou reverter as taxas dessas perdas, significará mais
para o nosso futuro do apenas que corações desiludidos ou uma floresta vazia”,
disse Vignieri, o editor do especial na Science.
Rodolfo Dirzo, professor da Universidade de
Stanford – um dos autores de Defaunação no Antropoceno –, argumenta que reduzir
imediatamente as taxas de alteração dos habitats e a sobre-exploração ajudaria,
mas que isso precisaria ser feito de acordo com as características de cada
região e situação.
Ele espera que a sensibilização sobre a atual
extinção em massa e suas consequências ajude a desencadear mudanças.
“Os animais importam para as pessoas, mas no
equilíbrio, eles importam menos do que a alimentação, emprego, energia,
dinheiro e desenvolvimento. Enquanto continuarmos a enxergar os animais nos
ecossistemas como tão irrelevantes para essas necessidades básicas, os animais
perderão”, disseram Joshua Tewksbury e Haldre Rogers no artigo “Um futuro rico
em animais”.
Fonte: CarbonoBrasil
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