segunda-feira, 12 de maio de 2014

O economicismo continua governando o Brasil.
A conjuntura está esquisita. A intuição é do sociólogo Luiz Werneck Vianna em artigo recém-publicado. Pergunta ele: “A que se devem essa difusa sensação de mal-estar e esses pequenos abalos que vêm surpreendendo a rotina do cotidiano não só nos grandes centros metropolitanos?”.

Como compreender, prossegue Werneck Vianna, a “descrença generalizada nas pessoas e nas instituições diante da Constituição mais democrática da nossa história republicana e das políticas bem-sucedidas de inclusão social levadas a efeito nos últimos governos?”.

O que está acontecendo no país do futebol, a “pátria de chuteiras”, onde a Copa do Mundo, o maior e mais cobiçado evento mundial da bola seja rejeitada por metade da população? E que os militares execrados pela memória coletiva que deles se fez por ocasião dos 50 anos do golpe, continuem sendo mobilizadas para tudo? Como se sabe não haverá Copa sem eles.

E agora, como interpretar no 1º de maio as vaias ao governo que mais teria avançado em conquistas e benefícios aos trabalhadores? Considerando que não há nenhum abalo sísmico na economia, indicadores sob controle, mercado de trabalho estável e milhares ascendendo socialmente, como explicar a sensação de mal-estar generalizado?

Está esquisito, diz Werneck Vianna. A “dificuldade” de interpretar a conjuntura, de compreender o que está acontecendo vem desde as grandes manifestações de junho 2013. Desde aquele momento, o que até então tudo parecia normal passou a escapar à compreensão.

Werneck sugere uma hipótese para a ‘leitura’ da esquisita conjuntura. Segundo ele, é “debalde procurarmos as razões desse estado de coisas na dança dos indicadores econômicos. Elas estão noutra parte, visível o fio vermelho com que ele se liga às jornadas de junho, que denunciaram a distância entre o governo e a sociedade civil, especialmente da juventude”.

Na linha de raciocínio do pesquisador da PUC-Rio, as razões do mal-estar não se encontram no “consumidor”, mas no “cidadão”. Segundo ele, “o economicismo, ideologia reinante entre nós, fruto nativo do nosso longevo processo de modernização, retruca com acidez aos argumentos que lhe são estranhos com o bordão ‘é a economia, estúpido!’”.

Em princípio, diz Werneck “isso não era para ser assim, uma vez que o PT tem em suas marcas de fundação a vocação para agir na sociedade civil e favorecer sua organicidade”. O erro maior foi ceder ao economicismo e subordiná-lo à política. A Era Lula e agora seguido por Dilma, ainda com mais intensidade, não foi capaz de romper com o economicismo. O país dialoga muito com o mercado e pouco com a sociedade. Quando muito, a sociedade civil é vista como uma beneficiária indireta dos êxitos da acumulação capitalista resultante dos econômicos bem-sucedidos.

Werneck Vianna dá um exemplo: “O triunfo maior da lógica dos interesses sobre a política veio com a adoção, e o sucesso, do programa Bolsa Família, perfeitamente compatível com os princípios neoliberais de raiz economicista. Sob esse registro, a sociedade não se educou nem se organizou, e corre o risco de se converter na multidão dos profetas apocalípticos que estão por aí”.

Na opinião do sociólogo, “nessa visão rústica da dimensão do interesse, somente o que importa é o bolso, o poder de compra, e as ideias e as crenças de nada valem, dando as costas a lições de clássicos como Weber e Marx, que estudaram seu papel na produção da vida material”.

As forças vivas da sociedade, por outro lado, que poderiam empurrar o governo para além do economicismo foram sendo incorporadas ao Estado. Segundo Werneck, “no governo, porém, essa plataforma de lançamento cedeu, com uma guinada em favor da recuperação da política de modernização da nossa tradição republicana, aí compreendida até a vigente no regime militar. Nos seus fundamentos, passam a ser incorporados elementos da estratégia política de Vargas, com a ampliação do Estado a fim de nele incluir sindicatos e movimentos sociais, em alguns casos mesmo que informalmente, caso do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)”.

“Ficou esquisito”, conclui Werneck Vianna.

A análise da Conjuntura da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

Fonte: IHU On-line

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