Debate sobre crise da água alerta
para ameaça de desertificação da Região Sudeste.
Preservação da Floresta Amazônica e
recuperação das nascentes dos rios, das áreas de mananciais e das matas
ciliares são medidas defendidas pelos participantes do evento “Crise da água:
desafios e soluções”.
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
“Sem a grande Floresta Amazônica, o destino
climático de São Paulo é um deserto.” O alerta é do pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antonio Donato Nobre, que participou
nesta terça-feira (3/6), em São Paulo, do debate “Crise da água: desafios e
soluções”.
Ao apresentar dados do estudo “Rios voadores”,
Nobre explicou aos participantes a relação existente entre a cobertura vegetal
da Região Norte e o clima do Sudeste. “Temos aqui [no Sudeste] dois fatores de
sorte: um chama-se Cordilheira dos Andes e o outro é a Floresta Amazônica”,
relatou ele, para, em seguida, complementar: “Por isso, que nossa região não é
um deserto, como acontece na Namíbia e no Kalahari [regiões desérticas da
África situadas na mesma faixa de latitude do Sudeste brasileiro]”.
Para o pesquisador do INPE, o “pesadelo” é que o
desmatamento acumulado da Região Amazônica, até 2013, atingiu 779.930 km2.
“Essa é a área somada da França e Alemanha”, comparou. O desmatamento, segundo
Nobre, tem provocado o declínio no volume das chuvas constato nos últimos 32
anos no Sudeste e a sua continuidade poderá provocar a desertificação da
região. “A vida no deserto é um pesadelo, e isso que estamos construindo: um
deserto de grande magnitude”, argumentou.
Por fim, ele convocou a sociedade e os governos a
agirem rapidamente para reverter o processo em curso. “A complacência é nosso
pior inimigo. Precisamos de um grande esforço de guerra”, sentenciou.
Promovido por Rede Nossa São Paulo, Programa
Cidades Sustentáveis, Instituto Ethos e Instituto Socioambiental (ISA), com o
apoio da Escola Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo, o debate
contou com a participação de outros especialistas sobre o tema.
O tom de alerta para a gravidade da crise da água
esteve presente desde a abertura do evento. Jorge Abrahão, presidente do
Instituto Ethos, falou da preocupação com falta de água e com a forma pouco
efetiva com que os governos têm enfrentado o problema.
Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São
Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis, considerou a situação muito grave.
“Nossa responsabilidade [da sociedade civil] é alertar para tentar evitar
desastres maiores. Estamos consumindo mais do o planeta tem condições de
repor”, avaliou.
Apresentações dos debatedores
A situação dos mananciais em São Paulo foi
apresentada por Marússia Whately, assessora do Instituto Socioambiental (ISA).
“Já tem vários municípios com racionamento de água para que a cidade de São
Paulo não passe por esta situação”, informou.
Ela denunciou que o entorno do Sistema Cantareira
está quase completamente desmatado e apresentou “sugestões para construir um
futuro sustentável e seguro para a água na Metrópole Paulistana”. Entre as
propostas estão: adotar o racionamento; qualificar o consumo: doméstico,
industrial, irrigação e definir prioridades; e recompor a vegetação dos
mananciais (começando pelas cabeceiras).
Em seguida, Marco Antônio dos Santos, diretor
técnico e operacional da SANASA, empresa municipal de saneamento de Campinas,
citou alguns fatores causadores da crise da água.
Rodrigo Sanches Garcia, promotor de Justiça do
Grupo de Atuação Especial e Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público,
abordou as regras legais do sistema hídrico. Segundo ele, desde 1990 foram
elaborados quatro planos hídricos e só um virou lei
O especialista em recursos hídricos, Sérgio
Rodrigues Ayrimoraes Soares, que representou a Agência Nacional de Águas (ANA)
no debate, apresentou a situação dos recursos hídricos do Brasil.
Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede
Nossa São Paulo, relatou boas práticas de diversa cidades na área de
preservação da água. Ele também defendeu a aprovação do Projeto de Lei 792/2007,
que cria a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais e prevê um
fundo federal para financiar programas de recuperação do meio ambiente.
Ao final do encontro, os participantes puderam
fazer perguntas aos debatedores.
Manifesto “Por maior transparência nas
questões da água”
Durante o evento, o coordenador geral da Rede
Nossa São Paulo, Oded Grajew, leu o manifesto “Por maior transparência nas
questões da água”, que ficará aberto a novas adesões por alguns dias e,
posteriormente, será encaminhado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
O documento propõe, entre outras medidas, a
transparência total nos dados para manter a sociedade informada sobre a real
condição dos reservatórios e das ações que será necessário adotar, mesmo em
caso de chuvas, respondendo as seguintes perguntas: “Qual o impacto do uso do
volume morto na qualidade da água e na saúde pública? A solução de usar a
capacidade de outros sistemas pode dar conta das necessidades de todos aqueles
que dependem das bacias que serão interligadas? E por quanto tempo? Caso o
regime de chuvas do próximo verão seja semelhante ao do verão passado, existe
algum plano de emergência para a cidade? Esse plano, se existir, não deveria
começar a ser adotado desde agora?”.
Fonte: EcoDebate
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