Estudo indica que aumento do CO2
na atmosfera faz com que alimentos produzam menos nutrientes.
Aumento de CO2 na atmosfera compromete qualidade
dos alimentos.
Estudo revela que, com mais CO2 na atmosfera,
alimentos deixam de produzir proteínas importantes para a nutrição humana.
Grãos como o trigo reduzem em 8% a produção desses nutrientes essenciais.
Além de acelerar as mudanças climáticas, a
concentração de CO2 na atmosfera prejudica também a qualidade nutricional dos
alimentos. Um estudo publicado neste domingo (06/04) na revista especializada Nature
Climate Change revelou que o aumento dos níveis de dióxido de carbono
inibe nas plantas a transformação de nitrato em proteínas.
A assimilação do nitrogênio tem um papel
fundamental para o crescimento e produtividade das plantas. Nas plantações que
cultivam alimentos, esse processo é especialmente importante porque o
nitrogênio é utilizado para produzir proteínas essenciais para a nutrição
humana. Somente o trigo, por exemplo, fornece 25% de todas as proteínas
indispensáveis para o homem.
“Nós descobrimos que a qualidade dos alimentos
está diminuindo com o aumento de CO2 na atmosfera. Várias explicações para esse
declínio foram apresentadas, mas esse é o primeiro estudo que mostra que o
aumento da concentração de dióxido de carbono inibe a conversão de nitrato em
proteínas nas espécies cultivadas pela agricultura”, conta Arnold Bloom, autor
da pesquisa e professor do departamento de Botânica da Universidade da
Califórnia, nos Estados Unidos.
A descoberta é preocupante, já que o nível dos
gases do efeito estufa na atmosfera não param de subir. Segundo os dados mais
recentes divulgados pela Organização Meteorológica Mundial, WMO, a concentração
global de CO2 em 2012 era de 393.1 partes por milhão – 2.2 acima do valor
medido em 2011.
Desde 1750, época pré-industrial, a concentração
global de dióxido de carbono aumentou 141%.
Amostras de trigo
Para observar a reação a diferentes níveis de
dióxido de carbono na atmosfera, os pesquisadores analisaram amostras de trigo colhidas
entre 1996 e 1997. Nesse mesmo período, ar enriquecido com CO2 foi liberado
sobre os campos de pesquisa em diversas concentrações, seguindo o nível de
aumento esperado para as próximasdécadas. Outras plantas foram cultivadas sem
receber esse tratamento.
As amostras colhidas foram colocadas
imediatamente no gelo, posteriormente passaram por uma secagem ao forno e
embaladas a vácuo. Foi depois de uma década que novos métodos de análise
química foram desenvolvidos e possibilitaram o experimento.
Bloom não participou da primeira pesquisa
realizada no Arizona, que tinha outros objetivos. “Eles fizeram o estudo, mas
obtiveram resultados que não entenderam na época e guardaram com muito cuidados
as sementes. Eu sabia que eles haviam guardados as sementes e, como já havia
pesquisado essa reação em laboratórios, eu pedi para analisar, por meio delas,
a reação nos campos”, relatou à DW Brasil.
No recente estudo, os pesquisadores verificaram
que três níveis diferentes de assimilação de nitrato confirmaram que a
concentração elevada de dióxido de carbono inibiu a conversão deste elemento em
proteína.
Estudos anteriores no laboratório já haviam
revelado a ligação entre CO2 e a queda na assimilação de nitrato nas folhas de
grãos e espécies não leguminosas, porém essa relação ainda não havia sido
comprovada nos campos. Eles também constaram que a diminuição nesse processo
era de cerca de 8% em espécies como arroz, batata e outros grãos.
“Quando esse declínio é repassado à respectiva
porção diária de proteína derivada desses grãos, fica claro que a quantidade de
proteína disponível para o consumo humano irá cair cerca de 3% quando o nível
de CO2 atingir os níveis previstos para as últimas décadas”, afirma Bloom.
Segundo o pesquisador, o aumento do nível de
nitrogênio em adubos poderia compensar parcialmente essa queda na qualidade de
alimentos. Mas isso também teria consequências negativas, incluindo altos
custos, aumento da concentração dessa substância nas águas subterrâneas e
também nos gases do efeito estufa.
Fonte: Agência Deutsche Welle
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