Estudo alerta para risco de
derretimento na Antártica Oriental.
Até agora tida como
praticamente imune ao aquecimento global, a porção leste do continente também
enfrenta riscos, afirmam pesquisadores. Uma vez iniciado, derretimento na
região de Wilkes seria irreversível.
Enquanto a temperatura no Ártico vêm aumentando
duas vezes mais rápido do que no resto do planeta, o gelo da Antártica foi
durante muito tempo tido como pouco afetado pelas mudanças climáticas. Nos
últimos anos, porém, as imagens de geleiras se derretendo colocaram a
comunidade científica em alerta, ao menos em relação à região oeste. Somente a
Antártica Oriental e seu frio cortante pareciam ser capazes de desafiar as
mudanças climáticas.
Mas estudos do Instituto de Pesquisa sobre
Impactos Climáticos de Potsdam (PIK), na Alemanha, lançaram dúvidas sobre essa
crença. Um artigo publicado esta semana na revista Nature Climate Change
indica que o derretimento de apenas uma pequena parte da costa oriental da
Antártica poderia provocar um enorme aumento do nível do mar ao longo dos anos,
ao “liberar” grandes quantidades de gelo por ela retidas.
“Rolha” retém o gelo
“Até o momento, acreditava-se que apenas a parte
oeste da Antártica era instável. Agora sabemos que sua porção leste, que é dez
vezes maior, possivelmente também está em perigo”, afirma o pesquisador Anders
Levermann, diretor de estratégias globais do PIK e coautor do estudo.
Levermann e seu colega Matthias Mengel chegaram a
tais conclusões com base em simulações de computador, usando dados aprimorados
sobre o subsolo da Antártica. “A Cratera de Wilkes, na Antártica Oriental, é
como uma garrafa deitada”, afirma Mengel, o outro autor do estudo. “Se a rolha
for tirada, a garrafa vai se esvaziar.”
Se a “rolha” – placa de gelo ao longo da costa e
que “segura” enormes massas de gelo atrás de si– derreter, o nível do mar
poderia aumentar de três a quatro metros. Apesar de as temperaturas do ar na
região antártica serem muito baixas, correntes oceânicas mais quentes poderiam
provocar o degelo na parte costeira.
Até o momento, não há sinais de águas mais
quentes nas proximidades do manto de gelo de Wilkes. Algumas simulações partem
do princípio de que as condições climáticas poderiam mudar nos próximos 200
anos, fazendo com que a “rolha” derretesse. Ainda assim, cientistas estimam que
seriam necessários mais 2 mil anos para que o nível do mar aumentasse um metro.
Um processo longo, mas irreversível
Pelas simulações, demoraria de 5 mil a 10 mil
anos para que todo o gelo retido pela “rolha” derretesse. “Mas, uma vez
iniciado o derretimento, a água vai continuar a correr até que a bacia se
esvazie por inteira”, diz Mengel. “Esse é o principal problema. Com a emissão
de cada vez mais gases do efeito estufa, é possível que sejam desencadeadas
reações que não conseguiremos controlar no futuro.”
O mais recente relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) prevê
um aumento de 16 centímetros no nível dos mares ainda neste século devido ao
derretimento da Antártica. Como isso já teria um impacto devastador em muitas
áreas costeiras do mundo, qualquer fator adicional é de fundamental importância
para os cálculos.
“Provavelmente superestimamos a estabilidade da
Antártica Oriental até agora”, diz Levermann. O pesquisador alerta que qualquer
pequeno aumento do nível do mar poderia agravar o risco de enchentes em cidades
costeiras, como Rio de Janeiro, Nova York, Tóquio e Mumbai.
No momento, a maior responsável na Antártica pelo
aumento no nível do mar é a geleira da Ilha de Pine, na Antártica Ocidental. Um
enorme iceberg descolou-se da geleira no ano passado e flutua no oceano. O
glaciólogo Gael Durand, da Universidade de Grenoble, na França, afirmou à DW em
janeiro deste ano que esta enorme geleira já alcançou um estágio em que o
derretimento é irreversível, independentemente da temperatura do ar ou do
oceano.
Fonte: Deutsche Welle
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