A crise de água na Índia, artigo
de José Eustáquio Diniz Alves.
Indianos que vivem em favela de
Mumbai usam torneiras públicas para ter acesso a água. Foto: Controvérsia
O crescimento demoeconômico da Índia está
aumentando o stress hídrico do país. A população da Índia era de 371,8 milhões
de habitantes em 1950 e chegou a 1,224 bilhão em 2010. Mais que triplicou em 60
anos. A divisão de população da ONU estima, para o ano de 2050, uma população
de quase 2 bilhões na hipótese alta, de 1,69 bilhão na hipótese média e de
1,457 bilhão na hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 2,57
bilhões de habitantes, na alta, de 1,55 bilhão, na média, e 880 milhões na
hipótese baixa. Em qualquer cenário a população indiana vai crescer até 2050.
Na menor das hipóteses, o crescimento terá um acréscimo de 250 milhões de
habitantes até meados do atual século.
Após o fim da URSS, a Índia fez uma série de
reformas liberalizantes que manteve o crescimento econômico acima de 6% ao ano.
Em poder de paridade de compra a Índia é a terceira maior economia do mundo e
precisa gerar um milhão de empregos por mês somente para incorporar as novas
gerações que chegam à idade ativa.
Mas o crescimento demográfico e econômico pode
ser travado pela falta d’água. A Índia abriga 16% da população mundial, mas
possui somente 4% da água potável do mundo (a título de comparação o Brasil
possui 3% da população mundial e 13% da água doce disponível do Planeta, mesmo
assim está embarcando na canoa furada da transposição de água do rio São
Francisco e o governador de São Paulo quer transpor água do rio Paraíba do Sul
para o sistema Cantareira). Em geral, ninguém se preocupa com o direito da água
e com a liberdade dos rios, o que faz com que a visão utilitarista da natureza
esteja gerando uma grande pressão sobre os recursos hídricos.
A escassez de água potável está se tornando cada
vez mais aguda em todo o mundo, mas especialmente na Índia. A disponibilidade
indiana de água per capita, no período 1951-2001, diminuiu de 5.177 litros para
1.820 litros por ano e deve se reduzir para 1.140 litros por pessoa até 2050.
Nos últimos anos, o rápido desenvolvimento das indústrias mineradoras em várias
regiões da Índia contaminou a água potável que é consumida pela população. O
desmatamento massivo e a degradação do meio ambiente agravam a crise hídrica.
Os rios da Índia estão ficando muito rasos, não
sendo capazes de conter água suficiente para sustentar as demandas de diversos
setores. Além disto a China faz barragens no Tibet desviando e utilizando
grande parte da água que ia para a Índia e o sudeste asiático. Por isso a
maioria dos agricultores indianos depende da água subterrânea para os suas
atividades agrícolas, bem como para fins domésticos. Mas a sobreutilização dos
aquíferos pela agricultura irrigada diminui os estoques de água.
Segundo reportagem do jornal indiano Economic
Times (ET), há cerca de 50 anos, no norte da Gujurat, os agricultores obtinham
água dos poços escavados numa profundidade de 30 a 40 pés. Agora os poços
tubulares estão indo até 1.300 pés. Mesmo assim, está difícil a extração de
água, pois não há recarga suficiente dos aquíferos. Portanto, a maior parte da
Índia rural está sob estresse hídrico.
Em resumo:
- Índia está enfrentando uma crise de água
potável, pois tem apenas 4% da água doce do mundo, mas 16 % da população
global;
- Metade do abastecimento de água da Índia em
áreas rurais (onde vivem 70% da população do país) está contaminada por
bactérias tóxicas;
- Todos os anos, cerca de 600.000 crianças
indiana morrem de diarreia ou pneumonia, muitas vezes causados ??por água
tóxica ou falta de higiene;
- A falta de água potável tem afetado a saúde dos
indianos de todas as idades;
- A geração de empregos na indústria na Índia tem
diminuído nos últimos anos e uma das principais razões é as dificuldades para
obter água limpa.
Nos últimos 20 anos, parecia que a Índia,
finalmente, conseguiria reduzir a pobreza e se tornar uma grande potência
mundial. Além de ser decantada como economia emergente e membro dos BRICS pelo
establishment internacional, o economista Richard Bruce, da Universidade da
Califórnia, chegou até a considerar que a Índia sairia do Terceiro Mundo para o
Primeiro Mundo durante o século XXI.
Porém, o sonho de progresso está indo por água
abaixo, dentre outros motivos, devido à crise hídrica e ao agravamento dos
problemas ambientais.
A Índia é uma potência emergente que está
submergindo. A crise econômica está deixando toda uma geração de jovens sem emprego
e sem alternativas de vida descente.
O que se prevê para o futuro imediato da Índia é,
lamentavelmente, crise econômica, ambiental e social.
Referências:
Nageshwar Patnaik. Half of world population to struggle for water in 2050, ET Bureau Jan 17, 2011 http://articles.economictimes.indiatimes.com/2011-01-17/news/28431152_1_fresh-water-ground-water-water-bodies
Richard
Bruce. The First World Will Soon Be the Only World, September 23, 2013
http://richleebruce.com/economics/3rd-world.html
http://richleebruce.com/economics/3rd-world.html
The
Globalist. Just The Facts: India’s Water Crisis, January 14, 2014
http://www.theglobalist.com/just-facts-indias-water-crisis/
http://www.theglobalist.com/just-facts-indias-water-crisis/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate,
Doutor em demografia e professor titular do mestrado em População, Território e
Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail:
jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate
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