Levantamento alerta para os
episódios climáticos críticos combinados à poluição e seus efeitos para a saúde.
Poluição do ar em São Paulo
Mudanças
climáticas e poluição do ar, grandes desafios da saúde deste século, têm nos
trazido situações inusitadas nas cidades que requerem conhecimento e
preparo para enfrentamento. E pior, se considerarmos a combinação de ambas as
situações, haverá uma somatória de efeitos para a saúde.
No
Dia Mundial da Saúde (7), o Instituto Saúde e Sustentabilidade faz um alerta à
população e governantes com relação à qualidade do ar frente as elevadas
temperaturas que passamos recentemente.
No
início deste ano São Paulo viveu um evento climático extremo, de altas
temperaturas. Janeiro foi o mais quente já registrado pelo Instituto Nacional
de Meteorologia – Inmet na capital paulista, desde o início das medições
realizadas no Mirante de Santana, em 1943.
A
média de 31,9ºC de temperatura máxima registrada durante os 31 primeiros dias
do ano coloca janeiro de 2014 como o mais quente desde 1943. Este valor
está 4,5°C acima da média de máxima de referência para janeiro, que é de
27,3°C. Com a sequência do calor, baixa umidade e precipitação, o recorde
histórico de calor dos últimos 71 anos foi confirmado.
Além
disso, os reservatórios do Sistema Cantareira chegaram ao menor nível já
registrado nos seus 39 anos de operação: 13,6%. Segundo a Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), no ano passado, choveu 70%
menos do que o esperado nas quatro represas que formam o sistema. A
precipitação foi equivalente a 1.090 milímetros de chuva, quando a média
histórica anual é de 1.566 milímetros. O mês de janeiro registra, normalmente,
300 milímetros de chuvas, mas, em 2014, o índice ficou em 87,8 milímetros.
Enquanto o último mês do ano costuma registrar, em média, 226 milímetros de
chuva, dezembro passado registrou precipitação de 62 milímetros – o pior mês de
dezembro desde que a medição começou a ser feita, há 84 anos. Durante o período
chuvoso de 2013, entre outubro e março, as chuvas também ficaram 50% abaixo do
esperado.
De
acordo com levantamento realizado pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade, na
cidade de São Paulo, houve também o aumento dos índices de poluentes durante
este período, baixa umidade, baixa precipitação e altas temperaturas recordes.
Considerando-se o PM2,5, apresentou valores acima dos
recomendados pela OMS (média diária de 25 µg/m³) dura nte 9 dias em janeiro e
fevereiro (valores entre 25,1 a 30,6 µg/m³, correspondente 51 µg/m³, se
considerarmos PM10). Em relação ao ozônio, houve ultrapassagens do
valor preconizado pela OMS (maior média de 8 horas diária de 100 µg/m³) em 29
dias (valores entre 100,2 a 159,9 µg/m³).
O
levantamento dos dados realizado pelo Instituto mostra claramente o aumento dos
índices de poluentes em janeiro e fevereiro de 2014. Sabe-se que estes não são
os únicos fatores que podem atuar para o aumento de poluentes, no entanto e
indubitavelmente tiveram uma grande participação nestes efeitos.
Exemplos
como o nosso ocorreram no mundo com importantes repercussões em saúde: Em 2003,
a onda de calor no verão da Europa, com temperaturas 10ºC acima da média dos 30
anos anteriores, acarretou 70 mil mortes. A onda de calor e incêndios
florestais no verão na Rússia em 2010 deixou 56 mil mortos. Embora a mudança de
clima seja um fenômeno global, suas consequências afetam muito mais as
populações mais vulneráveis como idosos e crianças ou indivíduos com doenças
prévias, e em se tratando de países pobres ou em desenvolvimento, pode haver um
impacto até 20 a 30 vezes maior.
Em
São Paulo vivemos uma situação meteorológica extrema em setembro de 2010, com
onze dias consecutivos de umidade relativa do ar abaixo de 30%, quando a média
diária do MP10 superou, durante dias seguidos, os 100 µg/m³ em
diversas estações de monitoramento. Em
estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP, com autópsias feitas durante
esta mesma semana, demonstraram o aumento significativo de mortes nesta semana
por doenças cardiovasculares associadas à baixa umidade do ar e níveis de
particulados elevados.
É
importante salientar que os efeitos do calor por si só são relevantes, e
somados ao aumento dos poluentes exacerbam ainda mais os efeitos para a saúde.
Se pensarmos que a cidade encontra-se em ebulição, entre ilhas urbanas de
calor, impermeabilização do solo, a retenção de calor pela cor preta do
concreto, aquecimento e despejo de poluentes pelos escapamentos de veículos,
como será possível respirar daqui a pouco?
“Recomenda-se
haver máxima atenção por parte dos governantes para alertar a população e em
nestas situações haver o desdobramento em enérgicas iniciativas para
salvaguarda da população. Sigamos os exemplos dos níveis altíssimos de poluição
em Paris há duas semanas e em Londres esta semana”, alerta a médica e diretora
presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Vormittag. “Por
esta razão, o Instituto escolheu este tema para abordar no dia mundial de saúde
e contribuir na defesa destes males incontroláveis que virão cada vez mais e em
episódios isolados”, completa.
“Com
o aumento dos poluentes e, sem políticas públicas efetivas para o controle
deles, a população sofre com doenças atribuíveis à poluição, líder ambiental em
adoecimento e mortes como, câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias”, lembra
Evangelina.
No
último ano, o Instituto Saúde e Sustentabilidade divulgou um estudo em que
ficou apontado: mais de 15 mil mortes no Estado de São Paulo são decorrentes da
poluição.
Instituto Saúde e
Sustentabilidade
O Instituto Saúde e Sustentabilidade é uma organização que detém a qualificação de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), idealizado em 2008 pela médica Evangelina da Motta P. A, de Araujo Vormittag. Tem como objetivo propiciar a melhoria da saúde humana e o viver nas grandes cidades por meio da transformação do conhecimento científico em informação clara e acessível, do incentivo à mobilização social e da construção de políticas públicas. O Instituto tem sede em São Paulo e conta com o apoio de 65 fundadores, entre médicos e profissionais de diversas áreas. www.saudeesustentabi lidade.org.br
Fonte: EcoDebate
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