Estudo relaciona cesariana e não
amamentação na primeira hora de vida.
“Apesar de vários estudos comprovando ser a
amamentação na primeira hora de vida um mecanismo potencial para a promoção da
saúde, associado à maior duração do aleitamento materno e à redução das mortes
infantis, principalmente nos países de baixa renda, ainda assim, essa prática é
pouco desenvolvida.” O alerta é da aluna de doutorado em Saúde Pública da
Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Tania Maria Brasil Esteves, que
defendeu sua tese em 29/5, sob orientação do pesquisador da Escola Iúri da
Costa Leite. Segundo ela, a cesariana foi o fator de risco mais consistente
para a não amamentação na primeira hora de vida em vários contextos culturais,
uma vez que os estudos encontrados foram realizados na Ásia, África e América
do Sul.
A OMS recomenda colocar bebês em contato
direto com a mãe logo após o parto por pelo menos uma hora e estimular a mãe a
identificar se o bebê está pronto para ser amamentado e oferecer ajuda se
necessário (foto: Peter Ilicciev)
Tania Maria acrescenta que indicadores associados
a pior nível socioeconômico e menor acesso a serviços de saúde também foram
identificados como fatores de risco independente para a amamentação na primeira
hora de vida. Em relação à situação das maternidades do Rio de Janeiro, ela
disse que estão longe de alcançar o ideal. “As rotinas e práticas hospitalares
mostram-se impeditivas dessa ação. O desconhecimento do status sorológico para
o HIV também foi identificado como fator de risco independente para a não
amamentação na primeira hora. Apesar de existir um programa de prevenção e
controle do HIV/Aids, mundialmente reconhecido, os serviços de saúde ainda
enfrentam dificuldades no cumprimento de orientações protocolares.”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda
colocar bebês em contato direto com a mãe logo após o parto por pelo menos uma
hora e estimular a mãe a identificar se o bebê está pronto para ser amamentado
e oferecer ajuda se necessário. A aluna explica que essa prática é recomendada
porque é no período pós-parto que os bebês estão mais aptos ao estabelecimento
da amamentação, têm maior resposta ao tato, ao calor e ao odor da mãe, o que
favorece a liberação de hormônios responsáveis pela produção e ejeção do leite.
Os efeitos positivos sobre a saúde do recém-nato
podem ser mediados tanto pelos componentes do leite materno quanto pelo contato
mãe-bebê. O colostro, leite dos primeiros dias, contém fatores que aceleram a
maturação da mucosa intestinal, e fatores imunológicos bioativos que conferem
proteção imunológica ao lactante, prevenindo a colonização por micro-organismos
patogênicos.
Os objetivos do estudo foi sistematizar estudos
observacionais sobre os determinantes da amamentação na primeira hora de vida,
estimar a prevalência da amamentação na primeira hora de vida e analisar
os fatores associados a essa prática em hospitais com mais de 1000
partos/ano, do Sistema Único de Saúde no município do Rio de Janeiro.
A tese foi desenvolvida em formato de dois
artigos. O primeiro constitui-se de revisão sistemática conduzida por meio das
bases de dados Medline, Lilacs, Scopus e Web of Science, sendo incluídos
estudos que utilizaram modelos de regressão e forneceram medidas de associação
ajustada. No segundo artigo, os fatores associados à amamentação na primeira
hora de vida por mães de recém-nascidos em alojamento conjunto no município do
Rio de Janeiro, em 2009, foram analisados por meio de regressão logística multinível.
No entanto, disse ela, o hospital ser credenciado
como amigo da criança foi um fator para a promoção da amamentação na primeira
hora de vida, porém pouco se tem avançado no credenciamento de hospitais nos
últimos anos. “Pode-se dizer que o trabalho a ser realizado é primordialmente a
educação em saúde para a população, e nos hospitais e unidades em saúde em
geral é de educação dos profissionais de saúde para que se sintam motivados e
seguros para implementar esta ação”, conclui.
Foi publicada a portaria 371 de 07/05/14, que
recomenda o contato pele a pele na sala de parto e o estímulo à amamentação na
primeira hora de vida, exceto em casos de HIV ou HTLV positivo. Recomenda ainda
que os cuidados de rotina do recém-nascido sejam postergados para propiciar
esse momento, justificado pelo compromisso firmado pelo Brasil junto à OMS, da
redução da mortalidade infantil em 2/3 até 2015.
Sobre a autora
Tania Maria Brasil Esteves é enfermeira pela
Unirio, especialista em aleitamento materno e bancos de leite humano. Atuou
durante 22 anos em hospitais na área de neonatologia e sete anos na Secretaria
de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, na aréa técnica de aleitamento materno,
como responsável pelos pólos de aleitamento materno das regiões Centro Sul
Fluminense, Médio Paraíba e Baixada da Ilha Grande. Hoje, atua na Coordenação
de Ensino do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/Ensp), onde
coordena o 1º Curso Gratuito da Ensp voltado para os profissionais do SUS. A
meta é transformar o CSEGSF/CMS Manguinhos em Unidade Básica Amiga da
Amamentação até meados de 2015.
Fonte: EcoDebate
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