Denúncia: Laboratório francês
aponta contaminação ambiental em mina de urânio na Bahia.
O laboratório francês da Comissão de Pesquisa e Informação Independente sobre Radioatividade (CRIIRAD), especialista em detectar radioatividade no meio ambiente, com qualificação técnica certificada pelo Ministério da Saúde da França, identificou elevada taxa de radiação gama no ar e contaminação do solo por metais radiotóxicos no entorno da mineração de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que abastece as usinas atômicas de Angra dos Reis (RJ). A mina fica no distrito de Maniaçu,em Caetité, a 750 Km de Salvador, capital da Bahia.
Os efeitos da radiação ionizante sobre o meio ambiente e na saúde da população vem sendo pesquisados desde 2011, numa parceria técnico-científica do CRIIRAD (http://www.criirad.org/) e Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz-RJ), com apoio da organização alemã Médico Internacional. Os dados preliminares desta investigação estão no relatório “Justiça Ambiental e Mineração de Urânio em Caetité: Avaliação Crítica da Gestão Ambiental e dos Impactos à Saúde da População”, que foi apresentado em recente debate público (11.04.2014) promovido pela Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité, no auditório da Universidade do Estado da Bahia.
Os efeitos da radiação ionizante sobre o meio ambiente e na saúde da população vem sendo pesquisados desde 2011, numa parceria técnico-científica do CRIIRAD (http://www.criirad.org/) e Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz-RJ), com apoio da organização alemã Médico Internacional. Os dados preliminares desta investigação estão no relatório “Justiça Ambiental e Mineração de Urânio em Caetité: Avaliação Crítica da Gestão Ambiental e dos Impactos à Saúde da População”, que foi apresentado em recente debate público (11.04.2014) promovido pela Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité, no auditório da Universidade do Estado da Bahia.
MONITORAMENTO
INEFICAZ – O estudo do CRIIRAD traz resultados de análise de amostras coletadas no entorno da mina, em 2012, avalia o relatório de monitoramento ambiental da INB (RT-URA-05-14), referente a 2011/2012, e aponta áreas contaminadas.O CRIIRAD observou falhas e sugeriu correções para as deficiências do monitoramento da INB, que traz indicadores de medição de urânio e radônio, no ar, e de urânio, rádio-226 e chumbo-210, em amostras de água subterrânea. A INB analisa apenas três substâncias radioativas (urânio, rádio e chumbo). Não monitora as cadeias de decaimento do urânio-238 e urânio-235, que contêm mais de 20 substâncias radioativas. O estudo do CRIIRAD traz resultados de análise de amostras coletadas no entorno da mina, em 2012, avalia o relatório de monitoramento ambiental da INB (RT-URA-05-14), referente a 2011/2012, e aponta áreas contaminadas. O CRIIRAD observou falhas e sugeriu correções para as deficiências do monitoramento da INB, que traz indicadores de medição de urânio e radônio, no ar, e de urânio, rádio-226 e chumbo-210, em amostras de água subterrânea. A INB analisa apenas três substâncias radioativas (urânio, rádio e chumbo). Não monitora as cadeias de decaimento do urânio-238 e urânio-235, que contêm mais de 20 substâncias radioativas.
A empresa também não registra o fator de equilíbrio entre radônio e seus produtos de decaimento, cuja radiotoxicidade é maior do que a do urânio, impossibilitando uma avaliação precisa das doses recebidas pela população que vive perto da mina. A quantidade de postos de monitoramento de radônio livre no ar, no ambiente imediato da mina é muito limitada. Não há resultados para a radiação gama no ambiente, a contaminação do solo, da cadeia alimentar e das águas superficiais e sedimentos. Para o físico nuclear Bruno Chareyron, diretor do Laboratório CRIIRAD, o monitoramento da INB é ineficaz e “sem os resultados de um programa abrangente é impossível avaliar os reais impactos da exploração de urânio na região”.
A empresa também não registra o fator de equilíbrio entre radônio e seus produtos de decaimento, cuja radiotoxicidade é maior do que a do urânio, impossibilitando uma avaliação precisa das doses recebidas pela população que vive perto da mina. A quantidade de postos de monitoramento de radônio livre no ar, no ambiente imediato da mina é muito limitada. Não há resultados para a radiação gama no ambiente, a contaminação do solo, da cadeia alimentar e das águas superficiais e sedimentos. Para o físico nuclear Bruno Chareyron, diretor do Laboratório CRIIRAD, o monitoramento da INB é ineficaz e “sem os resultados de um programa abrangente é impossível avaliar os reais impactos da exploração de urânio na região”.
Entre
outras recomendações, o CRIIRADalertou para a necessidade de monitorar a
atividade do radônio dissolvido (que pode ser bastante elevada em águas
subterrâneas e fornecer dose de radioatividade para o consumidor muito maior do
que a emitida pelo urânio) e a atividade do polônio-210 (associado ao
urânio-238 este metal está entre as substâncias mais radiotóxicas quando
ingerido).
REJEITOS
RADIOATIVOS – Dando curso à pesquisa, este
ano o CRIIRAD coletou novas amostras de solo e água e tomou conhecimento que em
2013, a INB realizou prospecção intensiva principalmente na comunidade de
Gameleira (cerca de 2 km da mina, tendo alguns furos mais de 70 metros de
profundidade) e em Juazeiro. Nos dias 9 e 10.04.2014, nessas comunidades foram
medidas doses de radiação gama 2,5 a 10 vezes maior que o valor de fundo,
registrado em locais não afetados pela perfuração. A empresa também não avalia
outros impactos da perfuração, como a contaminação do ar por radônio; a
quantidade de partículas radioativas inaladas e ingeridas pela população e a
possível contaminação da água subterrânea, pela mudança no regime de circulação
da água gerada pela prospecção. Cabe registrar que nos dois dias de trabalho em
campo a equipe da pesquisa foi “monitorada” por escoltas de segurança da
empresa.
Contaminação por metais pesados, de
longa duração (75.000 anos para o tório-230 e 1.600 para o rádio-226),
associados a rejeitos radioativos da mineração foi medida no vale do Riacho da
Vaca. Considerando a atividade do minério (tório-230 – atividade de 1.000
Bq/kg, rádio-226 – atividade de 2.430 Bq/kg e chumbo-210 – atividade de 1.870
Bq/kg) a atividade total de alguns rejeitos é superior a 300.000 Bq/kg.
Medições a um metro acima do solo na borda superior do vale subiram de cerca de
200 c/s (contagem por segundo) para 700 c/s no centro da depressão. O CRIIRAD
recomenda a descontaminação desta área. Além dos rejeitos, a mineração gera
enorme quantidade de poeira radioativa. Avaliando apenas o urânio-238, com um
teor de cerca de 0,3%, a radioatividade do minério é cerca de 37.500 Bq/kg. Mas
quando se considera todos os produtos do urânio (como o tório-230, o rádio-226,
radônio-222, chumbo-210, entre outros) a radioatividade do minério alcança mais
de 500.000 Bq/kg. Dados da INB mostram que em 2011/2012, a concentração média
de urânio no ar a favor dos ventos na mina foi 6 vezes acima do valor
registrado na direção contrária aos ventos predominantes.
O CRIIRAD
não pode entrar na área da empresa, mas foi informada que a proteção da saúde
dos trabalhadores não é prioridade na INB. Tambores cheios de concentrado de
urânio ficam acumulados perto da cabine dos vigias, que recebem doses
consideráveis de radiação gama. Na área 170, onde o urânio é concentrado e
embalado em tambores, material radioativo é lançado no ar. Atingindo uma pureza
de 80% pode-se calcular que a concentração do urânio-238 é superior a
10.000.000 Bq/kg. Como o pó se espalha no ar, o risco de contaminação por
ingestão e inalação é alto. A situação é muito grave, pois como avalia o Comitê
Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica
(UNSCEAR)entre as atividades da cadeia de produção da energia nuclear,
tirandoos acidentes em reatores e bombas atômicas, é na extração e
beneficiamento de urânio (elas ocorrem em Caetité) que trabalhadores e cidadãos
podem receber as doses mais elevadas de radiação.
DANOS
À SAÚDE - O cientista francês esteve em
Caetité em 2012, iniciando uma colaboração com o trabalho de epidemiologia
popular, “Pesquisa participativa de base comunitária sobre os problemas de
saúde na área próxima à mina de urânio em Caetité, Bahia”, iniciado em 2011,
sob a coordenação do pesquisador titular da FIocruz Marcelo Firpo, no âmbito do
projeto internacional EJOLT (Organizações de Justiça Ambiental, Passivos e
Comércio). Coordenado pela Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha), o
ELOLT (ejolt.org) estuda e apoia mobilizações por Justiça Ambiental em várias
partes do mundo, como as relacionadas à mineração de urânio.
Esta não foi a primeira vez que um
laboratório internacional apontou a contaminação que a INB vem promovendo em
Caetité, e que estava prevista no Estudo de Impacto Ambiental da mineração. Em
2008, o Greenpeace contratou um laboratório da Inglaterra que comprovou a
contaminação da água em Maniaçu, fato depois confirmado pelo então Instituto de
Águas do Governo da Bahia..
Na Europa, os laboratórios que
avaliam contaminação radioativa não se reportam a órgãos de regulação do setor
nuclear, como aqui no Brasil, onde são subordinados a Comissão Nacional de
Energia Nuclear. O CRIIRAD atua independente do governo e de empresas
poluidoras, em defesa do direito à radioproteção e à informação confiável sobre
a questão nuclear, em especial os malefícios da radiação ionizante. A
expectativa agora, é que as autoridades dos três poderes levem a sério as
recomendações feitas e adotem as providências que lhes compete para minorar os
prejuízos que a exploração de urânio vem causando aos trabalhadores e
populações da região.
Zoraide Vilasboas
Coordenação de Comunicação da ASSOCIAÇÃO MOVIMENTO PAULO JACKSON - Ética,Justiça,Cidadania
Coordenação de Comunicação da ASSOCIAÇÃO MOVIMENTO PAULO JACKSON - Ética,Justiça,Cidadania
Fonte: EcoDebate
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