RJ: Jacarezinho, Complexo do
Alemão e Complexo da Maré têm alto risco de doenças infecciosas de veiculação
hídrica.
“Jacarezinho, Complexo do Alemão e Complexo da
Maré, no Rio de Janeiro, podem ser considerados como potenciais áreas de alto
risco para o desenvolvimento de doenças infecciosas de veiculação hídrica. Isto
se deve, principalmente, às condições socioeconômicas precárias em que as
populações se encontram, a fragilidade destas áreas diante de eventos
climatológicos extremos e a falta de equidade social no âmbito da saúde.” Os
dados são da aluna do mestrado acadêmico em Saúde Pública e Meio Ambiente da
Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Juliana Viana. O estudo
analisou 11 Regiões Administrativas (RAs) inseridas na área de influência da
Estação de Tratamento de Esgoto Alegria (ETE/Alegria). A pesquisa destacou
ainda a Região Administrativa de Ramos como de alto risco para o
desenvolvimento de doenças infecciosas. Neste caso, o Índice de Sensibilidade
ao Risco (ISR) recebe influência principalmente do indicador epidemiológico,
com destaque para o risco extremo associado ao número de casos de
esquistossomose e leptospirose.
Estação
de Tratamento de Esgoto Alegria (ETE/Alegria) (foto: Luiz Winter / www.rj.gov.br)
“No município do Rio de Janeiro, independente dos
cenários das mudanças climáticas, o setor de saneamento encontra enormes
desafios para universalização dos serviços e manutenção de padrões aceitáveis
de qualidade, incluindo o atendimento das Metas do Milênio da Organização das
Nações Unidas (ONU). Os sistemas de esgotamento sanitário são bons exemplos
dessa dificuldade encontrada”, explicou a aluna. Segundo ela, a grandiosidade da
escala dos sistemas de coleta e tratamento implantados, a falta de recursos
necessários à sua operação e manutenção adequadas e as dificuldades decorrentes
das alternativas tecnológicas adotadas associadas às especificidades da cidade,
resultaram em enorme complexidade e vulnerabilidade, na gestão das águas
urbanas.
Conforme explicou Juliana, um dos principais
projetos propostos pelo estado do Rio de Janeiro, com intuito de incentivar
ações e investimentos em obras de infraestrutura sanitária foi o Programa de
Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), cuja principal obra foi a construção
da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE/Alegria). O Sistema Alegria é
responsável por uma vazão média atual de tratamento de 2,5 m3/s de esgoto, com
redução da carga orgânica em 95%. Além disto, até 2016 o governo do estado terá
implantado novos troncos coletores de esgoto, Faria Timbó e Manguinhos,
ampliando em dobro a capacidade de coleta e tratamento de esgotos da estação.
No entanto, de acordo com a aluna, ao longo do processo
de urbanização do município, inúmeras dificuldades de operacionalização destes
sistemas se acumularam. Dentre as principais limitações técnicas destaca-se a
interconexão do lançamento de efluentes sanitários no sistema de drenagem
pluvial, e vice-versa, tornando-os sistemas extremamente vulneráveis. “Esta
situação além de contaminar os sistemas de drenagem pluvial e os corpos d’água
receptores, lesa os ecossistemas e submete as populações a riscos
epidemiológicos”, comentou.
Para o estudo, Juliana analisou 11 Regiões
Administrativas (RAs), todas inseridas na área de influência da ETE Alegria, na
série histórica de 2000 a 2009, quanto as variáveis epidemiológica (número de
casos); climatológica (precipitação, dias de chuva, temperatura máxima e mínima)
e socioeconômica (educação, renda, distribuição de água, destino do lixo e
esgotamento sanitário). Ao final desta caracterização construiu-se um Índice de
Sensibilidade ao Risco (ISR) para doenças infecciosas de veiculação hídrica.
O estudo se desenvolveu por meio de análise da
relação existente entre coleta e tratamento dos esgotos e a qualidade de vida
da população beneficiada por estes serviços. A partir da identificação de áreas
sensíveis ao risco de desenvolver doenças infecciosas relacionadas a água,
frente às alterações climáticas – como enchentes e deslizamentos -, a aluna
espera que seja possível classificar uma área de estudo quanto ao risco
epidemiológico existente, identificando ainda os indicadores, sociais ou
climatológicos, que necessitam de maior atenção por parte do poder público.
Em uma análise geral das RAs que compõem a área de
influência da ETE Alegria, observou-se que o clima é o principal determinante
da sensibilidade ao risco de desenvolver doenças infecciosas de veiculação
hídrica na área de estudo, representando 44% da variância do ISR. Foi possível
ainda classificar as RAs em três níveis de risco: baixo (Portuária e Centro),
médio (Rio Comprido, São Cristóvão, Tijuca, Vila Isabel, Inhaúma, Méier,
Jacarezinho, Complexo do Alemão e Complexo da Maré) e alto (Ramos).
Segundo a aluna, nota-se a partir destes resultados
que as duas únicas RAs classificadas com baixo risco possuem efetivamente seu
esgoto coletado e tratado pela ETE. Ambas localizam-se em uma área estritamente
comercial, com poucos adensamentos habitacionais. Para Juliana, do ponto de
vista epidemiológico estas áreas não seriam sensíveis ao risco de desenvolver
doenças infecciosas de veiculação hídrica, mas em virtude da média de dias de
chuva ser elevada e a deficiência nos indicadores sociais, o risco
epidemiológico pode aumentar, a partir da expansão das áreas de contaminação.
A aluna acredita que a metodologia aplicada no
estudo poderá ser de grande importância para a vigilância em saúde, servindo
como instrumento a ser utilizado no processo contínuo de análise de informações
sobre ambiente e saúde, sempre com o intuito de orientar a execução de ações de
controle de fatores ambientais que interferem na saúde e contribuem para a
ocorrência de doenças e agravos.
Fonte: EcoDebate
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