CSA tem
autorização para operar renovada, apesar de apesar de pendências ambientais.
Unidade siderúrgica da alemã Thyssenkrupp na Zona Oeste do Rio gera
incômodo na vizinhança
Sueli
Barreto em sua casa, em frente à siderúrgica, inaugurada em 2010: a “chuva de
prata” ainda assusta moradores Leo Martins
RIO - Em junho de 2010, os alto-fornos da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), localizada em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, foram acionados. O empreendimento que prometia levar desenvolvimento à região acabou se transformando em um pesadelo para os moradores, que ainda se queixam de problemas respiratórios e oftalmológicos. No último dia 16, a siderúrgica teve seu Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) renovado por mais 24 meses, com uma série de pendências.
Na prática, a usina está funcionando há quase
quatro anos com o status de pré-operação e assim seguirá por mais dois anos,
pois ainda não conseguiu atender exigências mínimas para obter o aval
definitivo dos órgãos ambientais para seu funcionamento.
O primeiro TAC da TKCSA (controlada pela alemã
ThyssenKrupp e que tem como sócia a mineradora Vale) foi assinado em 30 de
março de 2012 e tinha validade de 24 meses. O documento previa ajustes e
melhorias no processo de produção do aço, com o objetivo principal de evitar
novas ocorrências da chamada “chuva de prata”, um pó prateado emitido a partir
da usina que pode estar associado a problemas de saúde dos moradores — até hoje
não se sabe ao certo se há relação entre as emissões da siderúrgica e as
queixas.
A empresa admite que o pó prateado invadiu as casas do entorno da usina em 2010 e em 2012. Mas moradores dizem que ele ainda cai sobre suas residências. A TKCSA insiste em classificar o pó de grafite, um material que não causa danos à saúde.
Dos 134 itens que constavam do TAC, 44 (ou cerca de
um terço do total) não foram atendidos, foram atendidos parcialmente ou ainda
estão em execução. “A TKCSA realizou ações contidas no TAC, que ao final, não
obtiveram a eficiência esperada pela equipe técnica do Inea (Instituto Estadual
do Ambiente), como, por exemplo, o despoeiramento da casa de corrida dos
alto-fornos.
A TKCSA realizou melhorias, mas não foram
suficientes para controlar toda emissão fugitiva de material particulado dos
alto-fornos, embora o material tenha ficado contido no interior da usina e não
mais ultrapassado para a vizinhança”, disse o Inea em nota. O Inea, ao lado da
Secretaria do Ambiente e da Comissão Estadual de Controle Ambiental, assina o
TAC em nome do governo estadual.
Uma das ações previstas no novo TAC diz respeito
justamente ao despoeiramento, cujo sistema terá de ser aprimorado. A
siderúrgica também terá que dar suporte financeiro aos estudos técnicos que vão
apontar se há “contribuição das emissões do complexo siderúrgico na composição
de partículas inaláveis no ar de Santa Cruz”. Mas os moradores terão de esperar
até janeiro de 2016 — prazo estipulado no TAC — para ver a conclusão desses
estudos.
Moradores convivem com emissão
A dona de casa Sueli Barreto, que mora em frente à
usina, é uma das que ainda se queixam da “chuva de prata”. Ela, que reside ali
há 58 anos, diz ter desenvolvido rinite alérgica após a chegada da siderúrgica
e sofre com dor de cabeça toda vez que varre a casa. A dona de casa teme ainda
pela saúde da filha, que, por ser cega e sofrer de problemas mentais,
praticamente não sai de casa.
— Todo dia tenho que limpar a casa com um pano
úmido porque, se uso a vassoura, o pó sobe e eu começo a ter dor de cabeça —
diz Sueli, mostrando as mãos com um pó preto e pequenos pontos brilhantes, após
passá-las sobre o parapeito da casa.
A também dona de casa Rosimeri Almeida, moradora da
região há 17 anos, guarda uma série de receitas médicas com os remédios
prescritos para atenuar inflamações na pele, nos olhos e nos ouvidos que
começaram a pipocar após o funcionamento da TKCSA. No pico das queixas, ela
chegou a tomar oito medicamentos. Ela admite que a quantidade de pó emitida
pela usina diminuiu de uns tempos para cá, mas afirma que ainda sofre com os
problemas:
— Eu choro de tristeza. A empresa só vai sentir na
pele o que estamos passando quando esses empresários morarem aqui — diz
Rosimeri, que ainda guarda num vidro o pó recolhido dos móveis de sua casa.
Quando a TKCSA foi inaugurada, em junho de 2010, os
executivos da ThyssenKrupp frisavam que a usina fora concebida com um novo
conceito. Suas paredes coloridas buscavam harmonia com a natureza, em
contraponto às tradicionais usinas cinzentas.
O empreendimento, que era o maior investimento
privado no país na época (€ 5 bilhões), recebeu benefícios fiscais do governo
estadual, mas logo enfrentou uma série de problemas, que levaram o Inea a
multar a empresa em R$ 28,5 milhões. Deste montante, metade foi convertido em
ações em benefício da comunidade. O restante ainda está em contestação.
Em nota, a Thyssen diz que, para mitigar a emissão
do pó que atingiu as casas do entorno, investiu R$ 33 milhões em equipamentos,
como previsto no primeiro TAC. Diz ainda que “a assinatura do aditivo (do TAC)
confirma que a TKCSA opera as unidades que integram seu complexo siderúrgico
com segurança e respeito às normas ambientais”.
Imbróglio envolve o TAC
A renovação do TAC acontece em meio a um
disse-me-disse envolvendo a Fiocruz, a Fundacentro (órgão ligado ao Ministério
do Trabalho), a TKCSA e os órgãos ambientais. A Fiocruz integra o grupo de
trabalho formado pela Secretaria do Ambiente em 2011 para avaliar as condições
de saúde dos trabalhadores da usina e dos moradores do entorno e identificar se
as queixas têm relação com a “chuva de prata”.
No último 27 de março, a TKCSA realizou uma
audiência pública para prestar contas do primeiro TAC. Na ocasião, distribuiu
um material em que afirma que foi feita uma auditoria de saúde e que “não foi
possível identificar relação de causalidade entre as condições de saúde da
população e as emissões de 2010 da TKCSA”.
A Fiocruz contesta a informação de que uma
auditoria de saúde foi realizada e salienta que não corrobora o relatório
técnico do grupo de trabalho. Embora um de seus representantes tenha
inicialmente assinado o relatório – datado de agosto de 2012 –, a instituição
pediu a retirada da assinatura três meses depois alegando que “nas
considerações finais do relatório não considera o agravamento do quadro clínico
de moradores registrados no próprio documento como evidência de agravo à saúde
sob responsabilidade da empresa”.
Fonte: O GLOBO ECONOMIA
Fonte: O GLOBO ECONOMIA
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