quinta-feira, 22 de maio de 2014

Estudo alerta para risco de derretimento na Antártica Oriental.
Até agora tida como praticamente imune ao aquecimento global, a porção leste do continente também enfrenta riscos, afirmam pesquisadores. Uma vez iniciado, derretimento na região de Wilkes seria irreversível.
Enquanto a temperatura no Ártico vêm aumentando duas vezes mais rápido do que no resto do planeta, o gelo da Antártica foi durante muito tempo tido como pouco afetado pelas mudanças climáticas. Nos últimos anos, porém, as imagens de geleiras se derretendo colocaram a comunidade científica em alerta, ao menos em relação à região oeste. Somente a Antártica Oriental e seu frio cortante pareciam ser capazes de desafiar as mudanças climáticas.

Mas estudos do Instituto de Pesquisa sobre Impactos Climáticos de Potsdam (PIK), na Alemanha, lançaram dúvidas sobre essa crença. Um artigo publicado esta semana na revista Nature Climate Change indica que o derretimento de apenas uma pequena parte da costa oriental da Antártica poderia provocar um enorme aumento do nível do mar ao longo dos anos, ao “liberar” grandes quantidades de gelo por ela retidas.

“Rolha” retém o gelo

“Até o momento, acreditava-se que apenas a parte oeste da Antártica era instável. Agora sabemos que sua porção leste, que é dez vezes maior, possivelmente também está em perigo”, afirma o pesquisador Anders Levermann, diretor de estratégias globais do PIK e coautor do estudo.

Levermann e seu colega Matthias Mengel chegaram a tais conclusões com base em simulações de computador, usando dados aprimorados sobre o subsolo da Antártica. “A Cratera de Wilkes, na Antártica Oriental, é como uma garrafa deitada”, afirma Mengel, o outro autor do estudo. “Se a rolha for tirada, a garrafa vai se esvaziar.”

Se a “rolha” – placa de gelo ao longo da costa e que “segura” enormes massas de gelo atrás de si– derreter, o nível do mar poderia aumentar de três a quatro metros. Apesar de as temperaturas do ar na região antártica serem muito baixas, correntes oceânicas mais quentes poderiam provocar o degelo na parte costeira.

Até o momento, não há sinais de águas mais quentes nas proximidades do manto de gelo de Wilkes. Algumas simulações partem do princípio de que as condições climáticas poderiam mudar nos próximos 200 anos, fazendo com que a “rolha” derretesse. Ainda assim, cientistas estimam que seriam necessários mais 2 mil anos para que o nível do mar aumentasse um metro.

Um processo longo, mas irreversível

Pelas simulações, demoraria de 5 mil a 10 mil anos para que todo o gelo retido pela “rolha” derretesse. “Mas, uma vez iniciado o derretimento, a água vai continuar a correr até que a bacia se esvazie por inteira”, diz Mengel. “Esse é o principal problema. Com a emissão de cada vez mais gases do efeito estufa, é possível que sejam desencadeadas reações que não conseguiremos controlar no futuro.”

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) prevê um aumento de 16 centímetros no nível dos mares ainda neste século devido ao derretimento da Antártica. Como isso já teria um impacto devastador em muitas áreas costeiras do mundo, qualquer fator adicional é de fundamental importância para os cálculos.

“Provavelmente superestimamos a estabilidade da Antártica Oriental até agora”, diz Levermann. O pesquisador alerta que qualquer pequeno aumento do nível do mar poderia agravar o risco de enchentes em cidades costeiras, como Rio de Janeiro, Nova York, Tóquio e Mumbai.

No momento, a maior responsável na Antártica pelo aumento no nível do mar é a geleira da Ilha de Pine, na Antártica Ocidental. Um enorme iceberg descolou-se da geleira no ano passado e flutua no oceano. O glaciólogo Gael Durand, da Universidade de Grenoble, na França, afirmou à DW em janeiro deste ano que esta enorme geleira já alcançou um estágio em que o derretimento é irreversível, independentemente da temperatura do ar ou do oceano.

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