Brasil não ratifica protocolo de
Nagoya.
por Rede GTA - Grupo de
Trabalho Amazônico
O prazo para o Brasil garantir assento à mesa das
negociações sobre as regras internacionais da Convenção sobre a Diversidade
Biológica (CDB) no mundo se esgotou. O Secretário da CDB, o brasileiro Bráulio
Dias, anunciou a entrada em vigor hoje, 11/07/2014, do Protocolo de Nagoya
sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição Justa e Equitativa de Benefícios
Derivados de sua Utilização, adotado em 2010 no âmbito da CDB.
Para o Protocolo de Nagoya entrar em vigor em
2014 são necessárias as assinaturas de pelo menos 50 países, “o protocolo só
começa a valer para o país 90 dias depois que ele apresenta seu voto na ONU”,
explica Bráulio Dias.
Infelizmente o cenário para a participação ativa
do Brasil na primeira reunião das Partes do Protocolo, concomitantemente à 12ª
Conferência das Partes (COP-12) da CDB, em Pyeongchang, República da Coreia, de
6 a 17 de outubro de 2014, não é o mais apropriado. O Brasil, não ratificando o
protocolo, participará como mero observador da reunião, tendo que obedecer as
regras impostas por outros países pelo Protocolo sem serem de acordo com as
necessidades e realidades brasileiras.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira,
sempre afirmou que o Brasil ratificaria o protocolo até este ano, no entanto o
texto foi enviado ao Congresso Nacional, no final de 2012, pela presidente
Dilma Rousseff e até agora segue pendente de aprovação.
Os opositores da participação do Brasil no
Protocolo de Nagoia, como a Frente Parlamentar da Agropecuária acreditam que a
ratificação será um atraso para o agronegócio no país.
Deputado Luiz Carlos Heinze da Frente Parlamentar
da AgropcuáriaO deputado Luiz Carlos Heinze afirma que, “o Protocolo não deu
vazão a agropecuária do país. O Brasil somente conseguiu chegar a ser esta
potência econômica graças ao agronegócio, este é o setor que mais exporta”.
Ainda existem suspeitas que o Protocolo ainda não
foi ratificado, por estarem esperando a aprovação da proposta de alteração da
Medida Provisória no 2.186-16, (23 de agosto de 2001), que trata do acesso ao
patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional
associado, a repartição de benefícios para a conservação e uso sustentável da
biodiversidade.
O departamento que acompanha esse tema no
Ministério das Relações Exteriores (MRE) acredita que o Protocolo não esteja
subordinado ao APL, porém estão fortemente vinculados, sendo que um não
funcionará sem o outro. Além dos argumentos relacionados ao agronegócio e ao
novo projeto de lei, os contrários à ratificação afirmam que o Brasil não
possui condições para o funcionamento do Protocolo de Nagoya, havendo desafios
para os próprios técnicos do assunto.
O deputado Heinze ainda observa a grande barreira
para as exportações das commodities, “os laboratórios de certos países como
Estados Unidos e da Europa utilizam recursos naturais brasileiros e o nosso
país não recebe nada em troca, como vamos trocar essa biodiversidade por
dinheiro? O que traz dinheiro é o agronegócio para esse país!”.
O Brasil é detentor de cerca de 15 a 20% da
biodiversidade do planeta, foi um dos principais negociadores do Protocolo de
Nagoya e um dos primeiros países a assiná-lo. O Protocolo tem por objetivo
final incentivar a conservação e o uso sustentável da biodiversidade. Garantirá
maior equidade entre os países responsáveis pela conservação da biodiversidade
do planeta, e aqueles que usualmente se beneficiam de sua utilização comercial
(p.ex., na indústria farmacêutica, agricultura ou de cosméticos). Além disso,
criará maior facilidade e segurança jurídica para o acesso legal à
biodiversidade de outros países, inclusive às espécies exógenas utilizadas pela
agricultura nacional.
Entretanto sem a ratificação do país com maior
biodiversidade do mundo neste importante documento, o Brasil ficará fora das
importantes decisões internacionais não podendo defender seus interesses,
colaborar de forma justa e equitativa, e muito menos questionar o Estado pelo
descumprimento de normas e regras no cenário político ambiental.
Fonte: CarbonoBrasil
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