Civilização e barbárie, artigo de
Montserrat Martins.
Nos 100 anos do início da Primeira Guerra
Mundial, ao final de julho de 1914, o mundo vive uma crise civilizatória com
evidentes focos de barbárie, que resistem aos esforços de evolução da
comunidade internacional. Em pleno século XXI ainda resistem práticas
imperialistas e colonialistas tais como os Estados Unidos invadirem o Iraque, a
Rússia cobiçar territórios da Ucrânia armando rebeldes a seu favor, a China
mantendo a ocupação do Tibet.
Esperança de renovação política, os jovens que se
mobilizaram em massa pelas redes sociais na “primavera árabe” promoveram
mudanças sem precedentes naquela região, como um prenúncio de que entramos
mesmo em um novo século e milênio. Mas nesse início de novos tempos, ainda não
surgiram novas formas de governo capazes de praticar a democracia participativa
que se anseia.
Na História da humanidade, como na transição das
Eras e dos sistemas socioeconômicos (da Idade Média para a Idade Moderna, do
feudalismo para o capitalismo), não se mede o tempo em anos, nem mesmo em
décadas, mas mais precisamente em séculos. As velhas práticas de dominação
política não se mudam da noite para o dia, por isso a derrubada de alguns
ditadores da região não foi capaz ainda de gerar uma renovação democrática. O
Egito segue conflagrado e o povo sírio é vítima da guerra civil com um governo
genocida e uma oposição não menos violenta, segundo diversos relatos
jornalísticos.
Nesse contexto de disputa entre a civilização e a
barbárie no século XXI é que temos de tentar compreender o incompreensível e
contextualizar o injustificável. O que choca no recrudescimento da guerra entre
Hamas e Israel em julho de 2014, além da morte de crianças e mulheres, entre
mais de mil civis, é o fato de um Estado reagir de modo desproporcional, a
pretexto de mera defesa, a ataques qualificados por ele como de uma organização
terrorista.
Vozes lúcidas da comunidade judaica internacional
contestam o governo de Israel, violento até mesmo na retórica contra os
próprios aliados, criticando Estados Unidos, Nações Unidas e retaliando as
críticas de outras nações – incluindo o Brasil – que participaram da própria
criação do Estado de Israel, quando Oswaldo Aranha era o secretário-geral da
ONU. A grande maioria das nações apoia a coexistência dos Estados de Israel e
da Palestina, não obstante os extremistas de ambos os lados insistam em negar a
existência da outra nação.
A cultura política predominante do mundo árabe
não é fácil, sabemos. Mas se espera que num povo que já foi vítima do
holocausto surjam formas de se proteger que não reproduzam o genocídio sofrido
– e compreendam que a morte de inocentes é uma fábrica de ódio dos parentes
enlutados. Na cultura judaica se formaram algumas das mais brilhantes mentes da
humanidade, desde as científicas como Einstein e Freud, até as artísticas como
Spielberg ou Adam Sandler. No Brasil e no mundo todo há ícones como Moacyr
Scliar, referência de qualidade literária internacional. A luta contra a guerra
registra as cartas de Einstein a Freud sugerindo uma aliança de lideranças
intelectuais contra essa loucura; Marshall Rosenberg criou o método da CNV
(Comunicação Não Violenta), o mais eficaz para a mediação de conflitos sociais.
Que essa egrégora desautorize o governo de Israel, para que haja soluções que
preservem a vida.
Montserrat
Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
Fonte: EcoDebate
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