Festa do pré-sal esconde riscos
financeiros e ambientais.
Governo e Petrobras
celebram avanço do pré-sal sem explicar ao país a viabilidade do investimento
em razão do cumprimento das metas de emissões.
Plataforma da Petrobrás na
Bacia de Santos, área do pré-sal. (©Greenpeace/Rodrigo Paiva/RPCI).
A presidenta Dilma Rousseff comemora hoje, ao
lado de Graça Foster, da Petrobras, a marca de 500 mil barris produzidos por
dia no pré-sal. Segundo o governo, o ritmo acelerado da produção comprova como
o planejamento foi acertado. A Cerimônia de Comemoração acontece nessa manhã,
às 11h, na sede da Petrobras no Rio de Janeiro.
Essa festa pode custar caro ao país: a queima das
gigantes reservas de petróleo do pré-sal inviabilizariam as metas de redução de
emissões fixadas pelo próprio governo no Plano
Nacional de Mudanças Climáticas. E essa preocupação não cabe somente
àqueles que se interessam pela política do clima, mas também a investidores. Como
indaga Martin Wolf, editor do Financial Times, é altamente arriscado
investir em combustíveis fósseis num contexto onde governantes devem tomar uma
decisão de efetivamente exigir o cumprimento das metas de redução de emissões
dos gases de efeito estufa.
É essencial avaliar, conjuntamente a esse
cenário, os custos ambientais da operação de exploração do pré-sal. Somente com
os 500 mil barris por dia serão emitidas 65 milhões de toneladas de CO2 ao ano.
Considerando os números totais estimados para as reservas do pré-sal – 80
bilhões de barris – a queima de todo o óleo será responsável pela emissão de 35
bilhões de toneladas de CO2 durante um prazo de 40 anos, mantendo o Brasil
entre os dez maiores emissores mundiais.
Vale dizer também que os blocos mapeados para a
exploração entram em conflito com áreas prioritárias de conservação de
biodiversidade em todo o litoral brasileiro, como
constata estudo do Greenpeace. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 44%
da nossa costa marítima é área prioritária de conservação da biodiversidade,
sendo que menos de 3% dessas áreas foram transformadas em Unidades de
Conservação. Para piorar, aproximadamente 9% das áreas prioritárias de
conservação já foram concedidas para exploração de petróleo.
A insegurança em relação ao pré-sal cresce quando
se leva em conta as dificuldades técnicas para extrair o petróleo de águas
profundas. Aproximadamente uma a cada três plataformas atualmente em operação
no Brasil foram construídas há 30 anos ou mais e representam maior
probabilidade de vazamentos. É o que mostra o website Lataria,
desenvolvido pelo Greenpeace para monitorar as ultrapassadas plataformas que
operam na costa brasileira. Dos 102 acidentes registrados no Brasil desde o ano
2000 na exploração petrolífera offshore, 62% aconteceram nas
plataformas mais velhas.
Apesar disso, o governo ainda não definiu como se
dará a execução do Plano
Nacional de Contingência para combater vazamentos de petróleo no mar. O
Plano deveria indicar quais são os recursos humanos, materiais e os
equipamentos complementares para a prevenção, controle e combate da poluição
das águas, mas nada disso consta no documento.
Um exemplo desse risco é o
acidente que aconteceu em novembro de 2011, na Bacia de Santos, envolvendo a
Chevron. Mais de 380 mil litros foram derramados no mar e provaram a
incapacidade brasileira de controlar um vazamento de óleo de grandes
proporções. Vale lembrar também o acidente da BP
no Golfo do México em 2010, um dos maiores acidentes ambientais da história
dos Estados Unidos.
Para Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de
Clima e Energia do Greenpeace, “o que a Dilma não explicou é o preço da festa
de hoje. O Brasil vai investir entre 2013 e 2022 R$ 1,15 trilhão no setor
energético, sendo que 72,5% vai para a área de petróleo e gás”. Para ele, por
mais que o petróleo seja ainda necessário no mundo, cabe questionar a Dilma se
realmente vale a pena comprometer todo esse dinheiro na aventura do pré-sal
face ao risco climático e ambiental”.
Fonte: Greenpeace
Nenhum comentário:
Postar um comentário