Introdução ao uso da ferramenta
de ecodesign em ações preventivas ou corretivas na geração de resíduos sólidos,
artigo de Roberto Naime.
A
geração de resíduos sólidos geralmente surge como o primeiro, mais relevante e
mais volumoso problema de gestão ambiental, principalmente nas empresas do
setor coureiro-calçadista. Nessas indústrias existe uma grande dimensão na
geração de resíduos, além da questão dos efluentes, que também é relevante
ecologicamente.
O
presente trabalho avalia como os conhecimentos do ecodesign podem ser
utilizados na minimização da geração de resíduos sólidos no setor calçadista. A
atenuação da geração de resíduos implica em relevante redução dos impactos
ambientais, já que a indústria calçadista representa um setor que efetivamente
é um grande gerador de resíduos, e desta forma responsável por degradação e
poluição ambiental, mesmo quando proceder destinação final adequada a este
material.
O
ecodesign propõe uma solução aos crescentes problemas ambientais causados pelo
acúmulo de resíduos sólidos. No ritmo de acelerado desenvolvimento industrial,
não é mais possível reverter ou reduzir a produção de novos bens de consumo.
Dessa
maneira, cada vez mais produtos são produzidos e cada vez mais as pessoas
consomem. Geralmente esses resíduos são levados para aterros sanitários onde
ficam armazenados sob a terra. Essa não é a melhor solução, a própria Lei da
Política Nacional de Resíduos Sólidos, de agosto de 2010, que ganha o número de
lei 12.305, estimula a redução da geração de resíduos, a reutilização e a
reciclagem de resíduos e posteriormente a geração de energia a partir dos
resíduos, limitando o aterramento apenas para os materiais que não possam ter
alguma outra utilização, denominados rejeitos.
Na
Europa, por exemplo, não há mais espaço para abrigar aterros sanitários, o que
está levando os governos a trabalharem no sentido de extinguir essa forma de
disposição de resíduos.
No
Brasil, por outro lado, a construção de aterros sanitários sem a devida
manutenção e correta utilização, pode gerar outros problemas, como a
contaminação do solo, das águas e do ar, além da produção do gás metano que
ocorre em razão da decomposição do lixo, que é altamente inflamável, gerando
risco de explosões. Além disso, é importante destacar que o valor cobrado para
depositar resíduos em aterros sanitários é muito alto, sem contar os custos com
coleta e transporte.
Apesar
da existência dos aterros sanitários, grande parte dos resíduos sólidos urbanos
acaba sendo depositados irregularmente em áreas não próprias para descarte de
resíduos. Essa prática comina com a contaminação de áreas, inundação de cidades
(de maneira que os resíduos prejudicam a escoação da água), disseminação de
doenças entre a população etc.
Diante
do exposto, fica clara a necessidade de utilizar o ecodesign como solução para
a redução da geração de resíduos, sem que isso prejudique o crescimento
econômico e industrial. A aplicação de técnicas e conceitos do ecodesign no
desenvolvimento e produção de novos produtos, visando a redução da geração de
resíduos sólidos tanto no pré-consumo (de maneira preventiva) como no
pós-consumo (de maneira corretiva) é uma necessidade social.
De
forma preventiva atuando nas fábricas no sentido de agregar novas linhas
produtivas que utilizem os resíduos gerados nas linhas de produção
convencionais (pré-consumo) e, portanto, minimizem o volume de resíduo a ser
descartado. Os produtos desenvolvidos a partir dessa nova linha produtiva
possuem grande valor agregado, uma vez que o consumidor tende, cada vez mais, a
transformar seu gesto de consumo em uma atitude responsável e engajada com a
preservação ambiental. Neste contexto, os atores de mercado se dispõe a
aumentar a remuneração do produto, pois o mesmo ganha uma dimensão ambiental e
até social, além de econômica ou funcional.
A
aplicação do ecodesign em ações corretivas acontece, por exemplo, quando
artefatos de couro são recolhidos por ações de logística reversa e retornam
como materiais aos ciclos de produção. Esse material de pós-consumo precisa
receber um novo processamento industrial para ser reinserido no mercado. A
abordagem de reutilização de produtos pós-consumo, assim como nas ações
preventivas, reduz o volume de resíduo descartado e agrega valor a um novo
produto desenvolvido com consciência ecológica envolvendo os consumidores nas
questões ambientais.
Dr.
Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é
Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e
Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate
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