Comunidades tradicionais
litorâneas correm risco de desaparecer.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras que
vivem no litoral entre o Rio de Janeiro e São Paulo correm o risco de
desaparecer. Elas sofrem com a grilagem de terras na Serra do Mar, com o
turismo de escala e com a falta de políticas públicas, como educação e
infraestrutura. Para chamar a atenção sobre esses grupos, o Fórum das
Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba lança sábado (28) a campanha
“Preservar é resistir- Em defesa dos territórios tradicionais”. O lançamento
será em Ubatuba.
De acordo com o integrante do fórum Vagner do
Nascimento, um dos principais problemas na região é a sobreposição de unidades
de conservação nas comunidades. Ele diz que a situação “engessa” a população e
desassocia o homem da natureza, fator que garantiu a sobrevivência desses
grupos até hoje. Na região, moradores e especialistas querem a recategorização
das unidades para parque estadual ou reserva extrativista – modalidade criada
pelo ambientalista Chico Mendes.
O vice-presidente da Associação de Moradores do
Pouso da Cajaíba, na Reserva da Juatinga, Francisco Xavier Sobrinho, explica
que, na prática, morar em uma reserva significa ficar impedido de usar a natureza
para sobreviver. Não se pode construir casas de barro, prática agroecológica,
as tradicionais canoas caiçaras – esculpidas em um único tronco -, plantar e
pescar. “ Precisamos resistir para continuar aqui e assegurar o que temos para
as novas gerações”, disse.
Na divisa dos estados, o fórum destaca que a
legislação atual prejudica as comunidades quilombolas Cambury e Fazenda Caixa,
dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina e do Parque Estadual da Serra do
Mar. Em ambas, as práticas culturais são reprimidas. “Ou seja, a pessoa vive na
pobreza em um território rico porque está impossibilitada de viver com
dignidade, conforme suas gerações passaram”, lembrou.
Mais próximo da cidade histórica de Paraty, o
fórum denuncia que a sobreposição de unidades de conservação não permite a
chegada de energia elétrica e a pavimentação de estradas originais, para não
causar impacto ambiental. A situação afeta comunidades caiçaras na costa e
indígenas da Aldeia Araponga. Vivendo em uma área apertada, o grupo tem dificuldade
de acesso à água, a serviços de saúde, está superlotada e tem problemas com o
descarte adequado de lixo.
“Os indígenas têm o território, que originalmente
é deles, ameaçado pela especulação imobiliária para a abertura de novas áreas
para condomínios e pousadas”, disse Vagner.
Outro problema causado pela especulação
imobiliária é a restrição imposta por condomínios de luxo a caiçaras de praias
como a do Sono, que perderam o acesso ao mar. Agora, precisam passar por dentro
do condomínio, em uma carro cedido pelos administradores para chegar aos
barcos. O turismo na costa e em áreas de berçários de peixes, como o Saco do
Mamanguá, também avança e está entre as preocupações do fórum, em defesa da
pesca artesanal.
Para mostrar como vivem, as comunidades fizaram
um vídeo de cerca de dez minutos que lançam junto com a campanha “Preservar é
resistir”, na festa de São Pedro Pescador, sábado (28).
Fonte: EBC
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