Venezuelanos aquecem mercado ilegal
devido ao desabastecimento.
A escassez de produtos da
cesta básica na Venezuela tem levado a população a criar alternativas para
driblar a carência de alguns produtos. Substituição e troca de alimentos, além
de compras no mercado ilegal, são algumas medidas adotadas pelos venezuelanos.
O índice de escassez, calculado pelo Banco
Central da Venezuela (BCV), manteve-se na faixa de 20% no ano passado. O
relatório de janeiro de 2014 apontou um índice de 26,2%, demonstrando que a
situação se tornou parte do cotidiano da população.
De maneira geral, os produtos mais escassos são
justamente os da cesta básica, como o açúcar, o leite, a carne, o arroz, o
frango, o papel higiênico, o óleo, o sabonete, o sabão em pó e o creme dental.
Para conhecer o dia a dia dos venezuelanos, a Agência Brasil
conversou com moradores de Caracas, capital, e de San Cristóbal, Táchira, na
Região Andina.
Alguns habitantes de Táchira, estado fronteiriço
com a Colômbia, dizem que mudaram hábitos alimentares e começaram a substituir
produtos. A dona de casa Jéssica Maldonado destacou que o cardápio do café da
manhã da família, por exemplo, varia conforme o que se encontra para a compra.
Ela conta que já não come arepa diariamente - uma espécie de pão cozido de
farinha de milho branco, tradicional no café da manhã do país.
Jéssica acrescentou que compra produtos regulados
- com preços tabelados e subsidiados pelo governo - nos supermercados estatais
e conveniados. Quando não encontra produtos com preços regulados, nem sempre
consegue pagar pelos vendidos no mercado ilegal. “O preço sobe até 30 vezes”,
ressaltou.
Com relação às mudanças no cardápio, ela disse
que a família acabou se acostumando. “Tem dia que comemos mandioca cozida no
café da manhã ou, então, tomamos sopa, algo que fazem por aqui, mas que não
fazíamos em casa. E eu controlo bem o que tem para comer, para não faltar. Dá
medo de um dia chegar na fila do mercado e não conseguir comprar nada. Até
sonho com isso”.
Além de alterar a rotina familiar, a escassez
impacta no setor comercial e afeta empresas e fábricas de alimentos,
especialmente panificadoras e restaurantes. A dona de uma padaria na rodoviária
de San Cristóbal, que não quis se identificar, relatou suas dificuldades.
“Quase não estamos conseguindo comprar farinha. O que chega aos supermercados é
controlado para a venda individual e as remessas para o comércio têm demorado a
chegar e, quando chegam, são insuficientes para atender todos os comerciantes”.
Segundo a comerciante, não é possível comprar
farinha em quantidade suficiente para a produção no mercado ilegal. “Mesmo que
tivesse a quantidade que precisamos seria impossível, porque o produto é
contrabandeado ou vendido irregularmente, é caríssimo”, explica. Ela disse que
um problema é a falta de regularidade na chegada do produto. “Não podemos nos
planejar com uma produção feita de forma irregular e acabamos demitindo
funcionários”, lamenta.
Em Caracas, comerciantes privados também reclamam
de dificuldades em manter estoques de produtos, como remédios e alimentos da
cesta básica, embora, com relação aos insumos para produção em padarias, por
exemplo, não se note de forma tão nítida, quanto no interior.
Entretanto, os preços estão altos e são
remarcados semanalmente. Na capital, os moradores falam da dificuldade de
comprar leite, café, açúcar, farinha, papel higiênico, carne e frango. Há
problemas tanto na rede privada, quanto nos mercados estatais.
"Não é que não tem nada aqui. Eu compro no
Mercal - mercado estatal subsidiado - e toda semana tem. Mas não chega em
quantidade e temos que comprar pouco e enfrentar filas", conta a ambulante
María del Rosario.
Com as dificuldades, na cidade também acontece a
troca de mercadorias. O taxista Ángel Muñoz, 54 anos, disse que se acostumou a
fazer permutas com vizinhos. Ele disse que às vezes troca café por leite em pó
e farinha de arepa. “Esta semana, depois de quase um mês sem ter café em casa,
trocamos meio quilo de leite em pó por café”.
Ángel ressaltou que está cansado da situação. Ele
conta que desde o início do governo de Hugo Chávez apoiava as mudanças
implementadas por acreditar que a população mais pobre estava sendo amparada
pelas políticas sociais do governo.
“Chávez redistribuiu a renda no país e fez com
que gente muito pobre, que nem sequer comia, começasse a ter três refeições por
dia. Isso não é propaganda política. De fato aconteceu”, comentou.
Fonte: NOTÍCIAS
AO MINUTO
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