A Qualidade de Vida tem que estar
acima de tudo, artigo de Luiz Eduardo Corrêa Lima.
Enquanto a humanidade segue se arrastando para
entender e tentar superar alguns problemas geoclimáticos e geopolíticos graves,
alguns homens que detêm grande parte do poder econômico planetário continuam
trabalhando na contramão dos interesses dessa mesma humanidade.
Ora, a situação descrita no parágrafo acima
consiste num grande contrassenso, o qual fica mais agravado ainda, quando os
diferentes governos, principalmente aqueles que dirigem as grandes potências
econômicas, agem de acordo com a vontade manifesta desses grupos econômicos
empresariais dominantes, indo contra os interesses comunitários da grande
maioria da humanidade e, mais particularmente, contra os interesses planetários
naturais.
Em suma, vivemos uma crise planetária ambiental
que é insuflada pelos seres humanos mais ricos com a anuência e a colaboração
dos dirigentes e administradores públicos mundiais e contra os interesses
maiores do planeta e da qualidade de vida da própria humanidade. Os governos se
prendem ao capital e ficam na dependência das pessoas físicas ou jurídicas
economicamente mais poderosas e assim não fazem o dever de casa e não cumprem
as suas obrigações primárias de atender as necessidades humanitárias
fundamentais, porque ficam à mercê dos interesses estritamente econômicos
daqueles que possuem dinheiro.
Dessa maneira, exatamente quem poderia e
legalmente deveria estar atuando no sentido de buscar melhorias para as
diversas questões que afligem a humanidade é quem mais está intensificando os
efeitos indesejáveis dessas questões e consequentemente aumentando as mazelas
que cada vez mais destroem o planeta e prejudicam a qualidade de vida de toda a
humanidade. Os governos necessitam reassumir suas respectivas funções na ordem
social, pois a continuar assim, a humanidade rapidamente entrará numa situação
irreversível de extermínio.
Como é possível reverter esse quadro?
Do ponto de vista teórico, a solução ideal está
na produção de um modelo de Educação Básica para todas as comunidades humanas,
na qual sejam revitalizados, intensificados e incentivados os estudos dos
mecanismos naturais que permitiram e mantiveram a vida na Terra até aqui, a fim
de que a humanidade possa ser fiadora da manutenção desses mecanismos,
independentemente dos interesses particulares de alguns grupos. Entretanto, não
parece haver muita vontade política e nem muita força efetiva para que essa
situação ideal se transforme em plano real de ação, haja vista que esse é um processo
caro e que atrapalharia principalmente aos interesses daqueles que dominam o
poder econômico. Por isso mesmo, Educar, ainda que apenas basicamente a
população humana mundial, lamentavelmente permanece sendo uma utopia pensada
por poucos seres humanos e praticada por um contingente menor ainda.
Além do mais, mesmo que fosse possível o
estabelecimento desse sonhado mecanismo de Educação, o tempo necessário para
que os processos educacionais fossem assumidos pelas diferentes comunidades
seria relativamente longo para disponibilidade temporal que ainda existe.
Infelizmente, nós não temos mais tempo suficiente para depender de ações
meramente educativas. Quer dizer, chegamos num nível tal que, somente a
Educação não será suficiente. Há necessidade de agir imediatamente, pois a
situação, além de calamitosa, também é urgente.
Assim, considerando que não dá mais para
conduzirmos as questões pensando somente nos mecanismos educativos que possam
produzir mudanças comportamentais e minimização progressiva dos problemas,
resta agora a necessidade real e efetiva de implementarmos posturas radicais e
atividades de choque, até mesmo algumas atitudes ditatoriais, que possam
induzir e produzir mudanças significativas. Algumas dessas mudanças terão que
ser, além de rápidas, também profundas e até drásticas, para conseguir
viabilizar a melhoria das condições ambientais do planeta e consequentemente da
qualidade de vida da humanidade. Não há mais o que negociar, agora só nos resta
fazer as mudanças e obviamente cumpre aos diferentes órgãos governamentais a
tarefa de estabelecer as normas e os procedimentos o mais rápido possível.
Até aqui, as inúmeras reuniões internacionais que
têm tentado discutir sobre os grandes problemas ambientais planetários, cada
vez mais, têm terminado sem nenhum acordo positivo. Discute-se, discute-se e
não se chega a lugar nenhum. O que se decide é apenas e tão somente a data da
próxima reunião e nada de positivo acontece. Dessa maneira, o tempo tem
passado, a desgraça só tem se ampliado e a humanidade e o planeta só se
deterioram cada vez mais. Quer dizer, estamos vivendo num ciclo vicioso que
discute o que se deveria fazer, mas que não se propõe a fazer exatamente nada e
assim nada se resolve.
É preciso que os governos parem de pensar e agir
apenas no interesse do viés econômico, pois foi exatamente essa prática
contumaz que nos trouxe a esse “status quo”. Além do mais, é preciso também
lembrar que dinheiro só serve para a espécie humana e que nossa espécie só
poderá utilizar esse dinheiro enquanto estiver vivendo no planeta. Quer dizer,
se não pretendemos continuar aqui no planeta, também não precisamos de
dinheiro. Quero crer que viver seja prioritário sobre ter dinheiro, mas não
parece que os governos pensam desta forma e assim deve ser perguntado: queremos
viver ou queremos ter dinheiro?
Os governos necessitam ser mais pragmáticos em
relação a vida planetária e as comunidades, por sua vez, necessitam ser mais
fortes para contestar, provocar e forçar os governos a tomarem as decisões e
agirem no interesse maior da humanidade e do planeta e não no interesse dos
grandes grupos econômicos. Aliás, está na hora dos próprios seres humanos que
compõem os grupos econômicos privilegiados entenderem que o fim será de todos e
não só dos pobres, pois o dinheiro sozinho não conseguirá fazer a mágica de
manter a vida. Isso quer dizer que os ricos, se quiserem continuar ricos, terão
primeiro que continuar vivos e do jeito que está a situação essa hipótese está
ficando cada vez mais remota.
Para a humanidade, doravante, a busca constante
pela melhoria da qualidade de vida deve ser a única moeda de valor, para que
possamos conseguir reverter o atual estado de coisas e tentar salvar a nossa
espécie da extinção prematura. Fomos nós humanos quem criamos esta situação e somos
nós humanos quem temos que resolvê-la. Pois então, baseado no exposto, eu
conclamo a todos os Senhores que façam suas respectivas opções no sentido de
salvar a nossa espécie. Nós já passamos do ponto da conversa, agora temos que
ter ações efetivas. Obviamente a Educação deverá continuar trabalhando para a
orientação e o aprimoramento das novas práticas que serão transmitidas
continuamente às futuras gerações e que garantirão a continuidade da espécie.
Assim, as futuras gerações de humanos deverão estar preparadas para permitir o
futuro efetivo do Homo sapiens.
Sinceramente eu não tenho mais muita crença nos
dirigentes, mas como disse Zé Rodrix: “eu quero a esperança de óculos” e eu
ainda acredito que o homem como espécie não deve ter vontade, de fato, de
desaparecer do planeta.
Certamente o que está faltando é encarar a
questão com a devida seriedade e esse é um compromisso que os poderes
constituídos podem e devem assumir, fazendo a verdadeira divulgação das reais
condições planetárias para toda a humanidade e orientando os procedimentos a
serem tomados. Talvez, o problema maior que ainda temos, seja o pensamento
errôneo de que a situação ainda está toda sob o nosso controle ou, o que mais
terrível ainda, de achar que Deus vai nos ajudar a superar o problema.
É preciso ter coragem de dizer para a humanidade
que nós, os seres humanos, os pretensos “donos do planeta”, nunca tivemos as
rédeas nas mãos e, o que é pior, agora temos a certeza de não possuímos
efetivamente controle sobre nada. Ao contrário, nós sempre fomos dependentes do
planeta e a nossa apropriação indevida da Terra e o consumo exagerado dos seus
Recursos Naturais foram e são as principais causas dos problemas planetários e
da grande ameaça que paira sobre nós. Por outro lado, também deve ser lembrado
que Deus está em outro plano e que Ele não vai resolver nenhum problema causado
pela humanidade. Nós criamos os problemas e nós temos que solucioná-los,
independentemente da ajuda divina.
Se tudo isso acontecer de maneira contundente e
efetiva, não há dúvida de que as diferentes comunidades, por si próprias,
progressivamente arregaçarão as mangas e começarão a exercer as suas
respectivas ações no que se refere a recuperação planetária, independentemente
dos interesses particulares dos grandes grupos econômicos. Desta maneira, com
apoio das comunidades, os governos ficarão livres para também agir e todos os
humanos trabalharão no sentido de resolver todas as questões que ainda puderem
ser sanadas. Assim, o poder econômico se dobrará aos interesses maiores da
humanidade e do planeta.
Não tenho nenhuma dúvida de que, por mais que
alguns queiram admitir, lá no fundo todas as comunidades e todos nós, seres
humanos, sabemos que a vida é única coisa que realmente importa, todo o resto é
supérfluo e por isso mesmo, nós entendemos que a qualidade de vida é o bem
maior e tem que estar acima de tudo. Por conta disso, mesmo sabendo que será
muito difícil, eu ainda continuo torcendo e acreditando e acreditando na nossa
espécie. Vida longa ao Homo sapiens no planeta Terra.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (58) é Biólogo,
Professor de Ensino Superior, Médio e Técnico, Pesquisador, Ambientalista e
Escritor; é Vice Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL); foi Membro
do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), Vice-Presidente do Comitê das
Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (CBH-PS), Vereador e Presidente da
Câmara Municipal de Caçapava/SP.