Seminário temático do III ENA
cria coletivo nacional de agricultura urbana.
Por Renato Cosentino
Grupo vai fortalecer debate da agricultura
urbana em âmbito federal
Com a presença de representantes de diversas
regiões do país, o seminário temático sobre agricultura urbana decidiu criar um
coletivo nacional para articular as iniciativas da sociedade civil e debater a
construção da política pública federal sobre o tema. O encontro aconteceu na
manhã deste domingo no III Encontro Nacional de Agroecologia,
que discutiu também as especificidades e a importância da produção
agroecológica nas cidades.
“A agricultura urbana não é uma simples
transposição da realidade rural para cidade. No contexto urbano é reinventada,
é transformada e cumpre outras funções”, disse Daniela Almeida, do Grupo de
Estudo de Agricultura Urbana da UFMG – AUÊ! e da Articulação Metropolitana de
Agricultura Urbana de Belo Horizonte.
A falta de apoio federal às iniciativas
agroecológicas em áreas urbanas foi alvo de duras críticas das delegações de
todo país. O Ministério do Desenvolvimento Social, que já teve uma dotação
orçamentária vinculada à Secretaria de Segurança Alimentar de R$10 milhões,
cortou o recurso no ano passado sem um anúncio oficial ou justificativa
pública. O corte se manteve para 2014.
“Nós fomos surpreendidos. A explicação que deram
é que foi feita uma avaliação interna que concluiu que os projetos financiados
tinham sido mal-sucedidos. Ou seja, se atribui o corte a um problema de
operacionalização da gestão da política, que a gente já tinha anunciado que
seria problemática da forma proposta. Não foi nossa a decisão desse modelo, mas
sim do próprio Ministério”, lamenta Daniela.
Conflitos, resistências e iniciativas de
difusão da agricultura urbana
Um grande mapa do Brasil foi colocado no centro
da roda e sendo preenchido a partir do relato dos presentes. Muitas falas
questionaram as iniciativas oficiais de horta urbana que não dialogam com os
movimentos agroecológicos existentes. “A gente quer ocupar o lugar de construir
política, e só se constrói política pública pressionando. Se ela é dada a gente
não absorve”, disse Bernardete Montesano, da Rede Carioca de Agricultura
Urbana.
Francisco Caldeira, do bairro de Vargem Grande,
sintetizou o sentimento dos agricultores da cidade da Copa do Mundo e das
Olimpíadas: “O Rio de Janeiro é onde tudo é proibido, mas quase tudo permitido”,
disse ele. Francisco, junto com outros agricultores, sofre com o avanço da
especulação imobiliária e a criminalização de famílias camponesas e quilombolas
que vivem e produzem no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca. A Zona
Oeste é responsável pela maior parte da produção de alimentos do Rio de
Janeiro, apesar de ser considerada área urbana pelo plano diretor.
Já na região metropolitana de Belo Horizonte, o
agricultor Antônio Ribeiro, do município de Nova União, tem missão importante:
guardar as sementes crioulas, mais resistentes e livres de modificações
genéticas. “Nós levamos as sementes nos encontros para troca, passamos a quem
interessa e pegamos de outras pessoas também”, disse o produtor, que tem prazer
em ver as sementes germinarem. “A alegria da gente é saber que a semente é um
germe de vida e que depois vai gerar outras vidas”, completou.
O representante de São Paulo, Andre Biazoti,
contou como as redes sociais têm ajudado a fazer a cabeça dos moradores da
maior região metropolitana do país para a agroecologia. “O nosso foco é
pedagógico e comunicativo, de fazer um movimento forte de pessoas urbanas
revalorizando o campo”, disse ele, que faz parte do Hortelões Urbanos, grupo
que já tem mais de 10 mil membros no Facebook e 30 hortas espalhadas pela
cidade. Eles querem agora encurtar o elo entre produtores e consumidores
através da criação de grupos de consumo.
A criação de coletivo nacional pode ajudar Andre
nesse objetivo. “As organizações aprendem muito umas com as outras, numa
dinâmica de construção do conhecimento agroecológico. Mas isso tem que mudar de
escala agora e envolver outros atores”, finalizou Daniela.
* Imagens: Renato Cosentino
Fonte: III ENA
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