sábado, 26 de abril de 2014

Joaquim Barbosa, benfeitor do PT (mas o PT não notou).
Imagine que alguém percebe que está com um furúnculo. A reação normal é: a) ficar incomodado; b) pesquisar qual é o tratamento; c) acalmar-se com o ciclo da doença, tratar-se, superar o problema. Pode ficar uma pequena cicatriz. De qualquer modo, é interessante saber as causas, e evitá-las no futuro, se possível.

Agora imagine que alguém, ao manifestar um furúnculo gigantesco, alimentado pelo acúmulo de toxinas no organismo, resolva se identificar com o abscesso, e ficar bravo com quem diz que ele está doente. Que diga: “isso não é um problema. O furúnculo é minha inteligência, minha força de vontade, minha beleza. Eu me orgulho de meu furúnculo. Na verdade, pensando bem, eu SOU meu furúnculo”. Evidentemente, para quem olha de fora, a pessoa tem um problema bem maior do que um furúnculo. Quanto mais elogiar e defender a bolha de pus, mais inquietação e desconfiança com sua saúde psíquica ela causará.

Tem um filme de 1989 que brinca com essa situação, chamado Como Fazer Carreira em Publicidade. No meio (com o perdão do spoiler), o publicitário descobre que o furúnculo que tem no pescoço é uma outra cabeça surgindo, que disputará o poder com a cabeça original. Não é por acaso que o universo do filme é a publicidade – onde a doença frequentemente é vendida como cura.

Eu fico espantado com a virulência que se manifesta às vezes contra o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que foi relator do processo do mensalão. Ele é acusado de ser parcial, injusto, egóico, autocrático. De estar a serviço dos inimigos do PT. Eu não tenho motivos para duvidar que Joaquim seja inclusive um homem de esquerda, como ele se diz, eleitor (ou ex-eleitor) de Lula e do PT. Tirante o gosto meio brega por Miami e Paris, claro.

Talve ele tenha se exaltado um pouco ao tentar demonstrar que havia sim um furúnculo – mas essa era condição inicial para curar o próprio PT. Ou que tenha agido como o menino que grita que “o rei está nu”, mas um menino com um porrete na mão, para enfatizar seu ponto. Na verdade, Joaquim só usou uma força proporcional ao crescente delírio (ou engodo) petista.

Joaquim não é inimigo – Joaquim só é inimigo do furúnculo. Já o meu inimigo é o José Dirceu, que: a) corrompeu; b) corrompeu com o meu dinheiro; c) pior, corrompeu dando o meu dinheiro para aqueles que deveriam ser exterminados antes de mais nada, os tiozões acajú fisiológicos estupradores. Os políticos oportunistas dos grotões (geográficos e psíquicos) que sintetizam tudo que o país tem de mais tacanho, atrasado, medievo-patriarcal. Tudo em nome, como sempre, da “governabilidade”.

Mas parte considerável do PT parece convencida de que é, sim, o furúnculo (ou publicitariamente convencido de que é melhor não chamar a doença pelo nome, e jogar a culpa no médico). E não aproveitar a última oportunidade de “refundação forçada”. Refundação foi o termo usado em 2005 por correntes mais lúcidas do PT diante das acusações do mensalão, que achavam adequado não varrer a sujeira para debaixo do tapete (ou chamar o furúnculo de chefe).

Essa corrente foi derrotada pelo pragmatismo publicitário. Um manifesto refundador da época alertava: “Os crimes cometidos, alguns confessados à opinião pública, viraram arma da direita contra todos nós, contra nossos eleitores”. Na verdade, vemos hoje, não só viraram “arma da direita”. Mais do que isso, a teimosia rancorosa do PT inventou uma nova direita, tão alucinada quanto alucinados são os furunculistas petistas, e a alimenta continuamente. Tudo por causa da recusa em chamar furúnculo... de furúnculo.

Não há nada tão (ridiculamente) simbólico quanto a trajetória do deputado federal André Vargas, que fez, na presença de Joaquim no Congresso Nacional, o gesto do punho fechado dos petistas presos – para depois se revelar um corrupto profissa. Joaquim Barbosa, o comuna dos comunas, é o benfeitor do PT. 

Pena que o PT não notou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário