Aumento de casos de sarampo
desperta alerta para os sintomas e a prevenção da doença.
Laboratório de Bioquímica Farmacêutica. Foto:
Marcos Santos/USP Imagens
O sarampo é causado por um vírus chamado
morbillivírus. É uma doença infecciosa, viral e muito comum na infância. Sua
transmissão se dá por secreções das vias respiratórias, como gotículas
eliminadas pelo espirro ou pela tosse de pessoas infectadas. O período de
incubação, ou seja, o tempo entre o contágio e o aparecimento dos sintomas, é
de cerca de doze dias e a transmissão pode ocorrer antes do aparecimento dos
sintomas e estender-se até o quarto dia depois do aparecimentos das placas
avermelhadas na pele. O Brasil registrou, em todo o ano de 2013, 201 casos
de sarampo. Esse número foi cinco vezes maior do que o surto detectado em 2011
(42 casos) e 100 vezes maior do que os números de 2012 (2 casos). Em 2014, até
a sexta semana epidemiológica, (encerrada em 8/2/2014), temos 74 casos
notificados, todos eles localizados no Ceará (70) e Pernambuco (4). Metade
desses casos foi detectado em menores de 1 ano de vida e a maioria entre
pessoas sem esquema vacinal completo. Em entrevista, o pediatra e
especialista em doenças infecciosas pediátricas do Instituto Nacional de Saúde
da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)
Leonardo Menezes esclarece dúvidas sobre sintomas, tratamento e prevenção da
doença.
Quais os principais sintomas do sarampo e
como é feito o diagnóstico?
Leonardo Menezes: Após o período de
incubação, o paciente pode desenvolver febre, tosse, conjuntivite não purulenta
(olho vermelho), fotofobia (incapacidade de olhar para luz) e coriza (nariz
escorrendo). Depois de dois a três dias, nota-se pequenas lesões na mucosa
bucal, também conhecida como manchas de Koplik. Essas manchas ficam presentes
entre 12 a 72 horas. Outra característica da doença é a manifestação do
exantema (rash ou lesões vermelhas) no corpo, começando pela região frontal
(nuca ou porção posterior da cabeça) espalhando-se pelos braços e pernas. Após
três dias, as manchas se tornam acastanhadas com descamação fina da pele. A
febre, habitualmente, é alta (chegando a 40ºC) e tem pico entre o segundo e o
terceiro dia do aparecimento do exantema. O diagnóstico da doença é,
basicamente, clínico, embora exista a possibilidade de confirmação sorológica.
Quais as complicações da doença e o
tratamento adequado?
Menezes: O sarampo pode ter complicações
como: diarreia, vômitos, hemorragias, alterações neurológicas (convulsões e
encefalites), pneumonia bacteriana secundária e hepatite.
Não há tratamento específico disponível. Existem
alguns estudos com a utilização de Ribavirina em indivíduos imunocomprometidos.
Porém, essa medicação não é licenciada para o tratamento do sarampo. A
vitamina A deve ser oferecida em países subdesenvolvidos e em pacientes
desnutridos, uma vez, que a suplementação dessa vitamina reduz complicações
como pneumonia e diarreia nas populações que possuem deficiência desses
nutrientes.
É possível ter sarampo por mais de uma
vez?
Menezes: O sarampo produz uma imunidade
duradoura em indivíduos saudáveis. O esquema vacinal completo, bem como, uma
história pregressa da doença confere proteção ao paciente, não permitindo novas
manifestações clínicas quando em contato com o vírus numa segunda oportunidade.
Como se previne o sarampo?
Menezes: O sarampo é uma doença de prevenção
através da vacinação, conforme previsto no Programa Nacional de Imunizações. A
vacina do sarampo é recomendada aos 12 meses de vida, por meio da tríplice
viral (sarampo, caxumba e rubéola) e aos 15 meses de vida (reforço), com a
tetra viral que protege a criança do sarampo, caxumba, rubéola e varicela
(catapora). Em situações de surtos e epidemias, podemos utilizar vacinação de
bloqueio e imunização passiva, com aplicação de imunoglobulina standard ou
imunoglobulina venosa hiperimune, sempre após o contato com casos suspeitos ou
confirmados da doença ou conforme determinação das autoridades de saúde, por
meio de campanhas extraordinárias de vacinação.
O que se deve fazer frente a um caso
suspeito de sarampo?
Menezes: Todos os relatos de febre e
exantema devem ser avaliados por um profissional de saúde capacitado em fazer o
diagnóstico clínico. Em caso de detecção suspeita, o mesmo deverá ser
notificado em até 24 horas à Secretaria de Estado de Saúde. O médico
responsável deverá solicitar a coleta de material (sangue, secreção
nasofaríngea e urina) para a realização de diagnóstico laboratorial. Medidas de
controle deverão der adotadas (vacinação de bloqueio em susceptíveis e imunoglobulina,
especialmente, em grávidas e pacientes imunossuprimidos). Orientar o isolamento
social e reforçar a atenção para que o paciente com sinais e sintomas da doença
fique em casa até o desaparecimento do exantema.
Existem recomendações especiais para
viajantes à áreas de surto ou epidemia e aos participantes de grandes eventos
de massa?
Menezes: Os viajantes e participantes de
grandes eventos devem checar seus cartões de vacina. As vacinas desatualizadas
ou faltantes devem ser dadas dentro de um prazo de 15 dias antes da viagem ou
evento. As crianças de 6 meses a 1 ano, que viajarão para o Nordeste do Brasil,
devem receber vacina tríplice viral. É importante ressaltar que essa dose não
interfere nas doses realizadas dentro do calendário oficial. Crianças menores
de 6 meses devem evitar viajar para esses destinos.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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