Contaminação por plástico atinge
88% de três mil amostras de águas oceânicas.
Um estudo publicado na última semana por cientistas espanhóis
no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences afirma que os
oceanos estão lentamente se tornando uma espécie de sopa cheia de partículas
plásticas microscópicas, passando pelas cadeias alimentares de todo o mundo.
De acordo com a pesquisa, que avaliou 3070
amostras, o problema já atingiu uma escala global, e os principais resíduos
encontrados no oceano são polietileno e polipropileno, polímeros usados na
fabricação de produtos como sacolas plásticas, embalagens de alimentos e
bebidas, utensílios de cozinha e brinquedos, entre outros.
“As correntes oceânicas carregam objetos
plásticos que se quebram em fragmentos cada vez menores devido à radiação
solar. Esses pedaços pequenos, conhecidos como microplásticos, podem durar
centenas de anos e foram detectados em 88% da superfície oceânica analisada”,
comentou Andrés Cózar, pesquisador da Universidade de Cádiz.
“Esses microplásticos têm uma influência no
comportamento e na cadeia alimentar dos organismos marinhos. Por um lado, os
pequenos fragmentos muitas vezes acumulam contaminantes que, se engolidos,
podem ser passados aos organismos durante a digestão; sem esquecer das
obstruções gastrointestinais, que são outro dos problemas mais comuns desse
tipo de resíduo”, explicou Cózar.
“Por outro lado, a abundância de fragmentos
plásticos flutuantes permite que muitos organismos menores naveguem neles e
colonizem lugares que não teriam acesso. Mas provavelmente, a maioria dos
impactos que está ocorrendo devido à poluição plástica nos oceanos ainda não é
conhecida”, concluiu o cientista.
Alguns países engajados em acabar com a
proliferação dos resíduos plásticos estão começando pelas sacolinhas. Nos
Estados Unidos, em muitos estados elas nem são mais utilizadas, sendo
substituídas por sacolas reutilizáveis, biodegradáveis e de papel.
Nações insulares, como o estado de Yap, na
Micronésia, que têm grande parte da sua economia baseada no turismo do mergulho
e sofrem com a poluição causada pelo plástico, foram mais longe e resolveram
banir o seu uso. Os comerciantes que distribuírem as famigeradas sacolas terão
que pagar multas de US$ 100 por violação.
A União Europa também pretende tomar medidas
duras. Novas regras preveem uma redução de 80% no uso de sacolas plásticas até
2019. Na França, um projeto de lei em discussão visa acabar com elas já em
2016, sendo que o país já tem uma taxa de 6 centavos de euro para cada sacola
utilizada pelos consumidores.
Campanha
Três de julho é o Dia Internacional Sem Sacolas
Plásticas, e a campanha Bag Free World, lançada neste ano para celebrar a data,
ressalta o perigo que trazem à biodiversidade e ao meio ambiente.
A campanha conta com a participação de políticos
e celebridades, como Joachim Steiner, diretor do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), e Jereny Irons, ator britânico.
“Há zero justificativas para ainda fabricá-las
[as sacolas plásticas], em qualquer lugar”, declarou Steiner no website da Bag
Free World.
Já Irons afirmou que “as pessoas ainda não estão
conscientes da seriedade do problema do uso de sacolas plásticas. Espero que o
filme Trashed [de 2012, produzido e estrelado pelo ator] permita que as pessoas
tenham uma visão desse problema bastante curável, mas global. [O problema] não
será resolvido sem a vontade comum e política para fazê-lo.”
No site da campanha, estão disponibilizadas
diversas informações sobre a utilização das sacolas plásticas e seu impacto nos
ecossistemas. Por exemplo, embora em média elas sejam usadas por apenas 25 minutos,
levam entre 100 e 500 anos para se desintegrarem, dependendo do tipo de
plástico.
Elas também prejudicam a biodiversidade,
principalmente oceânica, já que muitos animais frequentemente ingerem pedaços
de sacolas plásticas descartadas, o que os faz sufocarem e morrerem. Segundo o
PNUMA, entre 50% e 80% das tartarugas marinhas encontradas mortas apresentam em
seus estômagos fragmentos de sacolas plásticas.
* Este texto foi corrigido às 11h. O texto
original fazia menção a 200 mil amostras de águas, quando na realidade foram
três mil. A gravidade do problema segue sendo a mesma, claro.
Fonte: CarbonoBrasil
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