sábado, 19 de abril de 2014

A verdadeira ameaça à Igreja.
Nos últimos anos, a igreja católica perdeu milhões de seguidores pelo mundo. Estima-se que em uma década, 1,7 milhões de féis deixaram a igreja – o que dá a população de Curitiba, de quatro Diademas ou o número de mortos pelo ditador Pol Pot no Camboja. No Brasil, a perda de fiéis poderia ser explicada pelo aumento do número de evangélicos, de espíritas, de pessoas sem religião, e daqueles que não souberam responder a pesquisa ou não quiseram opinar. Mas outro fator bastante evidente, e que poucos comentam, também deveria ser usado nessa conta: nos últimos anos, o número de pessoas que trocaram a religião pela sociologia de internet aumentou consideravelmente – trocamos a Bíblia por artigos de sociólogos de jornal.

Para que ser católico hoje se os sociólogos de jornal inventam uma culpa nova todos os dias para carregarmos nas costas? Em comparação com o padre, os sociólogos são muito mais eficientes em apontar nossas falhas morais. Seus artigos são um esforço para sancionar conceitos morais que vão inventando – por exemplo, a ideia de que o correto é fazer piadas apenas com os opressores. Ora, e que pecado condenado pela igreja hoje é considerado pior do que quebrar essa regra? Nenhum. Numa época em que tudo precisa de uma explicação sociológica, não há Vaticano que consiga competir com os pecados novos ditados por sociólogos de jornal.

Antes, para sabermos o que nos levaria à perdição e ao declínio moral, precisávamos acordar cedo, pôr uma calça e ir até a igreja ouvir o padre. Hoje, basta entrar na internet a qualquer hora do dia para tomarmos uma enxurrada de sermões de sociólogos e descobrirmos que somos os maiores responsáveis por tudo o que acontece de pior na sociedade. Ao ler um artigo compartilhado na nossa página pessoal é que nos damos conta dos nossos erros. Coisa que até poucos anos atrás descobríamos apenas quando um parente distante e religioso repreendia nosso comportamento, citando trechos da Bíblia. São os sociólogos de jornal que fazem o papel desses parentes distantes hoje, o que significa que ninguém precisa esperar até o Natal ou outra data importante para ser repreendido. A coisa acontece diariamente. Ir à igreja é perda de tempo uma vez que os sermões, testemunhos, repressões e lições de moral já estão na nossa página do Facebook, compartilhados por amigos próximos.

Vivemos um momento único. Até poucos anos atrás, quando uma pessoa era assaltada, por exemplo, juntava as mãos e pedia ajuda a Deus - ou, no caso de um ateu, contava até dez para recuperar o fôlego e não fazer nenhuma besteira. O leitor de artigos de sociólogos, no entanto, começa a ver o assaltante como vítima de uma sociedade doente e violenta para então conseguir se acalmar. Todas as religiões têm a sua maneira de lidar com situações extremas. Durante a pane de um avião, não existe ateu – e aí tanto faz orar em nome de Jesus Cristo ou do professor Durkheim.

Às vezes, o artigo de um sociólogo de jornal e internet é tão parecido com as lições de moral daquele parente distante e religioso, que dificilmente distinguimos um do outro. Foi São Paulo que disse que o dinheiro é a raiz de todos os males ou esse é o trecho de um discurso tirado da palestra da Marilena Chauí? “Não construa para ti castelos sobre a terra” vem dos Dez Mandamentos ou de uma colunista que escreve no jornal às segundas, citando Sarney? E isto aqui, é Sakamoto ou o Novo Testamento?

Enquanto a igreja não adotar uma visão de mercado inovadora, estará condenada por sociólogos. A competição faz parte do processo dinâmico do mercado de religiões.

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