Mudança climática ameaça
estabilidade econômica de cidades.
por
Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil
Foto: CDP
Novo relatório mostra que 76% dos 207 municípios
analisados creem que as alterações ambientais trazem riscos físicos a seus
habitantes e empresas; documento identificou 757 atividades de adaptação e
mitigação nas cidades avaliadas.
Uma nova pesquisa do Carbon Diclosure Project
(CDP), organização sem fins lucrativos que ajuda cidades e empresas e medirem,
divulgarem, gerirem e compartilharem informações ambientais, revelou que os
governos locais das principais cidades do mundo estão avançando com as ações
para combater as mudanças climáticas, já que acreditam que o fenômeno coloca em
perigo a estabilidade de suas economias.
O relatório, intitulado Protecting our Capital (Protegendo
nosso Capital ou Protegendo nossa Capital),aponta que 76% dos 207
municípios analisados acreditam que os efeitos das mudanças climáticas possam
trazer algum tipo de risco físico a seus habitantes e companhias.
Entre as cidades avaliadas pelo estudo estão
Caracas (Venezuela), Hong Kong, Johanesburgo (África do Sul), Londres
(Inglaterra), Nova Iorque (Estados Unidos), São Paulo, Tóquio (Japão),
Wellington (Nova Zelândia) e Sidney (Austrália).
Alguns dos principais riscos identificados pelas
cidades são: danos materiais e a bens de capital; destruição de meios de
transporte e infraestrutura; e problemas relacionados ao bem-estar dos cidadãos.
“Os governos locais estão agindo à frente para
protegerem seus cidadãos e empresas dos impactos das mudanças climáticas, porém
é preciso mais colaboração com as empresas para aumentar a resiliência urbana.
Através do fornecimento de informação, políticas e incentivos, as cidades podem
ajudar a equipar as empresas para gerirem esses riscos e abraçarem as
oportunidades”, observou Larissa Bulla, diretora do programa de cidades do CDP.
Na verdade, segundo o documento, os municípios
estão muito alinhados com as companhias quando o assunto é identificação de
riscos. Eles reconhecem 69% dos riscos físicos das mudanças climáticas que as
empresas identificam nessas cidades, e estão procurando resolver cerca de 66%
dos identificados pelas corporações.
Por exemplo, a cidade de Caracas relata: “a água
potável e a geração de eletricidade podem ser interrompidas por causa das
mudanças climáticas. Esses fatores podem afetar o setor privado. As enchentes
podem interromper as operações e as companhias de seguros podem enfrentar
reivindicações mais elevadas”.
Tal situação também ocorre no município de
Pittsburgh, nos EUA, em que alguns proprietários de empresas estão abandonando
seus investimentos porque não são mais capazes de buscar compensação pelas
perdas ocorridas como resultado das mudanças climáticas. Tanto é que a
indústria local de seguros recentemente apresentou ações contra as cidades
devido ao fato de que elas não estavam buscando se adaptar às consequências das
mudanças climáticas.
Felizmente, a situação crítica parece estar levando
a mais ação por parte dos municípios e também das empresas. No total, o CDP
identificou 757 atividades de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas nas
cidades avaliadas, como o reporte e redução de emissões de gases do efeito estufa
(GEEs). O documento também aponta que 102 dos 207 municípios já têm planos de
adaptação em vigor.
É o caso de Hong Kong, cuja fornecedora de energia
CLP Holdings sofreu danos locais e interrupção das atividades como resultado do
aumento do nível do mar. A empresa gastou US$ 193 mil elevando os níveis dos
pisos de suas edificações, e investiu mais US$ 516 mil para aumentar a
capacidade de drenagem.
Enquanto isso, o Departamento de Serviços de
Drenagem de Hong Kong direcionou US$ 2,7 bilhões para infraestrutura contra
enchentes, incluindo o alargamento de rios e o armazenamento subterrâneo de
água.
Em Londres, para combater o aumento das
temperaturas, a assessoria financeira Morgan Stanley gastou US$ 4,4 milhões
aprimorando o sistema de condicionadores de ar em seu centro de dados. Além
disso, a cidade está usando seu sistema de planejamento para uma maior
eficiência nos sistemas energético e de resfriamento, garantindo mais
contribuição para uma cidade mais resiliente.
De acordo com o relatório, no Brasil também há bons
exemplos de ações climáticas. Em Campinas, no estado de São Paulo, a indústria
alimentícia e de bebidas exportou bens no valor de US$ 11 bilhões em 2013, mas
a cidade informa que “as indústrias que exigem uso intenso de água, como as companhias
de refrigerante, podem escolher outra região devido à escassez de água no
estado de São Paulo”.
Por isso, algumas cidades do estado, como a capital
e o município de Caieiras, estão desenvolvendo planos de adaptação climática.
Caieiras criou uma parceria com o governo nacional em um projeto de US$ 5,3
milhões para aumentar a capacidade de fluxo do rio Juquery, que é responsável
pelas enchentes locais, diminuindo o risco e intensidade das inundações.
Já o município de São Paulo está investindo US$ 22
bilhões para melhorar sua infraestrutura de transporte. Tal investimento tem o
potencial de criar melhores condições para as empresas operarem, tais como
aumentar a mobilidade dos funcionários e clientes, e gerar um movimento mais
eficiente de insumos e produtos.
A cidade também está colaborando com grandes
companhias para melhorar sua infraestrutura hídrica.A Sabesp, maior companhia
de água do país, fez uma parceria com a capital paulista para criar o Programa
Vida Nova, que investiu US$ 600 milhões em coordenação com o programa de
urbanização de favelas da cidade para fornecer redes de esgoto para 43 favelas
e regiões de pouco desenvolvimento na cidade.
“A colaboração entre as cidades e as empresas é
essencial para reduzir os impactos às populações mais vulneráveis”, afirma o
relatório.
“Três quartos das cidades que fizeram parte do
programa de cidades do CDP neste ano identificaram benefícios substanciais que
fluem para economias públicas e privadas a partir de iniciativas de adaptação
climáticas. Esses benefícios podem ser ampliados através de colaborações mais
estreitas e do compartilhamento de conhecimento e recursos técnicos” concluiu
Gary Lawrence, diretor de sustentabilidade da firma de serviços de suporte e
infraestrutura AECOM.
Fonte: CarbonoBrasil
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