Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas (PBMC) vai focar estudo nas cidades.
Entre os anos de 2014 e 2016, o Painel Brasileiro
de Mudanças Climáticas (PBMC) vai focar os estudos e análises nas cidades
brasileiras. O anúncio foi feito pela presidenta do Comitê Científico do
painel, professora Suzana Kahn, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe-UFRJ), durante o seminário Conclusões do 5º Relatório do IPCC
(Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas),
Extremos Climáticos e seus Desdobramentos na Disponibilidade Hídrica e na
Geração Elétrica no Brasil.
De acordo com ela, a análise da emissão de gases
de efeito estufa nas cidades foi uma das novidades do relatório do IPCC,
apresentado no ano passado, dentro do Grupo 3, que analisa as medidas possíveis
de mitigação para evitar os efeitos mais nocivos do aquecimento global.
Ela disse que “a população urbana em 2050 é
esperada para ser de 5,6 [bilhões] a 7,1 bilhões de pessoas. Quase 70% da
população mundial vão estar nas cidades, que consomem mais da metade da energia
mundial. Daí a importância de se olhar as cidades quando se está pensando em
mitigação das emissões. As cidades também são as que vão sofrer os maiores
impactos das emissões, é onde a população está, é onde os danos vão acontecer,
ao mesmo tempo em que as cidades são uma grande fonte de emissão. Portanto,
deve ser tratada como um setor para reduzir as emissões”.
Com isso, o PBMC vai se dedicar a analisar a
situação das cidades brasileiras. “A gente vai trabalhar com a questão da
mudança climática em cidades, tanto no diagnóstico de medidas e tecnologias
disponíveis [quanto na] adequação às tipologias das cidades. Cada uma tem suas
especificidades; medidas de adaptação das cidades brasileiras vulneráveis;
medidas urbanas de mitigação de emissões de gases do efeito estufa. Isso acabou
de ser aprovado, e a gente vai agora chamar uma reunião do conselho diretor e
do comitê científico para discutir o plano de trabalho. As cidades são uma
fonte de emissão e também uma fonte de solução para os problemas climáticos”,
informou Suzana.
Ela explicou a estrutura do Grupo 3 do relatório,
e disse que apenas medidas tecnológicas não serão capazes de manter o
aquecimento global dentro da melhor perspectiva, entre os 900 cenários
analisados pelos cientistas, que é de subir 2,5 graus Celsius até o final do
século. De acordo com Suzana, é necessária uma “profunda descarbonizada da
energia”, o que implica em mudanças no atual padrão de consumo energético
mundial, muito baseado em combustíveis fósseis. A boa notícia, segundo ela, é
que os investimentos previstos em infraestrutura para o setor, nos próximos
anos, já contemplam essa mudança.
O professor do Instituto de Física da
Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo explicou as conclusões do Grupo 1
do IPCC, que trata das bases científicas. De acordo com ele, o relatório mais
recente reconhece com certeza a influência da atividade humana nas mudanças
climáticas, no funcionamento dos ecossistemas, na química da atmosfera e na
dinâmica oceânica. Também aponta evidências concretas do aquecimento global,
como o aumento da concentração de gás carbônico e de vapor de água na
atmosfera, bem como a diminuição da concentração de oxigênio e das geleiras e o
aumento da acidez dos oceanos.
A professora do Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP Maria Assunção Faus da Silva Dias
falou sobre o Grupo 2 do IPCC, que trata dos impactos, adaptação e vulnerabilidade.
De acordo com ela, um dos maiores graus de confiança nas mudanças climáticas na
América do Sul é a diminuição das geleiras nos Andes e o aumento da vazão na
Bacia do Rio da Prata. Outro exemplo é o aumento de eventos extremos, como a
falta de chuvas, que afetou o nível dos reservatórios de água em São Paulo e em
outros estados da Região Sudeste, principalmente.
Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da
Coppe-UFRJ e secretário executivo do PBMC, o ano vai ser difícil para o Brasil
na questão de emissões no setor elétrico, já que choveu pouco e será preciso
acionar as usinas termelétricas, que aumentam a emissão de gases de efeito
estufa. Ele cita também a falta de competitividade no preço do etanol como
alternativa ao combustível fóssil.
“Com base no quinto relatório do IPCC, é óbvio
que a preocupação com o enfrentamento à mudança no clima é grande e ao mesmo
tempo as políticas para isso são insuficientes, tanto do ponto de vista de
mitigação quanto de adaptação. O Brasil tem uma vantagem interessante de ter
reduzido muito o desmatamento; isso é positivo. Mas a área de energia se tornou
importante, pois está aumentando muito suas emissões”, analisou Pinguelli.
Fonte: Agência Brasil
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