Extremos climáticos antecipam previsões iniciais do IPCC, diz Carlos Nobre, secretário do MCTI.
Em audiência pública do Senado Federal na última
terça-feira (13), o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos
Nobre, reforçou a importância das ações na área de adaptação, diante do cenário
de eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e frequentes. A reunião
teve como pauta a adaptação brasileira às mudanças
climáticas e as medidas para financiar e diminuir a vulnerabilidade às
secas e às enchentes.
Ao comparar relatórios do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), desde a primeira edição, em
1990 – quando, pontuou ele, o conhecimento sobre o tema era consideravelmente
pequeno – o climatologista lembrou que, mesmo naquela época, o documento
chamava a atenção para a ocorrência de “surpresas”, diante da perturbação
ocasionada ao sistema global planetário aos níveis de 20 a 50 milhões de anos
atrás.
“Não há precedentes na história da Terra de se
alterar o balanço de radiação na atmosfera – que é o que os gases de efeito
estufa fazem – numa taxa tão rápida”, disse, na sessão da Comissão Mista
Permanente sobre Mudanças Climáticas.
Para o especialista, apesar dos avanços da
ciência, a consequência dessa perturbação é um experimento desconhecido e é
impossível obter previsões absolutas. O certo, na sua avaliação, é que o regime
de estabilidade que permitiu o surgimento da agricultura e o agrupamento de
populações humanas nos últimos 12 mil anos está ameaçado. “Toda a civilização
que nós conhecemos nos últimos 10 mil anos dependeu da agricultura que dependeu
dessa estabilidade climática”, sublinhou.
Celeridade
Apesar das incertezas quanto às projeções, Nobre
ressaltou que as observações dos últimos anos mostraram que os impactos estão
acontecendo com mais celeridade do que se imaginava. Há 20 anos, explicou o
pesquisador, as previsões eram de que os extremos climáticos começariam a ficar
muito intensos e mais frequentes a partir de 2040 ou no século 22.
Nesse sentido, Carlos Nobre citou o lançamento de
dois estudos na agência espacial norte-americana (Nasa), nesta segunda-feira
(18), que trazem novas previsões para a Antártica Ocidental, considerada há dez
anos como um dos lugares mais estáveis do mundo. Os estudos desafiam esse
postulado dos grandes mantos de gelo estáveis ao mostrar a instabilidade e a
possibilidade de esses blocos caírem no oceano numa escala de tempo de 200 a
300 anos.
“Isso pode representar o aumento do nível do mar
de alguns metros. Essas são as surpresas das quais não se falava há 20 anos”,
comentou. “De fato, a manifestação dos extremos climáticos, principalmente
aqueles decorrentes da mudança climática e do aquecimento global, estão se
manifestando. Esse é um aspecto muito importante que deve nortear o debate
sobre adaptação”, defendeu.
O climatologista destacou, ainda, eventos
extremos históricos registrados recentemente no Brasil num intervalo de cerca
de 120 anos. No caso do Nordeste, duas secas consecutivas – em 2012 e em 2013.
“Então esse é um extremo e todos os cenários climáticos disponíveis hoje
indicam que no futuro, talvez o futuro já tenha chegado, as secas no Semiárido
se tornarão mais intensas e mais frequentes.”
Na Amazônia, entre 2005 e 2014, foram registradas
duas secas históricas e as três maiores enchentes em 2009, 2012 e 2004. “O IPCC
no seu relatório, lançado em março, diz que o regime da Amazônia está alterado
e isso é devido às mudanças climáticas. Então a região tem que se preparar para
conviver com essa situação”, frisou.
Estratégia
Para Nobre, se as mudanças climáticas estão
acontecendo mais rapidamente, é preciso também mudar a estratégia de adaptação
tendo como foco políticas públicas – especialmente no Brasil, onde a discussão
ficou muito centrada em mitigação, inclusive com protagonismo e avanços a
partir da redução do desmatamento. Por outro lado, a ciência brasileira,
comentou, tem dado a sua contribuição. Como exemplo, ele lembrou a criação da
Rede Clima, em 2008, pelo MCTI. “A rede, que agrega todos os aspectos de
mudanças climáticas, foi muito na direção de adaptação”.
Participaram do debate o presidente da comissão
mista do Senado, Alfredo Sirkis (PSD-RJ), e os representantes do Ministério do
Meio Ambiente, Thiago Mendes, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), Gustavo Mozzer, e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, Sergio Margulis.
Texto: Denise Coelho, MCTI
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário