Em Belém, PA, 47 espécies de aves
estão provavelmente extintas.
De acordo com a pesquisa do INCT Biodiversidade e
Uso da Terra na Amazônia e da Rede Amazônia Sustentável, as extinções ocorreram
no período de 1800-2000. Os últimos registros na região metropolitana foram
feitos há 33 anos.
Agência Museu Goeldi – Publicada recentemente na revista
internacional Conservation
Biology, pesquisa aponta que 47 espécies de aves podem ter
desaparecido na região metropolitana de Belém nos últimos duzentos anos. Os
últimos registros destes animais foram antes de 1980. Este é um dos grupos que
sofreram perdas dentro da Área de Endemismo Belém, a mais ameaçada da Amazônia
com apenas 28% de floresta original. A pesquisa foi realizada pelo INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia e
a Rede Amazônia Sustentável (RAS).
A pesquisa é liderada pelos ornitólogos Nárgila Moura, Alexander
Lees e Alexandre
Aleixo, todos vinculados ao Museu Emílio Goeldi (MPEG).
A partir de uma extensa análise de coleções científicas e de documentos
históricos, como os relatos de naturalistas do século XIX, os pesquisadores
puderam identificar 329 espécies de aves de terra firme que ocorriam na região
metropolitana. Destas, 14% não foram mais vistas, o que pode significar uma
perda de 0.28 espécies por ano. Para se ter uma ideia, em um intervalo de 117
anos a perda anual na Mata Atlântica, na área de Lagoa Santa (MG), foi de 0.11.
De acordo com o estudo, o período de perdas mais intensas foi no século XX, com
80% de registros entre 1900 e 1980.
Causas – Os dados históricos foram
comparados aos inventários de biodiversidade de Paragominas (PA), um dos locais
de estudo do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia e da Rede Amazônia
Sustentável. O município é o que possui a maior extensão de florestas na área
de endemismo Belém. Os pesquisadores identificaram que as espécies que desapareceram
da região metropolitana têm ocorrência restrita às áreas de floresta intactas
em Paragominas. A hipótese da extinção local está relacionada à suscetibilidade
destas aves à perda de habitat e à caça.
Treze espécies registradas antes de 1900 possuem massa superior a 1 kg.
São aves de caça, aves de rapina e psitacídeos de alto valor comercial, como o
jacamim-de-costas-escuras (Psophia obscura), gavião-real (Harpia harpyja) e ararajuba (Guarouba
guarouba),
respectivamente. A explicação que os pesquisadores dão é a de que as extinções
destes animais maiores ocorreram devido à caça para alimentação, além da
perseguição de aves que atacavam criações de animais e do comércio ilegal.
Outras causas prováveis estão relacionadas às perdas e distúrbios
florestais, associadas à construção da estrada de ferro Belém-Bragança, de 1883
a 1908, e o consequente aumento da população e número de assentamentos na
década de 1960.
Segundo Dr. Alexander
Lees (Museu Goeldi), que já estuda aves na Amazônia há mais de
10 anos, “a extinção de aves pode significar a perda de serviços ecossistêmicos
e de espécies que regulam a população de outros animais. Assim, o ambiente fica
em desequilíbrio, o que pode gerar um efeito em cascata” As aves são um dos
grupos de animais mais bem estudados no mundo e a perda destes animais serve
também como um sinal para a provável perda de outros vertebrados, plantas e
insetos nos remanescentes florestais da Amazônia.
Singularidade de Belém - A região metropolitana de Belém é
um espaço singular para o estudo da avifauna por ser a área que concentra
estudos ornitológicos mais antigos da Amazônia, além de ainda possuir 6.399 km²
de áreas protegidas, com aproximadamente 43% de florestas.
A autora principal do estudo, Dra. Nárgila
Moura (Museu Goeldi), explica a importância de pesquisas como
esta para a proteção da biodiversidade local: “A região de Belém ainda possui
floresta dentro e ao redor, unidades de conservação que estão sendo desmatadas
e degradadas a cada ano. O nosso trabalho serve de alerta para que essas áreas
sejam protegidas com mais rigor e que políticas de recuperação florestal sejam
implementadas para garantir a proteção das espécies que ainda persistem na
região”.
Ameaça – Este não é um processo localizado
apenas na região metropolitana de Belém. A mesma situação é observada em outras
regiões dos trópicos, onde, segundo os pesquisadores, a extinção de espécies é
mais intensa. Na região tropical, a biodiversidade é mais rica, as mudanças no
uso do solo são mais severas e as taxas de extinção são altas.
Estudos sobre causas e padrões destas perdas têm crescido, porém os
pesquisadores apontam que ainda há uma lacuna em relação à compreensão de
tendências de persistência e extinção de espécies em períodos de longo prazo em
áreas alteradas pelo homem. Estimativas de perda de espécies ajudam a compreender
o estado atual e as tendências da biodiversidade, cooperando para identificar
prioridades de conservação e de restauração florestal, e assim evitar outras
perdas biológicas.
A coordenadora do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, Ima
Vieira (Museu Goeldi), aponta a necessidade de aproximar
informações como esta, geradas pela ciência, da sociedade em geral: “Os
processos educativos atuais, por exemplo, são muito fragmentados, não
permitindo que os estudantes construam uma noção equilibrada a respeito dos
problemas socioambientais em seu contexto amazônico. Por isso, a implantação de
políticas públicas que visam mudanças de comportamento em relação ao meio
ambiente e à Amazônia, em particular, devem envolver planejamento e metas de
longo prazo com vistas a construir novos padrões de relações entre ciência,
tecnologia e sociedade”.
Os próximos passos do projeto se concentram na investigação de
biodiversidade e de dinâmicas de uso da terra associadas aos impactos causados
pela produção de biocombustíveis.
Avifauna ameaçada no Parque
Zoobotânico - Das 47
espécies listadas no artigo, sete ainda podem ser vistas no Parque Zoobotânico
do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG): urubu-rei (Sarcoramphus
papa),
gavião-real (Harpia harpyja), arara-azul-grande (Anodorhynchus
hyacinthinus),
ararajuba (Guarouba guarouba), arara-piranga (Ara macao), mutum-cavalo (Pauxi
tuberosa) e
arara-vermelha-grande (Ara chloropterus).
Durante o mês de junho, a Escola da Biodiversidade Amazônia (Ebio) do
INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, educadores, biólogos e
veterinários do Museu Goeldi desenvolverão atividades de educação chamando
atenção para o trabalho realizado pelo Parque Zoobotânico no abrigo de espécies
de aves ameaçadas na região.
INCT Biodiversidade e Uso da
Terra na Amazônia – Sediado no Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG, este INCT tem como foco
pesquisas, ações de educação e comunicação da ciência no Arco do
Desmatamento, uma área de 244.420 km², que se estende pelo sul da
Amazônia, do Maranhão ao Acre, abrange 524 municípios, 36 unidades de
Conservação Federais e Estaduais e 99 Terras Indígenas. O objetivo é que os
estudos em biodiversidade, paisagem amazônica e educação para sustentabilidade
subsidiem a formulação de políticas públicas ambientais na região.
Rede Amazônia Sustentável – É uma iniciativa inovadora
estimulada pelas redes dos projetos “Agroambiente”, “Unindo pesquisa e
educação ambiental para reduzir queimadas na Amazônia” e por subprojetos do
INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia: Análise custo-benefício entre
Conservação e Desenvolvimento (coordenado por Toby
Gardner – Stockholm Resilience Centre e Joice
Ferreira – Embrapa Amazônia Oriental), Determinando os
custos sociais e ambientais de queimadas na Amazônia (coordenado por Jos
Barlow – Lancaster University/MPEG e Ima Vieira – MPEG)
e Dinâmicas de usos da terra no leste do Pará (coordenado por Ima
Vieira – MPEG). A Rede conta ainda com a participação do
Programa Amazônia da organização não governamental The
Nature Conservacy (TNC).
Texto:
Luena Barros
Galeria
de Imagens:
Fonte: Museu
Paraense Emílio Goeldi
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