O economicismo continua
governando o Brasil.
A conjuntura está esquisita. A intuição é do
sociólogo Luiz Werneck Vianna em artigo recém-publicado. Pergunta ele: “A que
se devem essa difusa sensação de mal-estar e esses pequenos abalos que vêm
surpreendendo a rotina do cotidiano não só nos grandes centros
metropolitanos?”.
Como compreender, prossegue Werneck Vianna, a
“descrença generalizada nas pessoas e nas instituições diante da Constituição
mais democrática da nossa história republicana e das políticas bem-sucedidas de
inclusão social levadas a efeito nos últimos governos?”.
O que está acontecendo no país do futebol, a
“pátria de chuteiras”, onde a Copa do Mundo, o maior e mais cobiçado evento
mundial da bola seja rejeitada por metade da população? E que os militares
execrados pela memória coletiva que deles se fez por ocasião dos 50 anos do
golpe, continuem sendo mobilizadas para tudo? Como se sabe não haverá Copa sem
eles.
E agora, como interpretar no 1º de maio as vaias
ao governo que mais teria avançado em conquistas e benefícios aos
trabalhadores? Considerando que não há nenhum abalo sísmico na economia,
indicadores sob controle, mercado de trabalho estável e milhares ascendendo
socialmente, como explicar a sensação de mal-estar generalizado?
Está esquisito, diz Werneck Vianna. A
“dificuldade” de interpretar a conjuntura, de compreender o que está
acontecendo vem desde as grandes manifestações de junho 2013. Desde aquele
momento, o que até então tudo parecia normal passou a escapar à compreensão.
Werneck sugere uma hipótese para a ‘leitura’ da
esquisita conjuntura. Segundo ele, é “debalde procurarmos as razões desse
estado de coisas na dança dos indicadores econômicos. Elas estão noutra parte,
visível o fio vermelho com que ele se liga às jornadas de junho, que
denunciaram a distância entre o governo e a sociedade civil, especialmente da
juventude”.
Na linha de raciocínio do pesquisador da PUC-Rio,
as razões do mal-estar não se encontram no “consumidor”, mas no “cidadão”.
Segundo ele, “o economicismo, ideologia reinante entre nós, fruto nativo do
nosso longevo processo de modernização, retruca com acidez aos argumentos que
lhe são estranhos com o bordão ‘é a economia, estúpido!’”.
Em princípio, diz Werneck “isso não era para ser
assim, uma vez que o PT tem em suas marcas de fundação a vocação para agir na
sociedade civil e favorecer sua organicidade”. O erro maior foi ceder ao
economicismo e subordiná-lo à política. A Era Lula e agora seguido por Dilma,
ainda com mais intensidade, não foi capaz de romper com o economicismo. O país
dialoga muito com o mercado e pouco com a sociedade. Quando muito, a sociedade
civil é vista como uma beneficiária indireta dos êxitos da acumulação
capitalista resultante dos econômicos bem-sucedidos.
Werneck Vianna dá um exemplo: “O triunfo maior da
lógica dos interesses sobre a política veio com a adoção, e o sucesso, do
programa Bolsa Família, perfeitamente compatível com os princípios neoliberais
de raiz economicista. Sob esse registro, a sociedade não se educou nem se organizou,
e corre o risco de se converter na multidão dos profetas apocalípticos que
estão por aí”.
Na opinião do sociólogo, “nessa visão rústica da
dimensão do interesse, somente o que importa é o bolso, o poder de compra, e as
ideias e as crenças de nada valem, dando as costas a lições de clássicos como
Weber e Marx, que estudaram seu papel na produção da vida material”.
As forças vivas da sociedade, por outro lado, que
poderiam empurrar o governo para além do economicismo foram sendo incorporadas
ao Estado. Segundo Werneck, “no governo, porém, essa plataforma de lançamento
cedeu, com uma guinada em favor da recuperação da política de modernização da
nossa tradição republicana, aí compreendida até a vigente no regime militar.
Nos seus fundamentos, passam a ser incorporados elementos da estratégia
política de Vargas, com a ampliação do Estado a fim de nele incluir sindicatos
e movimentos sociais, em alguns casos mesmo que informalmente, caso do
Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)”.
“Ficou esquisito”, conclui Werneck Vianna.
A análise da Conjuntura da Semana é uma
(re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A
análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU,
pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT e por
Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
Fonte: IHU On-line
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