América Latina e Caribe poderiam
acabar com a fome apenas com alimentos desperdiçados, diz FAO.
Somente na venda a varejo, se
desperdiça comida que alimentaria 64% das pessoas que sofrem de fome na região.
Na América Latina e no Caribe se perdem e
desperdiçam mais alimentos do que os necessários para satisfazer as necessidades
das 47 milhões de pessoas que ainda sofrem de fome na região, disse nesta
quarta-feira (16) a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO).
O relatório “Perdas e desperdícios
de alimentos na América Latina e no Caribe”, publicado pelo escritório
regional da FAO, diz que 6% das perdas mundiais de alimentos ocorrem na região.
“A cada ano, a região perde ou desperdiça
aproximadamente 15% de seus alimentos disponíveis, o que impacta a
sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduz a disponibilidade local e
mundial de comida, gera menor renda para os produtores e aumenta os preços para
os consumidores”, explicou o representante regional da FAO, Raul Benítez.
Benítez acrescenta que as perdas e desperdícios também
têm um efeito negativo sobre o meio ambiente devido à utilização não
sustentável dos recursos naturais. “Enfrentar este problema é fundamental para
avançar na luta contra a fome e deve ser convertida em uma prioridade para os
governos da América Latina e do Caribe”, disse Benítez.
O que são e onde ocorrem as perdas e
desperdícios?
Segundo a FAO, as perdas de alimentos dizem
respeito à diminuição da massa disponível de alimentos para o consumo humano
nas fases de produção, pós-colheita, armazenamento e transporte.
Já os desperdícios de alimentos são as perdas
derivadas da decisão de descartar alimentos que ainda têm um valor nutricional,
e estão associados principalmente ao comportamento dos vendedores atacadistas e
varejistas, serviços de venda de comida e consumidores.
As perdas e desperdícios ocorrem ao longo da
cadeia alimentar: na região, 28% se dão no âmbito do consumidor; 28% da
produção; 17% no mercado e distribuição; 22% durante o manuseio e armazenamento
e o 6% restantes na etapa de processamento.
Perdas na venda no varejo
Com os alimentos que se perdem na região somente
na venda no varejo, ou seja, em supermercados, feiras livres, armazéns e demais
pontos de venda, poderiam ser alimentadas mais de 30 milhões de pessoas – ou
seja, 64% das pessoas que sofrem de fome na região.
Os alimentos que se perdem neste nível nas
Bahamas, Jamaica, Trinidade e Tobago, Belize e Colômbia são equivalentes aos
que se necessitaria para alimentar todos aqueles que sofrem de fome nestes
cinco países.
Antígua e Barbuda, Bahamas, Jamaica, São
Cristóvão e Neves, Trinidade e Tobago, Belize, Bolívia, Colômbia, Equador, El
Salvador, Suriname e Uruguai poderiam ter alimentos equivalentes aos que
necessitam para alcançar o primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, se
reduzissem somente este tipo de perda.
“Ainda que seja importante dizer que os países da
região possuem as calorias mais que suficientes para alimentar todos seus
cidadãos, a enorme quantidade de alimentos que são perdidos ou que acabam na
lixeira é simplesmente inaceitável enquanto a fome continuar afetando quase 8%
da população regional”, explicou Benítez.
Como acabar com as perdas e desperdícios?
Existem formas de evitar as perdas e os
desperdícios em todos os elos da cadeia, principalmente por meio de investimentos
em infraestrutura e capital físico, melhorando a eficiência dos sistemas
alimentares e de governança sobre o tema mediante normas, investimentos,
incentivos e alianças estratégicas entre o setor público e o privado.
Um exemplo são os bancos de alimentos, que reúnem
comida que, por diversas razões, seriam descartadas para sua redistribuição e
que já existem na Costa Rica, Chile, Guatemala, Argentina, República
Dominicana, Brasil e México. A Associação de Bancos de Alimentos do México, por
exemplo, resgatou 56 mil toneladas de alimentos somente em 2013.
A sensibilização pública também é chave e pode
ocorrer por meio de campanhas dirigidas a cada um dos atores da cadeia
alimentar, como faz a iniciativa
mundial “Save Food”, uma parceria entre a FAO, o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA)
e a companhia alemã Messe Düsseldorf. A iniciativa reúne 250 parceiros,
organizações e empresas públicas e privadas e realiza campanhas em todas as
regiões do mundo.
“Erradicar a fome na região requer que todos os
setores da sociedade façam esforços para reduzir suas perdas e desperdícios”,
destacou o representante da FAO na região.
Perdas e desperdícios mundiais
No âmbito mundial, entre um quarto e um terço dos
alimentos produzidos anualmente para o consumo humano se perde ou desperdiça.
Isso equivale a cerca de 1,3 bilhão de toneladas
de alimentos, o que inclui 30% dos cereais; entre 40 e 50% das raízes, frutas,
hortaliças e sementes oleaginosas; 20% da carne e produtos lácteos; e 35% dos
pescados.
A FAO calcula que estes alimentos seriam
suficientes para alimentar 2 bilhões de pessoas.
Fonte: ONU Brasil
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