Mais de 20 mil famílias foram removidas nos últimos quatro anos no Rio.
Foto: EBC
As obras de mobilidade prometidas para a Copa do
Mundo deste ano levaram à remoção de milhares de famílias no Rio de Janeiro.
Dossiê divulgado pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, em 2013, apontava
que ao menos 8 mil famílias estavam ameaçadas de remoção em função de obras de
infraestrutura para o Mundial.
A comunidade Metrô-Mangueira, que ficava a menos
de 1 quilômetro do Maracanã, foi uma das que foram retiradas. Ex-moradora do
local, Dalva Martins, 67 anos, diz que agora não tem para onde ir.
“Eles demoliram a casa da amiga ali, está tudo no
chão, não esperaram nem tirar as coisas de dentro. Eu tenho seis netos que eu
crio, tenho um recém-nascido, uma criança especial, onde eu vou morar? Pra onde
que eu vou?”
Apesar da acusação do comitê de que a cidade
passa por um processo de especulação imobiliária e “higienização” de áreas
turísticas, o sub-prefeito da zona norte, André Santos, negou que a retirada
das famílias tenha relação com a proximidade do Maracanã.
“Nenhuma relação, é um projeto já iniciado há
bastante tempo, nós vamos construir o polo automotivo, que já tem decreto. Não
vai ficar pronto para a Copa do Mundo, então não tem nada a ver com a Copa”.
Integrante do Comitê Popular e pesquisador do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Orlando Junior afirma ser clara a intenção de, com a
remoção, tirar dos olhos dos turistas as comunidades pobres.
“O processo de remoção da comunidade do
Metrô-Mangueira tem relação direta com esse processo de mercantilização da
cidade, de elitização da cidade”, destacou.
De acordo com a prefeitura, 20,3 mil famílias
foram removidas entre janeiro de 2009 e dezembro de 2013. Desse total, 9,3 mil
estão em imóveis do Minha Casa, Minha Vida, 5 mil recebem aluguel social e 6
mil foram indenizadas. A prefeitura reconhece que 1.720 deixaram as casas em
função de obras, o restante, segundo o órgão, estava em locais de risco.
O Comitê Popular afirma que a maioria das
remoções ocorreu em áreas de extrema valorização imobiliária. Segundo Orlando
Junior, o novo local de moradia das famílias também é um problema.
“Muitas famílias têm sido removidas para a zona
oeste do Rio de Janeiro: Campo Grande, Vila Cosmos. A infraestrutura urbana
destes conjuntos para onde parte das famílias tem sido removidas é bastante
precária, o acesso a supermercado, rede escolar, mobilidade, é um processo de
remoção para áreas sem estrutura para estas famílias, desde saneamento básico
até rede escolar.”
Dois dos bairros que receberam famílias
removidas, Cosmos e Campo Grande, não têm indicadores promissores. De acordo
com Censo de 2010 do IBGE, Cosmos ocupa 117ª posição quando o assunto é
alfabetização e Campo Grande a 88ª posição, em um total de 180 bairros da
cidade.
O projeto que deu origem a esta reportagem foi
vencedor da Categoria Rádio do 7º Concurso Tim Lopes de Jornalismo
Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos
para a Infância (Unicef).
Fonte: EBC
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