quarta-feira, 30 de abril de 2014

Aliciadores de jovens já estão em cidades de Copa.
A menos de 50 dias da Copa do Mundo 2012, já existem sinais, em várias cidades do Brasil, da presença de aliciadores de menores – indivíduos dispostos a montar pequenos exércitos capazes de saciar a demanda por sexo.
Em S. Paulo, por exemplo, o Ministério Público já investiga a atuação de aliciadores de crianças e adolescentes na região da Arena Corinthians, estádio que servirá de palco na grande competição.

Em Cuiabá, por sua vezes, a polícia está a investigar, de forma sigilosa, uma rede que percorre a periferia da cidade e oferece aos jovens salários apelidados de irrecusáveis. O plano dos criminosos passa por disponibilizarem sexo aos milhares de turistas que viajarão para a região durante 10 e 25 de junho, período que a cidade sedia partidas de futebol.

Crianças e adolescentes envolvidos com este tipo de redes chegam a receber ofertas entre os R$ 10 mil e os R$ 15 mil.

Em 2013, o resgate de trabalhadores em situação de escravidão foi maior nas cidades.
O resgate de trabalhadores em situação análoga à escravidão em áreas urbanas foi, pela primeira vez, maior do que o feito em áreas rurais. De acordo com o relatório Conflitos no Campo 2013, divulgado ontem (28) pela Comissão Pastoral da Terra (CTP), dos 2.242 trabalhadores resgatados no ano passado, 1.153 mil (51%) foram encontrados exercendo atividades em áreas urbanas, especialmente envolvidos na indústria têxtil e na construção civil.

Em todos os relatórios da CPT, até o ano passado, o número de trabalhadores resgatados no campo era maior do que o nas cidades.

Para a Comissão, essa dinâmica se deve à intensificação da fiscalização nas áreas urbanas. Ainda assim, verifica-se que o aliciamento dos trabalhadores é feito no campo – majoritariamente em cidades das regiões Norte e Nordeste -, onde são encontrados casos de exploração em lavouras e em locais e em que há atividades relacionadas a desmatamento, reflorestamento, extrativismo vegetal, mineração e pecuária.

“Esta [dinâmica] está diretamente ligada à migração de camponeses para a cidade, em fluxos alimentados pela desterritorialização, concentração fundiária no campo e desigualdade social”, informou o documento.

No total, em 2013, foram verificados 141 casos de trabalho escravo no campo, 27 a menos do que em 2012, quando foram registrados 168 casos. Foram libertados mais de mil trabalhadores, pouco mais da metade dos 2 mil libertados em 2012.

A partir de outubro, São Paulo ficará ao menos seis meses com o Sistema Cantareira seco, prevê engenheiro.
A falta de chuva diminuiu o volume de água do Sistema Cantareira, que abastece São Paulo. Foto: Sabesp/Divulgação/ABr

Para conselheiro da Fiesp, Júlio Cerqueira César Neto, não há outra solução, do ponto de vista técnico, que não seja o racionamento de água para enfrentar a crise do Sistema Cantareira.

São Paulo vai chegar à primeira semana de outubro com o Sistema Cantareira seco, sem volume morte, quantidade de água localizada em uma região mais profunda do reservatório, e com as chuvas do período ainda em sua fase inicial, incapazes de reabastecer o reservatório antes dos seis meses, diagnosticou na terça-feira (22/04) o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto.

“Estamos em uma situação em que temos que nos conscientizar. Vamos ter seis meses, depois de outubro, sem o Sistema Cantareira. E como os outros sistemas também não estão na plenitude de sua capacidade, vamos ter uma restrição de abastecimento de mais de 50%”, afirmou Cerqueira César Neto. “Imagine uma região desse porte com uma economia de 50% do sistema por pelo menos por seis meses que é enquanto se enche o volume morto”, completou o engenheiro.

Ao participar da reunião do Conselho Superior de Meio Ambiente (Cosema) da Federação das Indústrias do Estado de Saulo (Fiesp), Cerqueira César Neto afirmou que a única solução para contornar a crise de abastecimento do principal reservatório de água da cidade é o racionamento.

“Sob o aspecto técnico, não há dúvida que a única solução a curto prazo é o racionamento. A engenharia não tem solução a curto prazo para esse problema”, explicou.

Neto avaliou que a crise de abastecimento pode se estender por até um ano e meio, já que, segundo o engenheiro, o Sistema Cantareira demora um ano para se recompor desde que sejam retirados dele menos de 15% da sua capacidade. “Vamos ter um ano e meio em que a cidade vai ter a possibilidade de menos da metade da água que necessita. Vai faltar água na casa, na indústria, no comércio. Todo o sistema da cidade será afetado com essa dificuldade e não temos de onde tirar essa água”.

O Sistema Cantareira fornece água para mais de 8 milhões de pessoas na Grande São Paulo e atingiu níveis menores do que 12% nas últimas semanas, recorde de baixa. Segundo Neto, essa crise “vai exigir de nós competência e criatividade que ainda não demonstramos”.

Segurança hídrica

Engenheiro e conselheiro da Fiesp, Neto afirmou que os projetos de abastecimento de água de qualquer cidade devem prever fatores cíclicos, inclusive variações extremas de clima que “são coisas absolutamente naturais e existem no Brasil e no mundo inteiro”.

“Os sistemas têm de ter segurança hídrica e o nosso sistema não tem isso. E a causa fundamental dessa seca é a absoluta falta de investimento do governo em novos sistemas de abastecimento nos últimos 30 anos”, criticou.

Segundo ele, a população de São Paulo aumentou em 10 milhões desde a década de 1990 enquanto os mananciais são os mesmos. “Não são suficientes para atender com segurança hídrica. A consequência só poderia ser essa”.

“A própria natureza fez o seu próprio alerta. Em 2003 ela produziu uma estiagem prolongada e nem esse alerta da natureza foi suficiente para mudar a condição”, afirmou Cerqueira César Neto.

Além de comentar a crise do Sistema Cantareira, o engenheiro apresentou, durante o encontro, seu livro “Um Estadista Urgente – São Paulo está precisando”, que ainda não foi lançado.

Na obra, ele analisa 12 itens da pauta pública na região metropolitana de São Paulo: abastecimento de agua, esgoto, poluição das águas, poluição do ar, enchentes, habitação, transporte, gestão metropolitana, gestão de recursos hídricos, comportamento da Sabesp, educação, saúde, e segurança pública.

“Nas minhas reflexões em torno dessa situação cheguei à conclusão que todos esses itens estão indo de forma negativa e não é pouco”, disse Neto. “Da minha parte eu cheguei a uma conclusão: de 1990 para cá, os nossos governos deixaram de governar e a nossa sociedade deixou de reclamar e exigir os seus direitos”, analisou.

A reunião do Cosema foi presidida pelo presidente do conselho, Walter Lazzarini.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Dilma cai a 37% na disputa eleitoral e Aécio sobe a 21,6%, diz CNT/MDA.
(Foto: AFP)

A avaliação do governo Dilma Rousseff e sua aprovação pessoal pioraram em abril e a presidente perdeu terreno na disputa eleitoral, enquanto o senador Aécio Neves (PSDB) ganhou fôlego, mostrou pesquisa CNT/MDA divulgada nesta terça-feira.

As intenções de voto de Dilma caíram para 37,0 por cento, ante 43,7 por cento em fevereiro, e Aécio subiu para 21,6 por cento (ante 17,0 por cento). O terceiro colocado na disputa, Eduardo Campos (PSB) avançou para 11,8 por cento (9,9 por cento), mas dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,2 pontos percentuais.

No levantamento espontâneo, quando o nome dos candidatos não é mencionado, Dilma oscilou para baixo a 20,5 por cento (21,3 por cento), enquanto Aécio subiu para 9,3 por cento (5,6 por cento).

E Dilma tem a maior rejeição entre os três principais candidatos, com 43,1 por cento afirmando que não votariam nela de modo algum. Para Aécio esse percentual foi de 32,4 por cento e para Campos, 29,9 por cento.

Num eventual segundo turno entre Dilma e Aécio, a presidente ainda venceria, mas por uma margem bem menor que a mostrada em fevereiro: 39,2 a 29,3 por cento (46,6 a 23,4 por cento).

De acordo com o levantamento do instituto MDA, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), 32,9 por cento dos entrevistados têm uma avaliação positiva do governo Dilma, ante 36,4 por cento em fevereiro, 35,9 por cento veem o governo como regular (37,9 por cento na sondagem anterior) e 30,6 por cento avaliam negativamente (24,8 por cento).

A aprovação pessoal de Dilma teve forte queda para 47,9 por cento, ante 55 por cento, enquanto a desaprovação subiu para 46,1 por cento, ante 41 por cento.

A pesquisa mostrou também que 39,5 por cento querem que o próximo governo mude completamente a forma de governar, ante 37,2 por cento em fevereiro.

PETROBRAS

Outro tema abordado pela sondagem foi a compra pela Petrobras da refinaria em Pasadena (EUA). Sobre o total de entrevistados, 33,4 por cento consideram que Dilma, que era presidente do Conselho da estatal na ocasião, tem responsabilidade pela compra.

Mas apenas 50,2 por cento dos entrevistados disseram conhecer o assunto. Nesse grupo, 66,5 por cento consideram que a presidente tem responsabilidade pela compra da refinaria.
Foram entrevistadas 2.002 pessoas, em 137 municípios de 24 Unidades da Federação, entre os dias 20 e 25 de abril.

(Reportagem de Jeferson Ribeiro)

Pais são principais responsáveis por violações aos direitos de crianças e adolescentes.

Levantamento feito com dados dos conselhos tutelares de todo o país revela que pais e mães são responsáveis por metade dos casos de violações aos direitos de crianças e adolescentes, como maus-tratos, agressões, abandono e negligência.

Os números retirados do Sistema de Informações para a Infância e Juventude, do governo federal, apontam 229.508 casos registrados desde 2009, sendo que, em 119.002 deles, os autores foram os próprios pais (45.610) e mães (73.392).

O levantamento, baseado em informações de 83% dos conselhos tutelares brasileiros, mostra também que os responsáveis legais foram autores de 4.403 casos, padrastos tiveram autoria em 5.224 casos e madrastas foram responsáveis em 991.

Para Ariel de Castro Alves, advogado membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Condeca) e fundador da Comissão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), esses dados são assustadores porque as situações de risco à criança são criadas pelas pessoas em que elas mais confiam e das quais dependem para sobreviver.

Ariel de Castro citou como exemplo o caso recente do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, assassinado em Três Passos (RS). O próprio pai e a madrasta estão entre os principais suspeitos. Uma das motivações teria sido uma herança, além de uma pensão.

“É um problema que não decorre apenas das situações econômicas e sociais, como o caso do menino Bernardo mostra. Muitas vezes, as situações que envolvem pessoas pobres são mais denunciadas até pela facilidade de os vizinhos terem acesso, pelas formas de moradia, as pessoas são mais comunicativas nas regiões mais periféricas. Agora, a violência também ocorre em famílias mais abastadas, mas muitas vezes [as violações] não são denunciadas, na tentativa de manter um certo status familiar”, disse ele.

O advogado destaca a falta de programas sociais voltados para a orientação e um acompanhamento mais permanente de famílias em conflitos. Ariel de Castro criticou o fato de, muitas vezes, as autoridades não considerarem as reclamações feitas pela própria criança, como no caso do menino Bernardo, que chegou a pedir ajuda ao Ministério Público para não morar mais com o pai e a madrasta. “A palavra da criança tem que ser levada em conta, como prevê o direito ao protagonismo, o desejo de não continuar mais com os pais”, defendeu.

Oposição vai às ruas na Venezuela contra reforma na educação.
Cerca de 3 mil pessoas foram às ruas de Caracas neste sábado (26). 23 pessoas foram detidas pela polícia; 8 são menores de idade.
Opositores ao governo de Maduro saíram nas ruas da Venezuela neste sábado (26) para protestarem (Foto: Juan Barreto/AFP).

Cerca de três mil opositores foram às ruas em Caracas e em outras cidades da Venezuela, neste sábado (26), para denunciar os planos do governo que buscam modificar currículos educacionais e as restrições judiciais ao direito de manifestação.

Os protestos "deixaram 23 detidos, e oito são menores de idade", informou o ministro venezuelano do Interior e da Justiça, Miguel Rodríguez Torres, em declarações à televisão estatal.

Já a ONG Foro Penal informou que pelo menos 30 pessoas foram detidas, quando faziam bloqueios em diferentes pontos das zonas leste e sudeste de Caracas. Tropas do Batalhão de Choque usaram gás lacrimogêneo para dispersar os ativistas.

O movimento começou por volta do meio-dia, reunindo jovens em sua maioria, que saíram dos arredores de uma universidade de Caracas e concluíram o trajeto no município metropolitano de Chacao (leste), reduto da oposição.

Há alguns dias, o Ministério da Educação iniciou uma consulta entre estudantes e professores da Educação básica sobre um novo currículo escolar. A oposição denuncia o programa como "doutrinamento", já que buscaria reforçar o modelo socialista promovido por Chávez em sua chegada ao poder em 1999 e levado adiante por seu herdeiro político, o presidente Nicolás Maduro.

"Educação não é doutrinamento" e "Luto por uma educação que nos ensine a pensar, e não a obedecer" eram algumas das frases dos cartazes dos manifestantes. Outros traziam o lema "Protestar é meu direito".

Na quinta-feira (24), o Tribunal Supremo de Justiça emitiu uma sentença, determinando que qualquer manifestação deverá contar com uma autorização prévia das autoridades locais. Caso contrário, "poderá dar lugar a que os corpos policiais (...) atuem para dispersá-la", com o objetivo de garantir o direito ao livre trânsito.

A oposição reclama que a sentença é contrária aos princípios democráticos.

Neste sábado, também houve protestos em cidades do interior do país, como Valencia (norte), Maracaibo e San Cristóbal (oeste).
Polícia venezuelana aponta armas para os manifestantes em Caracas (Foto: Juan Barreto/AFP).


Fonte: G1 MUNDO
Science publica estudo que avalia o impacto do novo Código Florestal brasileiro.
A revista científica norte-americana Science, na sua edição de 25 de abril, publica artigo que decifra o Novo Código Florestal e os impactos causados pela nova legislação na conservação ambiental e produção agrícola no Brasil.

No artigo, os autores demonstram que a revisão do código florestal brasileiro proporcionou uma grande anistia para quem desmatou até 2008, reduzindo em 58% o passivo ambiental dos imóveis rurais no Brasil. Com isso, a área desmatada ilegalmente que pela legislação anterior deveria ser restaurada foi reduzida de 50 para 21 milhões de hectares (Mha), sendo 22% Áreas de Preservação Permanente nas margens dos rios e 78% áreas de Reserva Legal. Essas reduções, segundo os autores, afetam os programas nacionais de conservação ambiental, principalmente na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Por exemplo, a recuperação da Mata Atlântica, onde resta somente de 12 a 16% de floresta, é vital para provisão de serviços ambientais, dentre os quais se destaca o fornecimento de água para geração de energia hidroelétrica e abastecimento dos grandes centros urbanos. Dessa forma, a redução da necessidade de recuperação ambiental pode agravar a crise de abastecimento de água que já assola a região metropolitana de São Paulo e outras grandes cidades brasileiras.

O estudo, liderado pelos professores Britaldo Soares Filho e Raoni Rajão, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em colaboração com a Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo brasileiro e pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do centro de pesquisa americano Woods Hole Research Center, mostra ainda que é infundada a afirmação de que a conservação ambiental conflita com o fortalecimento da produção agrícola no País. Segundo o estudo, somente 1% do total nacional de áreas de lavoura ocupa margens de rios que devem ser restauradas. Apesar de constatações como essa, a publicação do estudo coincide com notícias de desmatamento crescente na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, e a pressão contínua dos ruralistas que, organizados, buscam ampliar ainda mais a anistia dada pelo novo código florestal. “O lobby rural tem que entender que já teve um ganho substancial e se continuar a boicotar ou sabotar o código florestal vai dar um tiro no pé, pois a produtividade agrícola depende da manutenção do meio ambiente e estabilidade do clima”, diz Britaldo Soares-Filho.

Mesmo tendo feito grandes concessões ao setor rural, se a nova legislação for levada a cabo, argumenta o estudo, ela poderá trazer, finalmente, valor à floresta em pé. Em particular, proprietários que detêm áreas de florestas além do exigido pela lei poderão negociar no mercado financeiro os títulos conhecidos como Cotas de Reservas Ambientais (CRA), o que ofereceria uma alternativa econômica para a preservação de parte dos 88 Mha de vegetação nativa que ainda poderiam ser desmatados legalmente. Além disso, a implementação do agora obrigatório Cadastro Ambiental Rural (CAR) em todo território nacional pode inaugurar uma nova era de governança ambiental, tendo em vista o seu potencial para detectar e punir os desmatamentos ilegais através de imagens de satélite e do registro eletrônico das propriedades.

Por fim, para a implementação plena do Código Florestal e mitigação das mudanças climáticas, o estudo defende a criação de formas de pagamento por serviços ambientais e a necessidade de incentivos econômicos aportados por fundos internacionais como o recém criado Fundo de Varsóvia para o REDD+ (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal). “A efetivação do Código deverá estar amarrada a benefícios econômicos para aqueles proprietários que conservarem sua vegetação nativa. Isto será crucial para que o Brasil consiga conciliar a conservação ambiental com o desenvolvimento agrícola”, afirma Raoni Rajão.

A revista científica Science é publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência e é considerada uma das revistas mais prestigiadas de sua categoria.

Para chegar aos números publicados, os autores analisaram uma extensa base de dados cartográficos sobre o Brasil através de software desenvolvido pela própria UFMG, que incorpora as complexas regras do novo Código Florestal. Intitulado Cracking Brazil’s Forest Code, o artigo integra o vol. 344 da Science e pode ser acessado no endereço www.sciencemag.org.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Mensalão do DEM tem 35 acusados de desvios de R$ 739 milhões.
A denúncia foi feita esta semana pelo Ministério Público do Distrito Federal (MP-DF). No que ficou conhecido como o mensalão do DEM pelo menos 35 pessoas, entre elas o ex-governador José Roberto Arruda, estão sendo acusadas de desviar recursos públicos para pagamento de propinas, num total de R$ 739 milhões, em 2009.
A operação da Polícia Federal intitulada “Caixa de Pandora” colocou na Justiça, com a colaboração do Ministério Público do Distrito Federal, 35 pessoas que vão responder a crimes de desvio de recursos públicos.

De acordo com a investigação realizada pela PF, o caso vem de 2009 e consistia no desvio de capitais para pagamento de propinas em favor do então governador, José Roberto Arruda. O dinheiro vinha, na sua maioria, através de contratos de informática faturados, em excesso, pelo Governo do Distrito Federal.

O grupo de pessoas denunciadas pelo MP-DF, onde também está incluído o ex-vice-governador Paulo Octávio, vai responder pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Eles terão ainda de devolver aos cofres públicos o dinheiro que foi desviado, que somado atinge os R$739 milhões.

De forma a agilizar o processo e para que não se arraste como o mensalão mineiro e petista, o MP vai dividir a denúncia em 17, facilitando as tramitações.


Justiça aceita recurso e abre ação contra 12 acusados de cartel.
O desembargador Alex Zilenovski, da 2ª Câmara de Direito Criminal de São Paulo, aceitou recurso do Ministério Público (MP) e abriu ação criminal contra 12 executivos acusados de participar de cartel para fraudar uma licitação da Linha Lilás do metrô paulistano. Em decisão anterior, a 7ª Vara Criminal tinha considerado que os crimes, praticados em 1999 e 2000, estavam prescritos. Ainda serão analisados, no entanto, os pedidos de prisão preventiva contra os acusados.
O MP argumenta que a prática de cartel, quando bem-sucedida, é um crime que continua até a conclusão do contrato fraudado. “Perpetua-se, depois, em caso de adjudicação do contrato, do objeto da licitação, em solução de continuidade, pois todos os inúmeros atos decorrentes do contrato só se realizaram pelos agentes das empresas consorciadas porque formaram o cartel. Os integrantes do cartel, então, estendem os seus tentáculos para toda a execução do contrato, continuando a irradiar seus efeitos”, diz o órgão na denúncia.

Ao todo, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate aos Delitos Econômicos (Gedec) ofereceram cinco denúncias, uma para cada projeto em que foram encontradas irregularidades relativas ao cartel. Segundo o MP, as fraudes nas concorrências do metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) causaram prejuízos de R$ 834,8 milhões. As investigações do órgão apontam para o envolvimento de 30 executivos de 12 empresas.

De acordo com o MP, a estratégia mais comum era a participação combinada nas concorrências públicas. As empresas vencedoras dividiam 30 do valor da licitação entre si e contratavam os serviços das perdedoras com os 70% restantes. A investigação, iniciada em agosto do ano passado, teve como base os termos do acordo de leniência, firmado pela empresa Siemens com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Introdução ao uso da ferramenta de ecodesign em ações preventivas ou corretivas na geração de resíduos sólidos, artigo de Roberto Naime.
A geração de resíduos sólidos geralmente surge como o primeiro, mais relevante e mais volumoso problema de gestão ambiental, principalmente nas empresas do setor coureiro-calçadista. Nessas indústrias existe uma grande dimensão na geração de resíduos, além da questão dos efluentes, que também é relevante ecologicamente.

O presente trabalho avalia como os conhecimentos do ecodesign podem ser utilizados na minimização da geração de resíduos sólidos no setor calçadista. A atenuação da geração de resíduos implica em relevante redução dos impactos ambientais, já que a indústria calçadista representa um setor que efetivamente é um grande gerador de resíduos, e desta forma responsável por degradação e poluição ambiental, mesmo quando proceder destinação final adequada a este material.

O ecodesign propõe uma solução aos crescentes problemas ambientais causados pelo acúmulo de resíduos sólidos. No ritmo de acelerado desenvolvimento industrial, não é mais possível reverter ou reduzir a produção de novos bens de consumo.

Dessa maneira, cada vez mais produtos são produzidos e cada vez mais as pessoas consomem. Geralmente esses resíduos são levados para aterros sanitários onde ficam armazenados sob a terra. Essa não é a melhor solução, a própria Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, de agosto de 2010, que ganha o número de lei 12.305, estimula a redução da geração de resíduos, a reutilização e a reciclagem de resíduos e posteriormente a geração de energia a partir dos resíduos, limitando o aterramento apenas para os materiais que não possam ter alguma outra utilização, denominados rejeitos.

Na Europa, por exemplo, não há mais espaço para abrigar aterros sanitários, o que está levando os governos a trabalharem no sentido de extinguir essa forma de disposição de resíduos.

No Brasil, por outro lado, a construção de aterros sanitários sem a devida manutenção e correta utilização, pode gerar outros problemas, como a contaminação do solo, das águas e do ar, além da produção do gás metano que ocorre em razão da decomposição do lixo, que é altamente inflamável, gerando risco de explosões. Além disso, é importante destacar que o valor cobrado para depositar resíduos em aterros sanitários é muito alto, sem contar os custos com coleta e transporte.

Apesar da existência dos aterros sanitários, grande parte dos resíduos sólidos urbanos acaba sendo depositados irregularmente em áreas não próprias para descarte de resíduos. Essa prática comina com a contaminação de áreas, inundação de cidades (de maneira que os resíduos prejudicam a escoação da água), disseminação de doenças entre a população etc.

Diante do exposto, fica clara a necessidade de utilizar o ecodesign como solução para a redução da geração de resíduos, sem que isso prejudique o crescimento econômico e industrial. A aplicação de técnicas e conceitos do ecodesign no desenvolvimento e produção de novos produtos, visando a redução da geração de resíduos sólidos tanto no pré-consumo (de maneira preventiva) como no pós-consumo (de maneira corretiva) é uma necessidade social.

De forma preventiva atuando nas fábricas no sentido de agregar novas linhas produtivas que utilizem os resíduos gerados nas linhas de produção convencionais (pré-consumo) e, portanto, minimizem o volume de resíduo a ser descartado. Os produtos desenvolvidos a partir dessa nova linha produtiva possuem grande valor agregado, uma vez que o consumidor tende, cada vez mais, a transformar seu gesto de consumo em uma atitude responsável e engajada com a preservação ambiental. Neste contexto, os atores de mercado se dispõe a aumentar a remuneração do produto, pois o mesmo ganha uma dimensão ambiental e até social, além de econômica ou funcional.

A aplicação do ecodesign em ações corretivas acontece, por exemplo, quando artefatos de couro são recolhidos por ações de logística reversa e retornam como materiais aos ciclos de produção. Esse material de pós-consumo precisa receber um novo processamento industrial para ser reinserido no mercado. A abordagem de reutilização de produtos pós-consumo, assim como nas ações preventivas, reduz o volume de resíduo descartado e agrega valor a um novo produto desenvolvido com consciência ecológica envolvendo os consumidores nas questões ambientais.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

domingo, 27 de abril de 2014

Princípios do Código Florestal – Lei 12.651/2012, artigo de Antonio Silvio Hendges.
A Lei 12.651 de 25 de maio de 2012, alterada pela Medida Provisória nº 1.571/2012 que foi convertida na Lei 12.727/2012 – Código Florestal estabelece as normas gerais à proteção da vegetação nativa, as áreas de preservação permanentes, as áreas de reservas legais, a exploração, o suprimento e o controle da origem dos produtos florestais, a prevenção e controle de incêndios em florestas e áreas relacionadas e a previsão de instrumentos econômicos e financeiros para que estes objetivos sejam alcançáveis. Também altera e revoga alguns instrumentos legais, sendo os mais importantes as alterações na Lei 6.938/1981 – Política Nacional de Meio Ambiente e a revogação da Lei 4.771/1965 – código florestal anterior.

O objetivo é o desenvolvimento sustentável e são estabelecidos alguns princípios que orientam sua aplicabilidade na proteção aos recursos naturais:

- Compromisso do país na preservação das florestas e outras formas de vegetação nativa, da biodiversidade, dos solos, recursos hídricos e integridade dos sistemas climáticos;

- importância da função estratégica da agropecuária, das florestas e áreas nativas na sustentabilidade, crescimento econômico, melhor qualidade de vida da população e da participação do país nos mercados nacionais e internacionais de alimentos e bioenergia;

- ações governamentais de proteção e uso sustentável das florestas, compatibilizando o uso produtivo da terra com a preservação das águas, solos e vegetação;

- responsabilidade comum dos entes federativos – União, Estados e Municípios em colaboração com a sociedade civil para preservação e restauração da vegetação nativa e suas funções ecológicas e sociais nas áreas rurais e urbanas;

- incentivos às pesquisas científicas e tecnológicas para inovações ao uso sustentável dos solos e águas, recuperação e preservação das florestas e outras formas de vegetações nativas;

- criação e mobilização de incentivos econômicos para estimularem a preservação e recuperação da vegetação nativa e promoção do desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis.

As florestas e demais formas de vegetações nativas existentes no território nacional e reconhecidas como úteis às terras que revestem são bens de interesse comum a todos os habitantes do país, sendo os direitos de propriedade exercidos de acordo as limitações da legislação geral e dos dispositivos específicos previstos na Lei 12.651/2012. A exploração e utilização da vegetação de forma irregular, as ações ou omissões contrárias à Lei são consideradas como uso irregular das propriedades, com sanções e responsabilização civil, administrativa e penal dos infratores. As obrigações da Lei 12.651/2012 são de natureza real e transmitidas aos sucessores de qualquer natureza nos casos de transferências de domínio ou posse dos imóveis rurais.

Referências:
- Lei 12.651 de 25/05/2012, artigos 1º e 2º.
- Lei 12.727 de 17/10/2012.

Antonio Silvio Hendges, Articulista do EcoDebate – Professor de Ciências e Biologia – Pós Graduação em Auditorias Ambientais – Assessoria em Sustentabilidade e Educação Ambiental – www.cenatecbrasil.blogspot.com.br

Fonte: EcoDebate
Tecnologias evitarão emissões de poluentes? Artigo de Washington Novaes.
Por onde vamos caminhar? Cientistas que se têm dedicado à área do clima não se cansam de advertir que é preciso mudar radicalmente, e com urgência, nossos modos de consumir energia (e emitir poluentes). Os mais céticos, entretanto, lembram que o país mais empenhado nessa direção, a Alemanha, não tem conseguido mudar o quadro – pois, embora esteja fechando usinas movidas pela queima de carvão e estimule formatos alternativos de energia, ainda assim o consumo desse combustível fóssil bateu o recorde de duas décadas em 2013. Na China – país que mais investe hoje em energias renoveis – também o consumo de carvão continua a bater recordes. O Painel do Clima discutiu esse assunto na última reunião, em Berlim.

Por isso cresce também o número dos que acreditam que os caminhos para reduzir emissões estejam em novas tecnologias, que permitam continuar a usar as fontes poluentes, mas impedindo ao mesmo tempo que os gases cheguem à atmosfera. Como há quem acredite que novas tecnologias permitirão reduzir o fluxo de rios e evitar grandes inundações, desviando para afluentes os resíduos que assoreiam os cursos d’água ou criando lagos artificiais às margens.

Os adeptos de novas tecnologias começam a entusiasmar-se. Como, por exemplo, os que propõem e já estão testando tecnologias para usar energia excedente de usinas eólicas ou solares, que custaria muito caro estocar em baterias, estocando-a em blocos de lama gelados nos períodos em que as usinas estejam paradas por falta de ventos ou de sol. Outro caminho é o de empresas que vão usar baterias de lítio para abastecer carros elétricos – uma tecnologia que já foi testada com êxito em carros elétricos esportivos, mas não nos veículos comuns (New Scientist, 8/3). Outra empresa ainda trabalha com a tecnologia de estocar energia num tipo de vidro quase líquido, viscoso, produzido especialmente para isso – e que pode ser bombeado para onde for necessário. O projeto piloto será numa fábrica de alumínio.

Quase 150 anos depois do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, desenvolvem-se ainda projetos para converter a energia térmica do mar em formatos utilizáveis e que substituam os atuais poluentes. Segundo a New Scientist, é um caminho em desenvolvimento numa das grandes empresas do setor, a Lockheed Martin, que afirma poder prover até 4 mil vezes a energia consumida em um ano no mundo. Basicamente, trata-se de bombear água de temperaturas mais profundas e mais frias para camadas a 100 metros da superfície, mais quentes. E através de um sistema que usa amônia, o vapor trazido de maior profundidade, com temperaturas 20 graus inferiores, aciona uma turbina que gera eletricidade.

O sistema poderia operar durante as 24 horas do dia. Seria adequado para regiões tropicais e subtropicais. Uma usina de 100 MW custaria US$ 790 milhões para implantar. E a energia produzida custaria US$ 0,18 por quilowatt/hora (hoje as usinas a carvão têm custo de US$ 0,14 e as solares, de US$ 0,14 a US$ 0,26). Já há projetos em Okinawa (Japão), no Havaí, na Holanda e em Curaçau (Caribe). Em parte deles a energia solar é usada para aquecer a água mais profunda. Mas têm sido criticado por cientistas conceituados, segundo os quais se corre o risco de proliferação de algas com sua transposição para áreas mais ricas em nutrientes e livres de bactérias. Já os donos da tecnologia asseguram que não; e que a tecnologia pode gerar 50% da energia consumida no mundo, sem contribuir para o aumento da temperatura planetária.

No Canadá vai entrar em atividade um projeto que captura o dióxido de carbono de uma usina movida a carvão, a maior do país, antes que ele se dissipe na atmosfera: 90% de 1,1 milhão de toneladas será levado por encanamentos para um aquífero salino, de modo a ser sepultado quilômetros abaixo do solo. É um caminho que também já mereceu críticas fortes de cientistas, para quem o sepultamento da poluição pode contaminar aquíferos e provocar abalos sísmicos. Mas para outros é esperança de continuar utilizando o carvão.

Por isso mesmo, continua de pé ainda a tecnologia de sequestrar gases da queima do carvão e utilizá-los na geração de energia – e isso seria suficiente para atender às necessidades de várias gerações à frente. Um dos caminhos seria a gaseificação subterrânea do carvão, a 300 metros da superfície, como se faz na Rússia desde a era de Stalin. Bombas especiais conduziriam os gases para a profundidade, onde seriam queimados, e outras trariam o produto para a superfície, onde seria utilizado como combustível, depurado da poeira do carvão, resfriado, comprimido e levado por tubulações para os locais de consumo. O relato na New Scientist (15/1) é do respeitado articulista Fred Pearce, segundo quem esse processo, se chegar à escala desejada, poderá permitir a utilização de “trilhões de toneladas de carvão”, hoje condenadas por causa das emissões. E por isso já há testes também na China, na África do Sul e no Canadá, que têm grandes estoques de carvão.

Na mesma direção de evitar emissões estão as experiências com veículos elétricos – como as que permitem utilizar baterias sem fio, que recarregam de energia o veículo quando ele estaciona para receber passageiro. Nas baterias utilizadas até aqui é preciso encontrar um posto de reabastecimento e ali permanecer durante horas, com o veículo conectado por cabo à fonte de energia. A nova tecnologia foi desenvolvida há décadas, mas a baixa eficiência não permitia sua utilização em escala maior. Agora, baseia-se em indução eletromagnética, com as próprias baterias do veículo, que transfere a energia com 90% de eficiência. E justamente por essa razão já está chegando a vários países.

Serão as tecnologias que tornam viáveis fontes condenadas capazes de substituí-las a tempo de evitar o agravamento dos problemas do clima?

*Washington Novaes é jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br.

Sanção do marco civil da internet não encerra debate, dizem defensores do projeto.
Representantes das entidades da sociedade civil que apoiaram o Marco Civil da Internet comemoraram ontem (23) a sanção do projeto pela presidenta Dilma Rousseff. Eles ressaltaram, porém, que o ato não encerra o debate sobre o que está previsto no projeto de lei, que precisa agora de regulamentação.

Segundo a coordenadora do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Beatriz Barbosa, a grande conquista do marco civil foi deixar para trás um debate sobre a criminalização de atitudes na internet e chegar a um projeto que garante, em sua essência, os principais direitos dos usuários, a privacidade, liberdade de expressão e neutralidade da rede. “A sanção da lei no NET Mundial [Encontro Global Multissetorial sobre o Futuro da Governança da Internet, aberto hoje em São Paulo] é simbólica porque é quando o mundo todo está discutindo essa questão, o mundo todo está olhando para o que o Brasil fez com a internet”, disse Beatriz.

Para ela, alguns assuntos foram retirados conscientemente do projeto, como a questão dos direitos autorais e dos dados pessoais. “O marco civil não tinha pretensão de esgotar o assunto, mas de garantir os direitos fundamentais dos usuários”, acrescentou a representante do Intervozes, explicando que alguns pontos conflitantes ainda podem ser debatidos durante a regulamentação.

Segundo Beatriz, o principal deles diz respeito ao Artigo 15, que obriga as empresas de telecomunicações a guardar por seis meses todos os dados de tráfego na rede dos usuários. Ela explicou que o marco civil prevê que eles só podem ser acessados por decisão judicial, mas, mesmo assim, a obrigação “viola a privacidade do usuário, acaba levando ao risco de uma vigilância em massa e é uma limitação à própria liberdade de expressão. O fato de saber que toda sua movimentação na internet está sendo armazenada para eventuais investigações faz com que a pessoa se comporte de forma diferente”.

A guarda dos dados foi uma questão defendida principalmente pelas autoridades policiais durante a tramitação do projeto no Congresso Nacional. No entanto, alerta o coordenador-geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Jonas Valente, isso fere a presunção de inocência dos indivíduos e pressupõe que todo mundo vai cometer um delito. “Motivado pela vigilância institucionalizada de um evento internacional, o governo aprova uma lei avançada, mas em que o simples fato de guardar os dados viola a minha privacidade”.

Jonas Valente lembrou ainda que defensores da medida comparam a guarda de dados a uma câmera de vigilância. “Quando eu estou em um bar, estou socializando, as outras pessoas estão vendo, quando acesso um site é uma atividade privada, só minha, não estou socializando. Então, não tem sentido que essas informações sejam armazenadas mesmo com todos os mecanismos de segurança”, completou o jornalista.

Também a advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Veridiana Alimonti, entende que não deveria haver guarda prévia dos dados. Ela disse, porém, que, apesar desse artigo, este é o momento de comemorar, já que a sanção do marco civil foi de encontro a muitos interesses de poderosos do setor de telecomunicações, principalmente em relação à neutralidade da rede.

A rede neutra prevê que as operadoras não podem interferir no tráfego de dados, limitando a acessibilidade a conteúdos específicos mediante pagamento. “A neutralidade foi o ponto mais polêmico e, quando for regulamentar, ainda vai haver uma disputa das empresas sobre o assunto”, diz a advogada.

sábado, 26 de abril de 2014

Joaquim Barbosa, benfeitor do PT (mas o PT não notou).
Imagine que alguém percebe que está com um furúnculo. A reação normal é: a) ficar incomodado; b) pesquisar qual é o tratamento; c) acalmar-se com o ciclo da doença, tratar-se, superar o problema. Pode ficar uma pequena cicatriz. De qualquer modo, é interessante saber as causas, e evitá-las no futuro, se possível.

Agora imagine que alguém, ao manifestar um furúnculo gigantesco, alimentado pelo acúmulo de toxinas no organismo, resolva se identificar com o abscesso, e ficar bravo com quem diz que ele está doente. Que diga: “isso não é um problema. O furúnculo é minha inteligência, minha força de vontade, minha beleza. Eu me orgulho de meu furúnculo. Na verdade, pensando bem, eu SOU meu furúnculo”. Evidentemente, para quem olha de fora, a pessoa tem um problema bem maior do que um furúnculo. Quanto mais elogiar e defender a bolha de pus, mais inquietação e desconfiança com sua saúde psíquica ela causará.

Tem um filme de 1989 que brinca com essa situação, chamado Como Fazer Carreira em Publicidade. No meio (com o perdão do spoiler), o publicitário descobre que o furúnculo que tem no pescoço é uma outra cabeça surgindo, que disputará o poder com a cabeça original. Não é por acaso que o universo do filme é a publicidade – onde a doença frequentemente é vendida como cura.

Eu fico espantado com a virulência que se manifesta às vezes contra o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que foi relator do processo do mensalão. Ele é acusado de ser parcial, injusto, egóico, autocrático. De estar a serviço dos inimigos do PT. Eu não tenho motivos para duvidar que Joaquim seja inclusive um homem de esquerda, como ele se diz, eleitor (ou ex-eleitor) de Lula e do PT. Tirante o gosto meio brega por Miami e Paris, claro.

Talve ele tenha se exaltado um pouco ao tentar demonstrar que havia sim um furúnculo – mas essa era condição inicial para curar o próprio PT. Ou que tenha agido como o menino que grita que “o rei está nu”, mas um menino com um porrete na mão, para enfatizar seu ponto. Na verdade, Joaquim só usou uma força proporcional ao crescente delírio (ou engodo) petista.

Joaquim não é inimigo – Joaquim só é inimigo do furúnculo. Já o meu inimigo é o José Dirceu, que: a) corrompeu; b) corrompeu com o meu dinheiro; c) pior, corrompeu dando o meu dinheiro para aqueles que deveriam ser exterminados antes de mais nada, os tiozões acajú fisiológicos estupradores. Os políticos oportunistas dos grotões (geográficos e psíquicos) que sintetizam tudo que o país tem de mais tacanho, atrasado, medievo-patriarcal. Tudo em nome, como sempre, da “governabilidade”.

Mas parte considerável do PT parece convencida de que é, sim, o furúnculo (ou publicitariamente convencido de que é melhor não chamar a doença pelo nome, e jogar a culpa no médico). E não aproveitar a última oportunidade de “refundação forçada”. Refundação foi o termo usado em 2005 por correntes mais lúcidas do PT diante das acusações do mensalão, que achavam adequado não varrer a sujeira para debaixo do tapete (ou chamar o furúnculo de chefe).

Essa corrente foi derrotada pelo pragmatismo publicitário. Um manifesto refundador da época alertava: “Os crimes cometidos, alguns confessados à opinião pública, viraram arma da direita contra todos nós, contra nossos eleitores”. Na verdade, vemos hoje, não só viraram “arma da direita”. Mais do que isso, a teimosia rancorosa do PT inventou uma nova direita, tão alucinada quanto alucinados são os furunculistas petistas, e a alimenta continuamente. Tudo por causa da recusa em chamar furúnculo... de furúnculo.

Não há nada tão (ridiculamente) simbólico quanto a trajetória do deputado federal André Vargas, que fez, na presença de Joaquim no Congresso Nacional, o gesto do punho fechado dos petistas presos – para depois se revelar um corrupto profissa. Joaquim Barbosa, o comuna dos comunas, é o benfeitor do PT. 

Pena que o PT não notou.

“Dilma não pode fugir à responsabilidade”
O Presidente da Petrobrás à época da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, José Sergio Gabrielli assumiu sua parcela de responsabilidade no negócio da refinaria mas afirmou que Dilma também “não pode fugir à responsabilidade”, avança a UOL Notícias.
O presidente da Petrobrás à época da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, José Sergio Gabrielli, disse, em entrevista ao Estado, que assumia responsabilidade no negócio da refinaria. Contudo, ele acrescentou que Dilma, na altura ministra da Casa Civil e presidia o conselho, também tem responsabilidade.

“Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós somos responsáveis pelas nossas decisões. Mas é legítimo que ela tenha dúvidas”, disse.

Para ele, a queda do preço das ações da estatal não se deve a Pasadena, mas à conjuntura externa, afetada pela crise financeira global de 2008, e à política do governo de manutenção artificial dos preços da gasolina no Brasil abaixo do mercado internacional. 

"Economia do Brasil está estagnada há mais de 50 anos".
Uma publicação da revista britânica The economist diz que a economia do Brasil está estagnada há mais de 50 anos. Segundo a publicação, os poucos investimentos em infraestrutura, a educação de baixa qualidade, o mau gerenciamento e protecionismo do Estado, são as razões listadas pela revista para explicar a baixa produtividade do país.
’50 anos de soneca’ é o título de uma publicação, da revista britânica The economist, sobre a economia do Brasil.

No texto, é referido que a economia do Brasil está estagnada há mais de 50 anos.

Depois de citar empresários que afirmaram ter enfrentado dificuldades para contratar funcionários, a revista escreveu: "Poucas culturas oferecem uma receita melhor para curtir a vida".

"O restante (do crescimento) veio da expansão da força de trabalho, como resultado de uma demografia favorável, da formalização e do baixo desemprego. Tudo isso vai desacelerar a 1% ao ano (de crescimento) na próxima década", disse uma das fonte ouvida pela The Economist.

"Para a economia crescer mais rápido, a um ritmo de 2% ao ano, os brasileiros precisarão ser mais produtivos", conclui.

Os poucos investimentos em infraestrutura, a educação de baixa qualidade, o mau gerenciamento e protecionismo do Estado, são as razões listadas pela revista para explicar a baixa produtividade do país. 


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Jornalista da Globo tem acesso de raiva e é rechaçada em Copacabana

Pouco eficientes, carros brasileiros têm tecnologia defasada.
Greenpeace inicia campanha para que Volkswagen, Fiat e Chevrolet produzam veículos mais eficientes – como já fazem em outros mercados – e invistam em carros elétricos.
Enquanto produzem carros mais limpos e eficientes em outros países, montadoras fazem veículos com tecnologia velha no Brasil.

O Greenpeace apresentou hoje, em São Paulo, o ‘lançamento do ano’: um carro da Idade da Pedra. Com uma tenda da Volkswagen, Fiat e Chevrolet – as montadoras que mais vendem carros no país –, ativistas vestidos com roupas daquela época convidavam pedestres a fazer um test drive. A sátira fazia parte do lançamento de uma campanha desafiando as empresas a adotarem tecnologia mais moderna em seus carros, para que eles consumam menos combustível e emitam menos gases de efeito estufa.

“A União Europeia, os Estados Unidos e vários outros países estão muito mais avançados nas discussões sobre eletromobilidade e já adotaram metas ousadas de eficiência energética para seus veículos. Estamos ficando para trás nessa corrida, colocando nas ruas carros que têm design atual, mas que ainda gastam muito combustível e contribuem largamente para o aquecimento global”, diz Iran Magno, coordenador da campanha de Clima e Energia do Greenpeace.

Na última semana, o estudo “Eficiência Energética e Emissões de Gases de Efeito Estufa”, feito pela Coppe/UFRJ em parceria com o Greenpeace, foi divulgado mostrando que as emissões de CO2 dos veículos brasileiros podem reduzir. Segundo os dados, caso as montadoras nacionais seguissem as mesmas metas de eficiência energética europeias, chegaríamos em 2030 com emissões mais baixas que as de hoje, mesmo que a frota de veículos do país dobre, como é estimado.

“Se por um lado precisamos que os governos ofereçam um sistema de transporte público muito melhor que o atual, a indústria de automóveis também precisa tomar medidas para amenizar sua contribuição ao aquecimento global”, diz Magno. “Fiat, Volkswagen e Chevrolet, que detêm 61% do mercado brasileiro de automóveis, já estão produzindo carros mais limpos e eficientes em outros países. Portanto, um alinhamento tecnológico para os veículos produzidos no país é imprescindível. Está na hora de oferecer o mesmo para os consumidores brasileiros, que colocaram o país entre os quatro maiores mercados de carros do mundo”.

O setor de transportes se tornou um dos maiores emissores de gases estufa no Brasil. De 1990 a 2012, segundo o Observatório do Clima, o salto de suas emissões foi de 143%, e continua aumentando. A tendência é global: no domingo, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou relatório mostrando que, se nada for feito, as emissões do setor são as que mais crescerão, superando todas as outras fontes, até 2050.

Os cientistas sugerem que a indústria de veículos adote tecnologias de baixo carbono, melhorando a eficiência energética de seus carros e abrindo caminho para a eletromobilidade. “O que estamos pedindo para as companhias é exatamente o que recomendam os cientistas. O Brasil é uma das maiores economias globais e temos todas as condições de avançar muito mais nessas questões”, diz Magno.

A proposta do Greenpeace é que a indústria brasileira se comprometa com as mesmas metas de eficiência energética da União Europeia, até 2021. Isso significa aumentar em 41% a eficiência de seus carros, tomando como base as taxas de 2011. Além disso, a organização também pede que haja mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para carros elétricos. No site www.ocarroqueeuquero.org.br, lançado hoje pelo Greenpeace, os consumidores podem enviar mensagens às empresas pedindo essas mudanças.

China tem 60% dos lençóis freáticos poluídos
Criança bebendo água em Fuyuan, China. Reuters

A imprensa oficial chinesa revelou nesta quarta-feira (23) que 60% dos lençóis freáticos analisados no país estão poluídos e não podem ser consumidos sem tratamento. Os dados elevam as preocupações sobre a poluição ambiental na segunda maior economia mundial.

A qualidade da água de 203 cidades chinesas foi avaliada no ano passado. Os resultados publicados hoje indicam uma qualidade “relativamente ruim” ou “muito ruim”.

No primeiro caso, a água é considerada não potável sem tratamento. No segundo, é “imprópria para o consumo”, mesmo após ser tratada. A proporção de água considerada não potável sem tratamento aumentou 57% desde 2012, de acordo com o estudo, divulgado pela agência Xinhua.

A degradação ambiental no país preocupa a população chinesa, que aceita cada vez menos que o meio ambiente seja prejudicado para sustentar o crescimento econômico. A grande maioria dos rios do país registra níveis médios ou elevados de poluição. Os escândalos sobre a contaminação dos lençóis freáticos são frequentes, assim como a assustadora poluição atmosférica, que atinge não apenas as grandes cidades, como regiões inteiras chinesas.

Solo contaminado

Na semana passada, o governo havia anunciado que a poluição dos solos chineses afeta uma superfície comparável com a do Peru ou Colômbia. Os resultados da pesquisa eram conhecidos há muito tempo pelas autoridades, mas eram mantidos em segredo.

Dos 6,3 milhões de km2 estudados – cerca de dois terços da China -, calcula-se que 16,1% estejam contaminados, o equivalente a uma superfície que ultrapassa um milhão de quilômetros, segundo o Ministério da Proteção do Meio Ambiente. “A situação do solo no âmbito nacional não é positiva”, admitiu o ministério em seu site, mencionando que as indústrias mineradoras e a agricultura são os principais responsáveis por este problema.

Mais de 80% dos agentes poluidores detectados no solo são de origem biológica, segundo a pesquisa realizada durante oito anos, de 2005 a 2013. A ONG Greenpeace vem alertando sobre os efeitos das cinzas de carvão no país.

Fonte: RFI
União Europeia quer reduzir em 80% o consumo de sacolas plásticas.
Medida aprovada prevê criação de impostos sobre esse produto e até sua proibição. Das 750 mil toneladas de sacolas plásticas produzidas na Europa em 2010, somente 10% foram recicladas.
A União Europeia (UE) quer diminuir drasticamente o consumo de sacolas plásticas na região até o fim da década. O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta-feira (16/03) a meta de reduzir em 80% a quantidade consumida nos próximos cinco anos.

Para isso, os países membros devem implementar medidas mais duras para forçar a queda do consumo, como taxas ou impostos sobre sacolas plástica – ou até mesmo sua proibição. Até 2019, a média anual de consumo de sacolas descartáveis por habitante deve ser cair dos atuais 176 para 35.

“As sacolas plásticas são um símbolo da nossa sociedade de desperdício. Nós a usamos por pouco tempo, mas comprometemos o meio ambiente por séculos”, afirma o comissário europeu do Meio Ambiente, Janez Potocnik.

Segundo a Comissão Europeia, a produção mundial de plástico pode triplicar até 2050. Somente na Europa, em 2010, foram produzidas 750 mil toneladas de sacolas plásticas, revela a organização Ajuda Ambiental Alemã (DUH). Esse montante corresponde ao peso de 625 mil carros. Apenas 10% dessas sacolas são recicladas.

A média de consumo de sacolas plásticas descartáveis na UE por habitante é de 198, das quais 176 são descartáveis. Na Alemanha, esse número é de 71 sacolas por habitante, sendo 64 descartáveis. Em Portugal, estima-se cada morador use 500 sacolas por ano.

Imposto extra

A Irlanda possui o menor consumo, com cerca de 20 sacolas por habitante, sendo 18 descartáveis. O país conseguiu alcançar esse nível devido à criação de um imposto de 22 centavos de euro por sacola.

“O imposto não foi criado para aumentar a renda estatal, mas para mudar o comportamento do cidadão. Desde a criação do imposto o consumo caiu bastante”, afirma Benjamin Bongardt, diretor do setor de políticas sobre recursos da Federação de Proteção Ambiental da Alemanha (Nabu). A diminuição foi grande, passando de 328 para 20.

Segundo a Federação para Meio Ambiente e Proteção da Natureza da Alemanha (Bund), dez milhões de toneladas de lixo vão parar nos oceanos por ano, formando ilhas enormes nos mares. O plástico precisa de centenas de anos para se decompor – as sacolas desse material são um perigo para o meio ambiente por até 450 anos, afirmam especialistas.

Anualmente, milhares de pássaros e mamíferos marinhos morrem devido ao lixo acumulado. Muitos deles ficam presos ou comem plástico. Especialistas alertam que, dessa maneira, esse elemento pode ir parar na cadeia alimentar humana.

Para entrar em vigor, a decisão aprovada pelo Parlamento Europeu ainda precisa ser negociada com os países membros. A negociação está prevista para começar ainda esse ano, após a eleição europeia que acontece em maio.

CN/dpa/dw

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Dilma, Lula e o PT = SÓ ROUBALHEIRA

Desobediência civil: Forma de protesto joga luz sobre as contradições entre legalidade e legitimidade.
Manifestação na Avenida Paulista dia 20 de junho de 2013. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

No dia 1° de dezembro de 1955, a costureira Rosa Parks ia para o trabalho de ônibus na cidade de Montgomery, capital do estado americano do Alabama, onde então vigorava uma lei de segregação racial no transporte público municipal. A lei dizia que as primeiras fileiras de assentos dos ônibus que circulavam pela cidade eram reservadas a passageiros brancos. 

Os negros eram obrigados a sentar-se na traseira dos veículos. Negra, Rosa Parks ocupava um assento no meio do ônibus quando foi abordada pelo motorista da condução, que pediu que ela e mais três passageiros negros desocupassem seus assentos para dar lugar a quatro passageiros brancos que haviam acabado de entrar no ônibus. Ao negar-se a ceder seu assento, Rosa foi presa e fichada. Seu ato, porém, entraria para a história do movimento pelo fim da segregação racial nos Estados Unidos, ao servir de estopim a um boicote organizado pela população negra aos ônibus urbanos de Montgomery em protesto contra a lei injusta, que acabaria sendo revogada pela Suprema Corte americana no final do ano seguinte.

Hoje, é praticamente impossível encontrar quem conteste a legitimidade da atitude de Rosa Parks ao infringir a lei de segregação racial nos ônibus de Montgomery. Seu ato ajudou a chamar a atenção para as injustiças sofridas pela população negra dos Estados Unidos, em uma época em que o racismo era amparado na lei. Ao negar-se a cumprir uma lei injusta, e ser presa por isso, Rosa fez uso da chamada desobediência civil, forma de protesto que joga luz sobre as contradições muitas vezes existentes entre legalidade e legitimidade no campo jurídico.

E a desobediência civil tem raízes profundas na história. No livro ‘O que é desobediência civil’, o professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Evaldo Vieira lembra que no rol das personagens históricas que desafiaram a ordem vigente por meio do descumprimento de determinadas leis figuram nomes como o do filósofo grego Sócrates, que viveu no século 5 a.C. Sócrates preferiu a morte ao exílio depois de ser julgado por um tribunal de Atenas que o acusou de subversivo, por pregar ideias contrárias às tradições e crenças religiosas dos atenienses de então.

No entanto, escreve Evaldo, o conceito ganhou forma a partir das revoluções liberais do século 18, que consagraram ideais que estão na base dos Estados nacionais modernos. Entre eles está a ideia de que todos os cidadãos são iguais perante a lei – expressão da vontade geral – e de que todos têm direito de participar de sua formatação, seja diretamente ou por meio de representantes eleitos. 

Consubstanciados nos textos das constituições de diversos países – inclusive na do Brasil – e em inúmeros acordos internacionais de direitos humanos, esses ideais servem muitas vezes de parâmetro para definir quando é legítimo desobedecer a uma lei, ainda que seja impossível estabelecer em um texto jurídico a desobediência civil, já que ela pressupõe o descumprimento da lei. No artigo ‘A desobediência civil como defesa da Constituição’, Maria Garcia, professora de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), conceitua a desobediência civil como “a forma particular de resistência ou contraposição, ativa ou passiva do cidadão, à lei ou ato de autoridade, quando ofensivos à ordem constitucional ou aos direitos e garantias fundamentais, objetivando a proteção das prerrogativas inerentes à cidadania”. Para a professora, a desobediência civil é “um instrumento ativo do cidadão no exercício do poder e, portanto, instrumento da democracia”.

Exemplos de desobediência civil

E é com base na Constituição Federal de 1988 que o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Carvalho Rosa legitima a ação de movimentos sociais que têm, historicamente, se utilizado da desobediência civil como forma de reivindicar direitos. É o caso das ocupações de terra promovidas pelos movimentos que lutam pela realização de uma reforma agrária no país, que problematizam o direito à propriedade da terra. “A relação das ocupações com o direito constitucional fica clara quando percebemos que os números desse tipo de mobilização cresceram exponencialmente no Brasil após a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à Reforma Agrária, previstos no capítulo III, título VII, da Constituição Federal. 

Aprovada em 1993, a lei 8.629 define critérios de produtividade e de uso do solo em propriedades rurais para que elas sejam consideradas produtivas. A mesma lei também define formas de desapropriação e distribuição de terras consideradas improdutivas ou que não cumprem sua função social”, escreve Marcelo, no verbete ‘Ocupações de Terra’ do Dicionário da Educação do Campo, editado pela EPSJV/Fiocruz em parceria com a Expressão Popular. 

Nesse sentido, continua o autor, ainda que seja pejorativamente chamada de “invasão” pelas classes proprietárias, denotando sua ilegalidade, a ocupação tem servido para “promover o direito de acesso à terra para quem deseje fazer um uso social justo de sua propriedade”, e para “estabelecer limites ao direito de propriedade em casos de uso meramente especulativo do solo brasileiro, de cultivos ilegais e da exploração ilegal de trabalhadores (trabalho escravo)”.

Miguel Baldez, procurador aposentado do Estado do Rio de Janeiro e professor da Universidade Cândido Mendes, argumenta que as ocupações ampliam a possibilidade de aquisição da terra num contexto em que o ordenamento jurídico se coloca como obstáculo para a efetivação desse direito pelos trabalhadores. “Se você fizer uma avaliação jurídica, vai perceber que são poucos e inacessíveis aos trabalhadores os meios de aquisição da propriedade no Brasil. 

O registro imobiliário, ou seja, a compra e venda, que exige disponibilidade de dinheiro; a sucessão hereditária, que serve para consolidar patrimônios já formados; o usucapião, que foi democratizado, mas que serviu historicamente para engrossar o latifúndio; e a acessão. Não tem mais nenhuma maneira de entrar na propriedade no Brasil. O que o movimento sem-terra faz, com as ocupações, é promover um ato político de grandes efeitos jurídicos, ao negar os fundamentos do direito burguês, e criar um modo novo de aquisição da propriedade, baseado na posse coletiva da terra”, defende Baldez.

Outro exemplo de aplicação da desobediência civil por movimentos sociais são as ações das rádios comunitárias, no contexto da luta pela democratização da comunicação no Brasil. “Nós entendemos a comunicação como um direito humano e a partir disso lutamos para que cada país garanta esse direito com suas leis e políticas públicas. Em muitos países, como o Brasil, no entanto, esse direito é criminalizado. Por isso defendemos que a população também exerça seu direito humano à comunicação, que é garantido por acordos internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante a liberdade de expressão e o direito à comunicação no seu artigo 19”, explica o jornalista Arthur Willian, integrante da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc).

Segundo ele, no caso do Brasil, a desobediência civil é, de uma forma ou de outra, utilizada por praticamente todas as rádios comunitárias, uma vez que a lei criada para regulamentar a radiodifusão comunitária no país – a lei 9.612/98 – coloca inúmeros obstáculos para o funcionamento das rádios comunitárias. Segundo Arthur, hoje existem 10 mil rádios comunitárias operando na ilegalidade no país. “A lei não veio no sentido de garantia e sim para restringir. 

Ela foi feita sob medida para os empresários de comunicação, para que as rádios comunitárias, que vinham crescendo naquele momento, ficassem limitadas, virassem sinônimo de rádio pequena, pobre, de baixa audiência”, critica, para em seguida enumerar os critérios da lei que, na prática, inviabilizam o funcionamento das emissoras. “A lei diz, por exemplo, que as rádios comunitárias devem operar fora das frequências das rádios comerciais, que vai de 88 MHz até 108 MHz no Brasil e em boa parte do mundo. 

Então, a maioria dos aparelhos nem pega frequências fora desse espectro. No Brasil as rádios comunitárias, pela lei, funcionariam em 87,5, 87,7, 87,9 MHz. Ou seja, elas foram feitas para que ninguém as ouça”, avalia. Além disso, a lei obriga que as rádios comunitárias operem com transmissores de, no máximo 25 W de potência – 10 mil vezes menor do que a de uma rádio comercial – e um km de alcance. “Posso ter uma comunidade como uma favela pequena em que uma rádio com 25W e um km de raio sirva, mas se eu tenho uma comunidade indígena ou quilombola, ou mesmo uma cidade que não tenha nenhuma emissora, como Arraial do Cabo [RJ], por exemplo, isso não é suficiente”, explica. 

A lei proíbe ainda que as emissoras comunitárias veiculem publicidade comercial o que, para Arthur, reflete o receio das emissoras comerciais de perderem anunciantes para as comunitárias. “Quase todas fazem a publicidade do comércio local, porque o pequeno comerciante não tem dinheiro para anunciar nas grandes rádios. A rádio comunitária poderia ser um veiculo de incentivo à economia local, mas mesmo o pequeno anunciante não pode pela lei anunciar. Para que a rádio e o comércio local não morram, as rádios anunciam publicidade do comércio local e são perseguidas por causa disso, têm que pagar multa de R$ 5 mil e muitas vezes têm sua licença cassada”, argumenta. 

Nesse contexto, diz Arthur, são frequentes os casos de rádios comunitárias que são levadas a descumprir o que diz a lei para conseguirem funcionar. Arthur explica que o uso de transmissores mais potentes, a transmissão em faixas de frequência proibidas pela lei e também a operação sem licença do poder público — uma vez que em muitos casos os processos de legalização demoram mais de dez anos para serem concluídos — são estratégias adotadas pelas rádios comunitárias para se manter em funcionamento, ainda que à revelia da lei.

Novo direito

Mas para Miguel Baldez há um limite para o que a desobediência civil é capaz de alcançar em termos de incorporação das demandas dos trabalhadores ao universo das leis. O professor argumenta que isso se dá porque, numa sociedade de classes como a que vivemos, o direito é a principal forma de controle dos trabalhadores pelas classes dominantes. Para Baldez, mais do que um instrumento para pressionar pela efetivação de direitos previstos na legislação brasileira, a desobediência civil deve ser uma forma de os movimentos tensionarem os limites do direito liberal no que se refere aos trabalhadores. “Ninguém com bom senso teria dúvida de que vivemos em um sistema de classes. Nesse sentido entendo a desobediência civil como a proposta de um novo direito, que nasce da luta dos trabalhadores contra um sistema excludente ancorado num ordenamento jurídico construído em função da dominação de uma classe”, afirma Baldez.

Por André Antunes.