Brasil deveria iniciar
racionamento de energia desde já, defendem especialistas.
Com níveis dos
reservatórios historicamente baixos, analistas do setor afirmam que melhor
opção seria uma redução voluntária de 5% no consumo de energia para evitar, no
futuro, repetição do que ocorreu em 2002.
A usina hidrelétrica de Itaipú
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
informou nesta quarta-feira (02/04) que os reservatórios das hidrelétricas das
regiões Sudeste e Centro-Oeste – responsáveis pela geração de 70% da energia
consumida no país – estão com 36% da capacidade máxima. E admitiu que, se não
chegarem a 43% no final de abril, o resto do ano será complicado.
A preocupação existe, e o governo parece não
conseguir esconder. Em entrevista ao jornal americano Wall Street Journal
no final de março, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a dizer
que, caso as reservas das hidrelétricas não aumentassem nos próximos meses, o
governo iria pedir à população que reduzisse o consumo de energia.
A declaração de Lobão logo foi desmentida pelo
Planalto. Mas especialistas dizem que racionamento não é apenas uma
possibilidade real, como também, se aplicada de forma gradual desde já, poderia
evitar problemas mais sérios no final do ano – a exemplo do que aconteceu em
2002, quando o governo se viu forçado a decretar duras medidas para reduzir o
consumo.
“Mesmo com o período de chuvas ao longo do mês de
março, os reservatórios dessas regiões subiram somente 1,7%, num mês em que se
esperava que o nível fosse aumentar muito mais”, diz Cláudio Sales, presidente
do Instituto Acende Brasil, especializado no sistema elétrico brasileiro.
“Dificilmente podemos esperar que a chuva seja tão forte e traga os
reservatórios para o patamar de 43%”.
Racionamento gradativo
Por essa razão, especialistas ouvidos pela DW são
unânimes em afirmar que o governo federal já deveria incentivar desde agora uma
redução voluntária de pelo menos 5% de energia. Assim, consumidores
residenciais e empresas não seriam atingidos de surpresa, no fim do ano, por um
racionamento de 20% ou mais.
“O governo deveria se comunicar melhor com a
sociedade para que ela tenha clareza e possa se mobilizar na direção da
economia de energia”, diz Sales. “Isso é uma crítica que faço ao governo: ele
continua tentando dar a entender que tem segurança absoluta com relação ao
abastecimento, coisa que os números provam o contrário.”
Em 2002, governo se viu forçado a decretar
duras medidas para reduzir consumo.
Para Roberto Schäffer, professor de planejamento
energético da Coppe/UFRJ, o Brasil está entrando numa zona perigosa. Segundo
ele, a situação atual está exigindo que o governo federal acione as usinas
térmicas em níveis mais elevados do que até agora, já que os reservatórios
estão mais baixos do que historicamente estariam nesta época do ano.
“Neste momento, a chance de faltar energia no
Brasil é maior do que nos anos anteriores. Parece pouco provável que exista um
racionamento ou falta de energia antes ou durante a Copa do Mundo. O que me
preocupa mais é o período após o Mundial”, afirma Schäffer. “Eventualmente o
Brasil quer passar uma impressão internacional de que está tudo bem, mas depois
do Mundial devem vir medidas mais duras.”
Termelétricas: custo elevado
Com os reservatórios das hidrelétricas baixos e o
sistema elétrico operando no limite, o governo vem sendo forçado a usar com
mais frequência as termelétricas, que costumam ser acionadas apenas
sazonalmente e são mais caras e poluentes.
Atualmente, mais de 17.500 dos 21.670 megawatts
disponíveis nas termelétricas estão em operação. De acordo com Ildo Luís Sauer,
diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP),
o custo da energia proveniente das usinas hidrelétricas e eólicas é de cerca de
100 reais por megawatt-hora (MWh). Já nas termelétricas, o valor ultrapassa os
800 reais por MWh.
“Isso gera um elevado custo para o país. São
bilhões de reais sendo gastos em combustíveis, como óleo diesel e gás natural
importado, num momento de estresse no mercado mundial”, diz Sauer. “Além disso,
há o problema das emissões ambientais elevadas por causa da queima desses
combustíveis. O alto custo esvazia recursos do Tesouro Nacional que deveriam
ser destinados a outras prioridades”.
Como os custos extras estão ficando maiores, é
provável que o Tesouro Nacional fique com a parcela mais elevada do uso da
energia termelétrica e, assim, o repasse para o consumidor final seja menor. É
possível, porém, que a parcela do uso das térmicas em 2013 – ao custo de cerca
9,5 bilhões de reais – e de 2014 – que deverá ultrapassar o valor do ano
anterior – seja repassada aos usuários a partir de 2015.
“Se não chover o suficiente até agosto, toma-se a
medida drástica de realizar o racionamento ou então tenta-se empurrar para
depois das eleições presidenciais [em outubro]”, afirma Sauer. “O grande fiasco
já foi concretizado, que é o mau planejamento e a má gestão do sistema.”
Fonte: Agência Deutsche Welle
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