As empresas devem divulgar sua “pegada de plástico”
Washington, Estados Unidos, 25/6/2014 – O custo
ambiental do plástico utilizado pelas empresas produtoras de bens de consumo
chega a mais de US$ 75 bilhões anuais, segundo uma avaliação pioneira divulgada
pela Organização das Nações Unidas (ONU). O cálculo se baseia no custo das
emissões de gases-estufa gerados pela produção de materiais plásticos e o
eventual impacto do lixo resultante sobre a vida silvestre e os ecossistemas,
especialmente nos oceanos, já que apenas 10% dos produtos plásticos são
reciclados.
O custo dos recursos perdidos quando os produtos
de plástico são jogados fora como desperdício, em lugar de irem para a
reciclagem, também influi no ambiente. Os pesquisadores dizem que essas
estimativas, divididas em 16 setores, são uma advertência para as empresas e
seus acionistas. Várias indústrias são particularmente vulneráveis diante da
adoção de novas normas, da demanda dos consumidores ou pela escassez de
recursos em relação ao uso futuro ou à disponibilidade do plástico.
O estudo exorta as empresas a adotarem uma
política de divulgação sobre o uso do plástico para se isolarem dessas crises.
Para isso, os executivos devem compreender com exatidão a quantidade de
plástico que suas companhias utilizam.
“A pesquisa mostra a necessidade de as empresas
considerarem a pegada de plástico, tal como fazem com o carbono, a água e a
silvicultura”, afirmou, no dia 23, Andrew Russell, diretor do Plastic
Disclosure Project (Projeto de Divulgação do Plástico), uma organização sem
fins lucrativos que copatrocinou o estudo sobre o tema. “Ao medir, gerir e
declarar o uso e a eliminação de plástico, as empresas podem reduzir os riscos,
maximizar as oportunidades e se converterem em companhias mais prósperas e
sustentáveis”, assegurou.
A publicação dos resultados coincidiu com a
sessão inaugural da Primeira Assembleia da ONU para o Meio Ambiente, que
acontece em Nairóbi, no Quênia. Mais de 1.300 representantes de governos e do
setor privado participam até o dia 27 do que constitui o fórum de mais alto
nível que as Nações Unidas já organizaram para discutir temas ecológicos.
“O plástico chegou a desempenhar um papel crucial
na vida moderna, mas não podemos ignorar as repercussões para o ambiente das
formas como o usamos”, afirmou Achim Steiner, diretor do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por meio de um comunicado.
A “redução, a reciclagem e o redesenho dos
produtos que utilizam plástico pode trazer múltiplos benefícios para a economia
verde, desde redução dos danos econômicos, aos ecossistemas marinhos e aos
setores do turismo e da pesca, vitais para muitos países em desenvolvimento,
até economia e oportunidades de inovação para as empresas, já que reduzem seus
riscos de reputação”, acrescentou Steiner.
Para o estudo, o Pnuma e o Plastic Disclosure
Project colaboraram com a Trucost, uma consultoria britânica que coloca preço
ao uso dos recursos naturais e que processou os dados numéricos. A
transparência em torno do uso do plástico – e, posteriormente, maior eficiência
em seu uso – poderia se converter em um ponto de competição entre as
companhias.
“Na medida em que as consequências do plástico
ganham mais importância, pode ser que os acionistas das empresas exijam que
estas melhorem suas taxas de revelação”, diz o informe publicado no dia 23.
“Por exemplo, essa informação é útil para os investidores institucionais
interessados em proteger o valor de seus investimentos. Os administradores de
ativos poderiam colaborar com essas empresas para saber como vão gerenciar os
riscos e as oportunidades do plástico”, acrescentou.
As indústrias de alimentos e bebidas sem álcool
têm os maiores custos de “capital natural” em função do uso do plástico, o que
constitui mais de um terço do total, segundo a pesquisa. Como tais, essas
empresas poderiam ser mais vulneráveis aos riscos para sua reputação ou sua
contratação. Por outro lado, a maior proporção do negócio das empresas de
brinquedos, seguidas pelos fabricantes de artigos e calçados esportivos, gira
em torno do plástico, por isso experimentariam maior impacto econômico em razão
de problemas derivados de seu uso.
Mas a declaração pública sobre o uso do plástico
por parte das empresas continua sendo escassa, já que apenas 50 das cem
estudadas informaram a respeito. Além disso, tampouco há padrões em função dos
quais elas tomarão a decisão de tornar pública essa informação.
O mundo produz cerca de 28 milhões de toneladas
de plástico por ano, mas recicla apenas 10%. Uma grande quantidade do lixo
resultante acaba nos oceanos, onde causa danos no valor aproximado de US$ 13
bilhões, segundo novos cálculos da ONU. Em meados deste mês, o governo dos
Estados Unidos organizou uma primeira cúpula sobre a sustentabilidade dos
oceanos, com ênfase na contaminação do plástico.
Por sua vez, o novo informe não pretende ponderar
o uso do plástico em comparação com outros materiais, em função do peso de
transporte ou o impacto acessório sobre bens importantes, como os alimentos.
Tampouco propõe grandes reformas com relação ao seu uso, e por outro lado
defende que o material seja usado simplesmente da maneira mais eficiente e
sustentável possível.
Esta postura foi elogiada pela indústria do
plástico. O Conselho Norte-Americano de Química, um importante grupo de pressão
em Washington, “apoiou” a conclusão e declarou que o informe “oferece um ponto
que a empresas que fabricam e oferecem uma ampla gama de valiosos bens de
consumo podem utilizar na avaliação de seus produtos e processos”. Mas alguns
temem que a indústria do plástico seja muito insular para liderar qualquer
processo de inovação.
“A indústria está representada por um conjunto
muito reduzido de empresas que estão muito arraigadas. Fabricam a maior parte
dos vasilhames que utilizamos, e não são muito abertas à inovação e ao espírito
empresarial”, afirmou Daniella Russo, diretora do Think Beyond Plastic (Pense
Além do Plástico), um fórum que promove novas formas de abordar a contaminação
plástica. Russo disse à IPS que é importante recordar que alguns materiais
plásticos apresentam desafios ambientais importantes, e que outros não.
Por exemplo, os vasilhames de uso único
representam cerca de 50% da produção de plástico e no entanto estão destinados
exclusivamente ao lixo. De fato, o informe do Pnuma identifica os vasilhames
descartáveis e a espuma de poliestireno como os plásticos mais problemáticos.
Porém, Russo assegurou que estes também oferecem as oportunidades de inovação
mais interessantes. “Este é um mercado enorme, pronto para quem quiser
aproveitá-lo”, afirmou. “A inovação pode vir de empresários individuais, mas
também das próprias companhias se sentirem a pressão de fazê-lo”, acrescentou.
Envolverde/IPS
Fonte: ENVOLVERDE
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