Pesquisa revela que impactos
sobre a floresta amazônica vêm sendo subestimados.
Apesar da queda do índice de desmatamento, a
extração madeireira ilegal e as queimadas podem significar a emissão de mais de
500 milhões de toneladas de carbono
Agência Museu Goeldi, com informações da
Embrapa Amazônia Oriental – Uma pesquisa do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na
Amazônia, publicada recentemente no Global ChangeBiology,
estima que tanto a extração de madeira quanto a ocorrência de fogos acidentais
na Amazônia brasileira podem resultar na emissão de mais de 500 milhões de
toneladas de carbono por ano, contribuindo para as taxas nacionais de emissão
de gases do efeito estufa. Isso equivale a 40% da perda anual de carbono devido
ao desmatamento, ou seja, de quando toda a floresta é retirada.
O estudo, que já ganhou ampla atenção
internacional, é o maior já feito até hoje que estime a perda de carbono de
florestas tropicais. No total, 225 áreas da Amazônia Oriental brasileira foram
investigadas e mais de 70 mil árvores e milhares de amostras de solo, madeira
morta e outros componentes, chamados pelos cientistas como estoques de carbono,
foram analisados.
Impactos da degradação florestal – A
degradação florestal frequentemente começa com a extração de madeiras de alto
valor comercial, como o mogno e o ipê. A retirada dessas árvores causa danos a
dezenas de árvores vizinhas. Uma vez que a floresta tenha sido explorada
formam-se muitas aberturas no dossel, o que significa que a floresta se torna
muito mais seca devido à exposição ao sol e ao vento, o que por sua vez aumenta
o risco de fogos acidentais se espalharem por dentro dessas florestas.
A combinação dos danos causados pela extração de
madeira e fogos acidentais pode então transformar as florestas em um mato
denso, cheio de árvores e cipós de pequeno porte, resultando no armazenamento
40% menor de carbono do que em florestas não perturbadas.
Até agora, programas e políticas de mitigação aos
impactos das mudanças climáticas nos países tropicais têm focado principalmente
nas emissões de carbono decorrentes do desmatamento, não levando em
consideração as provenientes da degradação florestal.
“Os impactos da extração madeireira e do fogo nas
florestas tropicais têm sido constantemente ignorados tanto pela comunidade
científica quanto pelo governo, que focam todos os seus esforços em evitar mais
desmatamento. Essa postura deu grandes resultados para a conservação da
Amazônia brasileira, cuja taxa de desmatamento caiu em mais de 70% nos últimos
10 anos. No entanto, os resultados do nosso estudo mostram que os distúrbios
causados pela exploração de madeira e por fogos acidentais pode degradar
severamente a floresta, com enormes quantidades de carbono antes armazenadas
nas florestas, sendo perdidas”, afirma a brasileira Dra. Erika Berenguer, primeira autora do estudo.
A segunda autora do estudo, Dra. Joice Ferreira da Embrapa Amazônia Oriental,
acrescenta: “Os nossos resultados também chamam a atenção para a implementação
de políticas públicas mais efetivas no Brasil que visem a redução do uso do
fogo na agricultura, já que fogos acidentais podem devastar propriedades rurais
e escapar para áreas florestais próximas causando grande degradação florestal.
É fundamental controlar tanto o uso do fogo quanto a extração ilegal de madeira
para podermos alcançar o compromisso do Brasil em reduzir as suas emissões de
carbono”.
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