O Custo de oportunidade da Copa
do Mundo, artigo de Artur Salles Lisboa de Oliveira.
Torcer ou não torcer, eis a questão. Eu apoio a
segunda opção convicto que esta não representa a solução dos problemas do
Brasil, mas ao escolhê-la levo em consideração o custo de oportunidade aplicado
à Copa do Mundo. A realização do Mundial em território brasileiro não mudará a
qualidade das nossas faculdades, por exemplo, pelo simples fato que as verbas
destinadas à educação são cumpridas. O problema é o ralo da corrupção.
Portanto, o custo de oportunidade da Copa do
Mundo não é financeiro no sentido de questionar montantes que poderiam ter sido
utilizados para construir hospitais ou escolas, mas que foram direcionados para
a construção de estádios. Pode-se argumentar que os orçamentos da saúde e da
educação devem ser aumentados, mas o ponto crucial é que antes de chegar aos
seus destinos finais, as verbas são dilapidadas pelo mal da corrupção.
E aí entra o conceito de custo de oportunidade:
torcer enfaticamente pela seleção brasileira, assistir aos mandos e desmandos
de dirigentes de entidades nacionais e internacionais que impõem suas vontades
sobre a cultura do Brasil pelos interesses comerciais envolvidos, e ver
governantes dando justificativas pífias para os orçamentos bilionários dos
estádios construídos é compactuar com a triste realidade de corrupção no nosso
País; é afirmar que pelo futebol, nós aceitamos qualquer coisa.
É uma questão de honestidade intelectual
questionar o que acontece no País antes, durante e depois da Copa do Mundo. E
que depois de refletir sobre as mazelas nacionais, cada brasileiro faça o seu
próprio julgamento se vale a pena torcer pela seleção brasileira e em qual
intensidade. Para muitos, é realmente desconfortável ser patriota apenas em
dias de jogos da equipe brasileira em face do que vemos na rua: brasileiros mal
educados infringindo leis de trânsito, jogando lixo na rua e ignorando a
realidade de moradores de rua maltrapilhos jogados para escanteio pelo poder público.
E a classe política cada vez mais desmoralizada por escândalos.
Infelizmente, para outros, o exercício do
“patriotismo” eventual, que na verdade nada mais é do que uma desculpa para
promover celebrações pessoais e não culturais no seu sentido mais amplo, é
suficiente para alguém se considerar um brasileiro que não desiste nunca. E
convenhamos: esse lema “sou brasileiro e não desisto nunca” não se aplica a
muitos brasileiros; apenas aos verdadeiros heróis que sobrevivem sem bolsas
governamentais “pegando no batente”. Heróis não são os jogadores, mas os
anônimos que ninguém aplaude e que não atraem os holofotes da mídia.
Artur Salles Lisboa de Oliveira é
administrador de empresas e colunista da Revista Exame (Coluna Meandros das Bolsas de Valores).
Fonte: EcoDebate
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